Compilação de Elson C. Ferreira - Curitiba/2002
Ao estudarmos o ministério apostólico em seqüência imediata ao estudo da ascensão do Senhor do Monte das Oliveiras, afastamo-nos da ordem cronológica das diversas manifestações pessoais do Salvador aos mortais; porquanto, logo após sua despedida final dos apóstolos na Judeia ele visitou suas “outras ovelhas”, não pertencentes ao rebanho oriental , e cuja existência havia declarado no impressivo sermão a respeito do Bom Pastor e suas ovelhas. (João 10 : 6)
Aquelas outras ovelhas que deveriam ouvir a voz do Pastor e eventualmente ser feitas parte do rebanho unido, eram a nação nefita, descendentes de Leí que, com sua família e outras poucas pessoas, atravessaram o grande abismo (ou mar) em direção ao que agora conhecemos como Continente Americano, onde cresceriam para tornar-se um povo poderoso, ainda que dividido.
Os progenitores da nação nefita partiram de Jerusalém em 600 A.C., guiados por Leí, profeta judeu da tribo de Manassés. Sua família, na época da partida de Jerusalém, consistia na esposa, Sariah, e os filhos Lamã, Lemuel, Sam e Néfi; numa etapa posterior da história, são mencionados Jacó e José que nasceram durante a jornada pelo deserto, além que quê algumas filhas são mencionadas, mas não se sabe se haviam nascido antes ou depois do êxodo da família. Além dos seus, a colônia de Leí incluía Zoram e Ismael, este último um israelita da tribo de Efraim, que com sua família composta de, pelo menos a esposa, três filhas e alguns filhos, juntou-se a Leí no deserto; e seus descendentes foram contados entre a nação da qual estamos tratando. O grupo viajou em direção sudeste, mantendo-se perto das margens do Mar Vermelho; depois, mudando o curso para o leste, atravessou a península da Arábia; e lá, nas praias do Mar da Arábia, construiu e abasteceu um barco no qual se lançou às águas, confiando na proteção divina. A viagem levou-os na direção leste através do Oceano Índico, seguindo pelo Pacífico Sul em direção as costas ocidentais da América do Sul, onde desembarcaram em 590 A.C. O povo se estabeleceu na que, para eles, era a terra prometida; nasceram-lhes muitos filhos e filhas e, no curso de poucas gerações, numerosa posteridade habitava a terra.
Após a morte de Leí, verificou-se uma divisão entre o povo. Uns aceitaram Néfi como líder, que havia sido devidamente designado para o ofício profético, enquanto os demais proclamaram chefe a Lamã, o mais velho dos filhos de Leí. A partir daí, estes povos divididos foram conhecidos com nefitas e lamanitas, respectivamente. Havia ocasiões em que se observaram relações amistosas entre eles, mas geralmente estavam em disputa, e os lamanitas manifestavam ódio e hostilidade implacáveis a seus irmãos nefitas. Os nefitas progrediram nas artes da civilização, construindo grandes cidades e estabelecendo comunidades muito prósperas. Entretanto, caíam freqüentemente em transgressão, e o Senhor, para castigá-los, permitia que seus inimigos triunfassem sobre eles. Estenderam-se em direção ao norte, ocupando a região setentrional da América do Sul; cruzaram, então, o istmo, espalhando seus domínios pelo sul, centro e leste do que são hoje os Estados Unidos da América. Os lamanitas, aumentando em número, sofreram um anátema: sua pele tornou-se escura e seu espírito coberto de trevas, se esqueceram do Deus de seus pais e degeneraram até o estado decaído em que os índios americanos - seus descendentes diretos – foram encontrados por aqueles que redescobriram o continente ocidental, em época posterior.
A Morte do Senhor Assinalada por Calamidades no Continente Americano
O nascimento de Jesus em Belém havia sido dado a conhecer à nação nefita do hemisfério ocidental por divina revelação; e o feliz evento tinha sido marcado pelo aparecimento de uma nova estrela, por uma noite sem trevas, de maneira que os dois dias e a noite de permeio haviam sido como um único dia, e por outras ocorrências maravilhosas, todas preditas pelos profetas do mundo ocidental. Samuel, o Lamanita, que por sua fidelidade e boas obras se tornara profeta, poderoso em palavras e feitos, devidamente escolhido e comissionado por Deus, havia juntado às suas predições de ocorrências gloriosas que deveriam marcar o nascimento de Cristo, profecias de outros sinais – de escuridão, terror, e destruição – pelos quais seria assinalada a morte do Salvador na cruz (Helamam 14: 14-27). Cada uma das palavras proféticas concernentes aos fenômenos que deveriam acompanhar o nascimento do Senhor havia-se comprido, e muitos tinham sido levados por isso a crer em Cristo como o prometido Redentor; porém, como é comum entre aqueles cuja fé repousa em milagres, muitos dos nefitas “começaram a esquecer os sinais e maravilhas de que haviam ouvido falar; e admiravam-se cada vez menos com qualquer sinal ou maravilha dos céus, de modo que começaram a ficar duros de coração e cegos de entendimento e começaram a duvidar de tudo quanto haviam ouvido e visto”. (3 Néfi: 2:1)
O nascimento de Jesus em Belém havia sido dado a conhecer à nação nefita do hemisfério ocidental por divina revelação; e o feliz evento tinha sido marcado pelo aparecimento de uma nova estrela, por uma noite sem trevas, de maneira que os dois dias e a noite de permeio haviam sido como um único dia, e por outras ocorrências maravilhosas, todas preditas pelos profetas do mundo ocidental.
Samuel, o Lamanita, que por sua fidelidade e boas obras se tornara profeta, poderoso em palavras e feitos, devidamente escolhido e comissionado por Deus, havia juntado às suas predições de ocorrências gloriosas que deveriam marcar o nascimento de Cristo, profecias de outros sinais – de escuridão, terror, e destruição – pelos quais seria assinalada a morte do Salvador na cruz (Helamam 14: 14-27). Cada uma das palavras proféticas concernentes aos fenômenos que deveriam acompanhar o nascimento do Senhor havia-se comprido, e muitos tinham sido levados por isso a crer em Cristo como o prometido Redentor; porém, como é comum entre aqueles cuja fé repousa em milagres, muitos dos nefitas “começaram a esquecer os sinais e maravilhas de que haviam ouvido falar; e admiravam-se cada vez menos com qualquer sinal ou maravilha dos céus, de modo que começaram a ficar duros de coração e cegos de entendimento e começaram a duvidar de tudo quanto haviam ouvido e visto”. (3 Néfi: 2:1)
Trinta e três anos haviam transcorrido desde a noite iluminada e os demais sinais do advento do Messias, e então, no quarto dia do primeiro mês, ou de acordo com o nosso calendário, durante a primeira semana de abril, no ano trigésimo quarto, levantou-se uma grande e terrível tempestade, com trovões, relâmpagos, e sublevações e afundamentos da superfície da terra, de sorte que as estradas se romperam, montanhas fenderam-se, e muitas cidades foram totalmente destruídas por terremoto, fogo, e invasão do mar. Por três horas, o holocausto sem precedentes continuou, e depois caiu espessa escuridão, na qual se verificou ser impossível acender fogo; a pavorosa obscuridade era como a escuridão do Egito (Êxodo 10:21-23) no fato de que os vapores pegajosos podiam ser sentidos. Essa situação manteve-se até o terceiro dia, de maneira que uma noite, um dia e outra noite foram como uma só noite ininterrupta, e o negror impenetrável mais terrível se faziam pelos lamentos do povo, cujo estribilho de confranger o coração era, por toda parte, o mesmo: “Oh! nos tivéssemos arrependido antes deste grande e terrível dia ... !” (3 Néfi 8:5-25)
Então, varando a escuridão, veio uma Voz diante da qual o espantoso coro das lamentações humanas silenciou: “Ai, ai, ai, deste povo”, ressoou por toda a terra. A Voz proclamava crescentes ais, a menos que o povo se arrependesse. A destruição lhes havia sobrevindo por causa da iniqüidade, e o demônio alegrava-se com o número dos mortos, e a punitiva causa de sua destruição (3 Néfi cap. 9). A extensão da pavorosa calamidade foi referida em detalhe; cidades que se haviam incendiado com seus habitantes, outras que haviam mergulhado no mar, ainda outras sepultadas na terra, foram enumeradas; e a divina razão para aquela vasta catástrofe foi claramente explicada: para que a iniqüidade e as abominações do povo fossem varridas da face da terra. Os que tinham sobrevivido para ouvir foram declarados os mais justos dentre os habitantes, e foi-lhes oferecida esperança sob condição de arrependimento e reforma ainda mais completos.
A identidade da Voz foi dada a conhecer da seguinte forma: “Eis que sou Jesus Cristo, o Filho de Deus. Eu criei os céus e a terra e todas as coisas que neles há. Eu estava com o Pai desde o princípio.
Estou no Pai e o Pai está em mim, e em mim o Pai glorificou seu nome. Vim aos meus e os meus não me receberam. E as escrituras relativas a minha vinda cumpriram-se. E a todos os que me receberam permiti que se tornassem os filhos de Deus; e o mesmo farei a todos os que crerem em meu nome, pois eis que por mim vem a redenção e em mim cumpriu-se a lei de Moisés.” (3 Néfi 9: 15 - 17) Ordenou o Senhor ao povo que não mais o servisse com sacrifícios de sangue e ofertas queimadas, porque a lei de Moisés estava cumprida, e de então para diante o único sacrifício aceitável seria o coração quebrantado e o espírito contrito, e esses nunca seriam rejeitados. Ao humilde e ao arrependido, o Senhor receberia para si mesmo. “Eis que por estes dei minha vida e tomei-a de novo; por conseguinte, arrependei-vos e vinde a mim, ó vós, extremos da terra, e salvai-vos!”.
Calou-se a voz, e pelo espaço de muitas horas de contínua escuridão, as clamorosas lamentações se contiveram, porque o povo estava convicto de sua culpa, e silenciosamente pranteava, perplexo, em face do que havia ouvido, e antecipadamente esperançoso quanto à salvação oferecida. Pela Segunda vez a Voz se fez ouvir, como que pesarosa pelos que se tinham recusado a aceitar a ajuda do Salvador, porque seguidas vezes os protegera, e mais freqüentemente o teria feito se o desejassem, e ainda no futuro os acalentaria, “como a galinha reúne seus pintos sob suas asas”, caso se arrependessem e vivessem em retidão. Na manhã do terceiro dia, dispersou-se a escuridão, cessaram as perturbações sísmicas, e as tormentas se acalmaram. Sendo o manto levantado de sobre a terra, viu o povo a extensão das convulsões da terra e a amplitude de sua perda em parentes e amigos. Contritos e humilhados, lembraram-se das predições dos profetas, e souberam que as determinações de Deus haviam sido executadas sobre eles. (3 Néfi, cap. 3)
Cristo havia ressuscitado, e após ele, muitos dos justos falecidos no continente ocidental levantaram-se de seus túmulos, e apareceram como seres ressurretos e imortalizados entre os sobreviventes da destruição que atingira a terra; da mesma forma como na Judéia, muitos dos santos tinham sido ressuscitados imediatamente após a ressurreição de Cristo.
Primeira Visitação de Jesus Cristo aos Nefitas
Cerca de um mês e meio ou mais depois dos eventos acima considerados, uma grande multidão de nefitas havia-se reunido no templo, na terra chamada Abundância, que abrangia parte norte da América do Sul, estendendo-se até o istmo do Panamá; ao norte limitava-se com a Terra de Desolação, que abrangia a América Central, e mais tarde na história nefita, uma região indefinida ao norte do istmo. Eles estavam gravemente comentando uns com os outros as grandes mudanças por que havia passado a terra, e particularmente a respeito de Jesus Cristo, de cuja morte expiatória os sinais preditos haviam sido testemunhados em todos os seus trágicos detalhes (3 Néfi 10:18 – tenha-se em mente que a ascensão de Cristo aconteceu quarenta dias depois da ressurreição). O espírito dominante da reunião era de arrependimento e reverência. Enquanto assim estavam congregados, ouviram um som como que de uma Voz, vindo do alto, porém tanto uma Segunda quanto uma terceira manifestação foram-lhes ininteligíveis.
Como escutassem em embevecida concentração, a Voz fez-se ouvir pela terceira vez, dizendo-lhes: “Eis aqui meu Filho Amado, em quem me comprazo e em quem glorifiquei meu nome – Ouví-o” (3 Néfi 11:7).
Enquanto fitavam o alto em reverente expectação, viram um Homem, vestido de brancas vestes que descia e se colocava no meio deles, e que lhes falou, dizendo: “Eis que eu sou Jesus Cristo, cuja vinda ao mundo foi testificada pelos profetas. E eis que eu sou a luz e a vida do mundo; e bebi da taça amarga que o Pai me dei e glorifiquei o Pai, tomando sobre mim os pecados do mundo, no que me submeti à vontade do Pai em todas as coisas desde o princípio;” (3 Néfi 11: 10-11) A multidão prostrou-se em adoração, pois lembrava-se de que seus profetas haviam previsto que o Senhor apareceria entre eles depois de sua ressurreição e ascensão. (3 Néfi 11:12)
Determinando-o ele, o povo levantou-se e, um por um, achegaram-se, viram e tocaram as marcas dos cravos em suas mãos e pés, bem como o ferimento de lança em seu lado. Movidos a proclamarem sua adoração, a uma só voz clamaram: “Hozana! Bendito seja o nome do Deus Altíssimo!” (3 Néfi 11:17) E caindo então aos pés de Jesus, adoraram-no.
Chamando Néfi e os onze outros para que se aproximassem, o Senhor deu-lhes autoridade para batizar o povo depois de sua partida, e prescreveu a maneira do batismo com particular advertência contra disputas em relação ao assunto, ou alterações da forma determinada, conforme testificam as palavras do Senhor: “Desta maneira batizareis; e não haverá disputas entre vós. Em verdade vos digo que desta forma batizareis todos os que se arrependerem de seus pecados pelas vossas palavras e desejarem ser batizados em meu nome – Eis que descereis à água e em meu nome os batizareis. E eis que estas são as palavras que devereis dizer, chamando-os pelo nome: Tendo autoridade que me foi concedida por Jesus Cristo, eu te batizo em nome do Pai e do filho e do Espírito Santo. Amém. Então os imergireis na água e depois saireis novamente da água. E desta maneira batizareis em meu nome, pois eis que em verdade vos digo que o Pai e o Filhos e o Espírito Santo são um; e eu estou no Pai e o Pai em mim; e o Pai e eu somos um. E segundo o que vos ordenei, assim batizareis; e não haverá disputas entre vós, como até agora tem havido; nem haverá disputas entre vós sobre os pontos de minha doutrina como até agora tem havido. (3 Néfi 11:23-28)
O povo em geral, e particularmente os Doze, escolhidos como acima descrito, foram advertidos de maneira impressiva contra disputas sobre assuntos de doutrina, o que foi declarado provir do espírito do demônio, “que é o pai da discórdia”. A doutrina de Jesus Cristo foi estabelecida em resumo simples mas compreensível, nas seguintes palavras: “Eis que em verdade, em verdade vos digo que eu vos declararei minha doutrina. E esta é minha doutrina e é a doutrina que o Pai me deu; e dou testemunho do Pai e o Pai dá testemunho de mim e o Espírito Santo dá testemunho do Pai e de mim; e eu dou testemunho de que o Pai ordena a todos os homens, em todos os lugares, que se arrependam e creiam em mim. E os que crerem em mim e forem batizados, esses serão salvos; e eles são os que herdarão o reino de Deus. E os que não crerem em mim e não forem batizados, serão condenados. (3 Néfi 11: 31-34, comparar com Mateus 16:15)
Arrependimento e humildade semelhante à da criança inocente e confiante, eram indispensáveis para o batismo, sem o qual ninguém poderia herdar o reino de Deus. Com agudez e simplicidade que haviam caracterizado seus ensinamentos na Palestina, o Senhor assim instruiu os seus Doze recém-escolhidos:
“Em verdade, em verdade vos digo que esta é minha doutrina e os que edificam sobre isto edificam sobre minha rocha; e as portas do inferno não prevalecerão contra eles. E aqueles que declararem mais ou menos do que isto e estabelecerem-no como minha doutrina, esses vêm do mal e não edificam sobre a minha rocha, mas edificam sobre um alicerce de areia; e as portas do inferno estarão abertas para recebê-los quando vierem as inundações e os ventos açoitarem-nos. Portanto, dirigi-vos a este povo e declarai as palavras que eu disse, até os confins da terra. (3 Néfi 11 39:41)
Voltando-se para a multidão, Jesus admoestou-os a que dessem ouvidos aos ensinamentos dos Doze, e continuou com um discurso que abrangia os sublimes princípios que ensinara aos judeus no Sermão da Montanha. As bem-aventuranças, a oração dominical, e o mesmo esplêndido conjunto de enobrecedores preceitos foram apresentados, e a mesma riqueza de comparações atuantes, e de ilustrações adequadas aparece, tanto na versão de Néfi quanto na de Mateus, deste incomparável discurso; mas uma significativa diferença se observa em todas as referências ao cumprimento da lei mosaica, porquanto onde as escrituras judaicas registram as palavras do Senhor apontando para um cumprimento ainda incompleto, as expressões correspondentes na narrativa nefita encontram-se no passado, tendo a lei sida já cumprida em sua totalidade por intermédio da morte e ressurreição de Cristo.
Desse modo, aos judeus dissera Jesus: “até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido;” mas aos nefitas declarou: “Pois em verdade vos digo que nenhum jota ou til foi omitido da lei, mas em mim toda ela foi cumprida” (3 Néfi 12:18)
Muitos se admiravam com o assunto, imaginando o que o Senhor desejaria que fizessem em relação à lei de Moisés; “porque não compreendiam a afirmação de que as coisas antigas haviam passado e todas as coisas haviam-se tornado novas” (3 Néfi 15:2). Jesus, conhecedor da perplexidade deles, proclamou com clareza ser o próprio doador da lei, que por ele fora cumprida e, portanto ab-rogada. A afirmação é particularmente explícita: “Eis que vos digo que a lei dada a Moisés foi cumprida. Eis que eu sou aquele que deu a lei e eu sou aquele que fez convênio com meu povo, Israel; porquanto a lei se cumpre em mim, porque eu vim para cumprir a lei; conseqüentemente, ela tem um fim. Eis que não destruo os profetas, porque todos os que não se cumpriram em mim, em verdade vos digo, serão todos cumpridos.
E porque vos disse que as coisas antigas passaram, não anulo o que foi dito a respeito das coisas que estão para vir. Porque eis que o convênio que fiz com meu povo ainda não se cumpriu completamente; mas a lei que foi dada a Moisés tem o seu termo em mim.”
Dirigindo-se aos Doze, afirmou que nunca o Pai lhe havia ordenado informar aos judeus a respeito da existência dos nefitas, senão indiretamente ao mencionar outras ovelhas, não do rebanho judaico; e como, “por causa da obstinação e incredulidade”, haviam falhado em compreender as suas palavras, o Pai lhe ordenara que não dissesse mais nada com referência, nem aos nefitas, nem ao terceiro rebanho, compreendendo “as outras tribos da casa de Israel, que o Pai conduziu para fora do país.” Aos discípulos nefitas, Jesus ensinou muitos outros assuntos que haviam sido negados aos judeus, que, por não estarem preparados para receber, tinham sido deixados em ignorância. Até mesmo os apóstolos judeus haviam suposto erroneamente que as “outras ovelhas” fossem as nações gentias, não compreendendo que a divulgação do Evangelho aos gentios era parte da missão particular deles próprios, esquecidos do fato de que nunca Cristo se manifestaria pessoalmente aos que não pertencessem à casa de Israel. Inspirados pelo Espírito Santo e sob a ministração de homens comissionados e enviados, ouviriam os gentios a palavra de Deus; mas não teriam direito à manifestação pessoal do Messias (3 Néfi 15:11-24). Grandes, contudo, serão as misericórdias e bênçãos do Senhor aos gentios que aceitam a verdade, pois que a eles o Espírito Santo prestará testemunho do Pai e do Filho; e todos dentre eles que obedecerem às leis e ordenanças do Evangelho, serão contados com a casa de Israel. A conversão deles e a sua absorção entre os que pertencem ao Senhor, dar-se-á individualmente, e não como nações, tribos ou povos. (3 Néfi 16: 4-20)
O povo em adoração, contando cerca de duas mil e quinhentas almas, julgou que Jesus estava para partir, e em lágrimas ansiava por que permanecesse. Ele os confortou com a promessa de que retornaria no dia seguinte, e admoestou-lhes que ponderassem as coisas que lhes havia ensinado e que orassem em seu nome ao Pai, pedindo por entendimento. Tendo já informado aos Doze, declarou agora ao povo que se mostraria e ministraria “`as tribos perdidas de Israel, porque não estão perdidas para o Pai, pois ele sabe para onde as levou.” (3 Néfi 17:4) Manifestando a compaixão que sentia, o Senhor ordenou ao povo que fosse buscar os seus aflitos, o aleijados, coxos, mutilados, cegos e surdos, os leprosos e os paralíticos, e quantos lhe foram trazidos, curou-os a todos. Então, como ordenara, os pais trouxeram seus filhos pequeninos, e os colocaram em círculo ao seu redor. A multidão ajoelhou-se em oração, e Jesus orou por eles, “E não há língua que possa expressar nem homem que possa escrever nem pode o coração dos homens conceber coisas tão grandes e maravilhosas como as que vimos e ouvimos Jesus dizer; e ninguém pode calcular a extraordinária alegria que nos encheu a alma na ocasião em que o vimos orar por nós ao Pai.” (3 Néfi 17: 17) Concluída a prece, Jesus pediu à multidão que se levantasse, e prazenteiramente exclamou: “Bem-aventurado sois por causa de vossa fé. E agora, eis que é completa a minha alegria.” Jesus chorou, e tendo tomado as criancinhas, uma a uma, abençoou-as, orando ao Pai por elas.
“E depois de haver feito isso, chorou de novo; e dirigindo-se à multidão, disse-lhes: Olhai para vossas criancinhas. E ao olharem, lançaram o olhar ao céu e viram os céus abertos e anjos descendo dos céus, como se estivessem no meio do fogo; e eles desceram e cercaram aqueles pequeninos e eles foram rodeados por fogo; e os anjos ministraram entre eles. E a multidão viu, ouviu e deu testemunho; e sabem que seu testemunho é verdadeiro, porque todos viram e ouviram cada homem por si mesmo; e eram cerca de duas mil e quinhentas almas, entre homens, mulheres e crianças.”(3 Néfi 17: 22-24)
O Senhor Jesus mandou buscar pão e vinho, e fez com que o poso se assentasse. Tendo partido o pão, abençoou-o, e deu-o aos Doze; e estes, tendo comido, distribuíram o pão à multidão. Tendo sido o vinho abençoado, todos partilharam; primeiro os Doze e depois o povo. Com impressividade semelhante à da instituição do sacramento da Ceia do Senhor entre os apóstolos em Jerusalém, Jesus tornou clara a santidade e o significado da ordenança, dizendo que seria dada a autoridade para sua futura administração, e que dela deveriam participar todos os que tivessem sido batizados em fraternidade com Cristo, e deveria ser observada sempre em memória dele: o pão como símbolo sagrado de seu corpo, e o vinho em sinal do seu sangue que havia derramado. Por mandamento expresso, o Senhor proibiu o sacramento do pão e do vinho a todos os que não fossem dignos: “Porque todo aquele que come e bebe da minha carne e do meu sangue indignamente, como e bebe condenação para sua alma; portanto, se souberes que um homem é indigno de comer e beber da minha carne e do meu sangue, vós lho proibireis” (3 Néfi 18: 29). Contudo, o poro foi proibido de expulsar de suas assembléias aqueles de quem se retirasse o sacramento, se acontecesse que se arrependessem e buscassem integração pelo batismo (3 Néfi 18:32)
A necessidade da oração foi explicitamente acentuada pelo Senhor, tendo sido dado aos Doze e à multidão, separadamente, mandamento de orar. Súplicas individuais, devoção familiar, e adoração em congregação foram assim prescritos:
“Portanto deveis sempre orar ao Pai em meu nome. E tudo quanto pedirdes Pai em meu nome, que seja justa, acreditando que recebereis, eis que vos será dado. Orai ao Pai no seio de vossa família, sempre em meu nome, a fim de que vossas mulheres e vossos filhos sejam abençoados. E eis que vos reunireis com freqüência; e a ninguém proibireis que se chegue a vós quando vos reunirdes, mas permitireis que se cheguem a vós e não lhes proibireis. Mas orareis por eles e não os expulsareis; e se acontecer que se cheguem a vós freqüentemente, orareis por eles ao Pai, em meu nome” (3 Néfi 18: 19-23)
O Senhor tocou então a cada um dos Doze com a mão, investindo-os, em palavras que não foram ouvidas pelos demais, com poder para conferir o Espírito Santo pela imposição das mãos a todos os crentes arrependidos e batizados (3 Néfi 18:36-37). Tendo concluído a ordenação dos Doze, uma nuvem desceu sobre o povo, de maneira que o Senhor ficou oculto a seus olhos; entretanto, os doze discípulos “viram e testificaram que ele novamente ascendera aos céus”.
Segunda Visitação de Cristo aos Remanescentes do Povo Nefita
No dia seguinte, reuniu-se multidão ainda maior, na expectação da volta do Salvador. Durante a noite, mensageiros haviam espalhado as gloriosas notícias da aparição do Senhor, e de sua promessa de novamente visitar seu povo. Tão numerosa era a reunião, que Néfi e seus companheiros fizeram com que o povo se separasse em doze grupos, a cada um dos quais um dos discípulos foi designado para instruir e orientar em oração. O motivo das súplicas era que o Espírito Santo lhes fosse dado. Guiado pelos discípulos escolhidos, o inumerável ajuntamento aproximou-se da água, e Néfi, adiantando-se em primeiro lugar, foi batizado por imersão; batizou ele então os outros onze que Jesus havia escolhido. Tendo os Doze saído da água, “ficaram cheios do Espírito Santo e fogo” (3 Néfi 19:13). E eis que eles foram envolvidos por uma coisa que lhes parecia fogo, descida dos céus, e a multidão presenciou esse fato e testificou-o; e desceram anjos dos céus e falaram a eles, ministrando-lhes. E aconteceu que, enquanto os anjos ministravam aos discípulos, eis que Jesus veio e parando no meio deles, ministrou-lhes.
Dessa maneira apareceu Jesus no meio dos discípulos e dos anjos ministradores. Por ordem sua, ajoelharam-se os Doze e a multidão em prece, e oraram a Jesus, chamando-o Senhor seu, e seu Deus. Jesus afastou-se a uma pequena distância, e em atitude humilde, orou, dizendo em parte: “Pai, graças te dou por terem crido em mim que eu os escolhi dentre o mundo. Pai, rogo-te que dês o Espírito Santo a todos os que crerem em suas palavras.” Permaneciam ainda os discípulos em fervente oração a Jesus, quando ele retornou ao seu meio, e como os olhasse com sorriso misericordioso e aprovador, foram eles glorificados em sua presença, de modo que seus semblantes e vestimentas resplandeceram com brilho semelhante ao das feições e vestes do Senhor, de tal maneira que “não poderia haver nada na terra tão branco como sua brancura.” Por uma Segunda e por uma terceira vez, afastou-se Jesus e orou ao Pai; e quando o povo compreendeu o significado da oração, confessou e prestou testemunho de que “tão extraordinárias e maravilhosas foram as palavras por ele proferidas, que não podem ser escritas, nem podem ser proferidas por nenhum homem.” Rejubilou-se o Senhor na fé manifestada pelo povo, e disse aos discípulos: “Tão grande fé eu nunca vi entre todos os judeus; por este motivo não lhes pude mostrar tão grandes milagres, em virtude de sua incredulidade. Em verdade vos digo que nenhum deles viu coisas tão grandes como as que tendes visto; nem nunca ouviram tão grandes coisas com as que vós ouvistes.” (3 Néfi capítulo 19)
Administrou então o Senhor o sacramento da mesma forma como na véspera; mas tanto o pão como o vinho foram providenciados sem ajuda humana. A santidade da ordenança foi assim expressa: “Aquele que come deste pão, come do meu corpo para a sua alma; e aquele que bebe deste vinho, bebe do meu sangue para sua alma; e sua alma nunca sofrerá fome nem sede, mas permanecerá sempre satisfeita.”
Isso foi acompanhado de instruções concernentes ao povo do convênio, Israel, do qual os nefitas eram parte, e à relação que deveriam manter com as nações gentias no desenvolvimento do propósito divino. Declarou Jesus ser ele próprio aquele Profeta, cuja vinda Moisés havia predito. E o Cristo de quem todos os profetas haviam testificado. A supremacia temporária dos gentios pela qual se cumpriria a dispersão de Israel, e a eventual coligação do povo do convênio foi predita, com referências freqüentes aos pronunciamentos de Isaías a respeito (3 Néfi capítulo 20). O futuro dos descendentes de Leí foi pintado como uma degenerescência em incredulidade através do pecado, em conseqüência do que os gentios se desenvolveriam até tornar-se um poderoso povo no continente ocidental, embora aquela terra tivesse sido dada como final herança à casa de Israel. O estabelecimento da nação americana, então futura, porém atualmente existente, caracteriza-se com “um povo livre”, foi predito nas seguintes palavras, sendo os propósitos de Deus explicados a seu respeito: “Porque está na sabedoria do Pai que eles se estabeleçam nesta terra e sejam instituídos com um povo livre, pelo poder do Pai, para que estas coisas possam vir deles para o resto da vossa semente, a fim de que se cumpra a aliança que o Pai fez com seu povo, ó casa de Israel.” (3 Néfi 21:1-7)
Como um sinal do tempo em que a reunião dos diversos ramos de Israel, de sua longa dispersão, teria lugar, o Senhor especificou a prosperidade dos gentios na América, e sua ação em trazer as Escrituras aos degradados remanescentes da posteridade de Leí, ou seja aos índios americanos (3 Néfi 21:1-7). Foi deixado bem claro que todos os gentios que se arrependessem, e aceitassem o evangelho de Cristo por meio do batismo, seriam contados com o povo do convênio e feitos partícipes das bênçãos relativas ao últimos dias, em que a Nova Jerusalém seria estabelecida no continente americano. A jubilosa descrição de Israel coligado, conforme tinha sido dada anteriormente pela boca do profeta Isaías, foi repetida pelo Jeová ressurreto ao seu rebanho nefita (3 Néfi cap. 22, comparar com Isaías cap. 54).
Admoestando-os a que ponderassem as palavras dos profetas, que estavam registradas entre eles, e dessem ouvidos às novas Escrituras que dera a conhecer, e ordenando especialmente aos Doze que ensinassem ao povo mais a respeito das coisas que havia exposto, o Senhor informou-os das revelações dadas por intermédio de Malaquias, e determinou que fossem escritas (3 Néfi caps. 24 e 25, comparar com Malaquias caps. 3 e 4).
As profecias assim reiteradas por Aquele que havia inspirado Malaquias a falar naquela ocasião eram obviamente futuras, e até agora ainda não foram cumpridas em sua totalidade. O advento do Senhor, do qual estas Escrituras testificam, pertence ainda ao futuro; entretanto, esse tempo está próximo agora; esse “grande e terrível dia do Senhor”, como é atestado pelo fato de que Elias, que deveria vir antes daquele dia, apareceu no desempenho de sua comissão particular, de voltar os corações dos filhos vivos aos progenitores mortos, e os corações do pais já falecidos à sua posteridade ainda mortal (D&C 110:13-16).
O ministério pessoal de Cristo, na época de sua Segunda visitação, durou três dias, durante os quais deu ao povo muitas Escrituras, que anteriormente haviam sido dadas aos judeus, porquanto assim o Pai ordenara; e ele expôs-lhes os propósitos de Deus, desde o princípio até o tempo em que Cristo deveria voltar em sua glória: “E até o grande e último dia, em que todos os povos, famílias, nações e línguas se apresentassem perante Deus, para serem julgados por suas obras, fossem elas boas ou más; se tivessem sido boas, para a ressurreição da vida eterna; e se fossem más, para a ressurreição da condenação, ficando paralelamente uns de um lado e outros de outro, segundo a misericórdia, a justiça e a santidade que está em Cristo, o qual já existia antes do princípio do mundo.” Em ministração misericordiosa, curou seu rebanho ferido, e levantou um homem dentre os mortos. Em ocasiões posteriores, porém não especificadas, mostrou-se ele aos nefitas, e “repartiu muitas vezes o pão, que lhes dava depois de o haver abençoado” (3 Néfi 26: 4,5, 13-15).
Depois de sua Segunda ascensão dentre eles, o espírito de profecia manifestou-se entre o povo, estendendo-se até a crianças e infantes, muitos dos quais falaram de coisas maravilhosas, conforme o Espírito Santo lhes concedia falar. Os Doze entraram vigorosamente em seu ministério, ensinando a todos os que dessem ouvidos, e batizando aqueles que, através do arrependimento, buscavam comunhão com a Igreja. A todos os que assim cumpriam os requisitos do Evangelho o Espírito Santo foi conferido; e os que assim foram abençoados viviam em amor, e foram conhecidos como Igreja de Cristo (3 Néfi 26: 14 – 21)
Especial Visitação de Jesus Cristo aos Doze Escolhidos entre a Nação Nefitas
Sob a administração dos doze discípulos ordenados, a Igreja cresceu e prosperou na terra de Néfi, (ou Abundância, que abrangia a parte norte da América do Sul, estendendo-se até o istmo do Panamá. Ao norte, limitava-se com a Terra de Desolação, que abrangia a América Central, e, mais tarde na história nefita, uma região indefinida ao norte do istmo. O continente sul-americano em geral é chamado de Terra de Néfi, no Livro de Mórmon). Os discípulos, como testemunhas especiais de Cristo, viajavam, pregavam, ensinavam e batizavam todos os que professavam fé e demonstravam arrependimento. Certa ocasião os Doze estavam reunidos em “poderosa oração e jejum”, buscando esclarecimento sobre um assunto particular que, a despeito das advertências do Senhor contra as contendas, tinha dado origem a disputas entre o povo. Enquanto suplicavam ao Pai em nome do Filho, Jesus apareceu no meio deles e perguntou-lhes: “O que desejais que eu vos dê?” A resposta foi: “Senhor, desejamos que nos diga o nome que devemos dar a esta igreja, porque há controvérsias entre o povo a respeito desse assunto.Eles haviam chamado, provisoriamente, a comunidade de crentes batizados de Igreja de Cristo, mas, aparentemente, esse nome verdadeiro e distinto não havia sido aceito de maneira geral e sem problemas.
E o Senhor prosseguiu: “Em verdade, em verdade vos digo: Por que é que o povo murmura e discute sobre este assunto: Não leram as Escrituras, que dizem que deveis tomar o nome de Cristo, que é o meu nome? Porque por este nome sereis chamados no último dia. E todo aquele que tomar sobre si o meu nome e perseverar até o fim será salvo no último dia. Portanto tudo quanto fizerdes, vós o fareis em meu nome; por conseguinte, chamareis a igreja pelo meu nome; e invocareis o Pai em meu nome, a fim de que ele abençoe a igreja por minha causa. E como será a minha igreja, se não tiver o meu nome? Porque se uma igreja for chamada pelo nome de Moisés, então será a igreja de Moisés; ou se for chamada pelo nome de um homem, então será a igreja de um homem; mas se for chamada pelo meu nome, então será a minha igreja, desde que estejam edificados sobre o meu Evangelho. Em verdade vos digo que estais edificados sobre o meu Evangelho; portanto, tudo o que invocardes, invocai em meu nome; portanto, quando invocardes o Pai em favor da Igreja, se o fizerdes em meu nome, o Pai vos ouvirá; e se acontecer de a igreja estar edificada sobre o meu Evangelho, então o Pai manifestará nela as suas próprias obras. Todavia, se não estiver edificada sobre o meu Evangelho, mas edificada sobre as obras dos homens ou sobre as obras do diabo, em verdade vos digo que terão alegria em suas obras por um tempo, porque logo chegará o fim; e eles serão cortados e lançados no fogo. De onde não há retorno.
Porque suas obras os seguem, pois por causa de suas obras é que são cortados; portanto, lembrai-vos das coisas que vos disse.” (3 Néfi 27; 4-12) Por essa maneira, confirmou o Senhor como outorga autoritativa, o nome que, por inspiração, foi assumido por seus filhos obedientes: “A Igreja de Jesus Cristo”.
A explanação do Senhor quanto ao único nome pelo qual a Igreja poderia ser apropriadamente conhecida, é irresistível e convincente. Não se tratava da igreja de Leí ou Néfi, de Mosias ou Alma, de Samuel ou Helamã; se o fosse, deveria ser chamada pelo nome do homem a quem pertencesse, da mesma forma como atualmente existem igrejas denominadas segundo os homens, por exemplo, de Calvino, Lutero, Wesley, etc; sendo, porém, a Igreja estabelecida por Jesus Cristo, não poderia levar adequadamente nenhum outro nome senão o dele.
Reiterou, então, Jesus aos Doze nefitas muito dos princípios cardeais que havia dantes enunciado, tanto a eles quanto ao povo em geral; e ordenou que suas palavras fossem escritas, excetuando-se algumas comunicações mais elevadas que lhes proibiu de escrever. A importância de preservarem como um tesouro inapreciável as novas Escrituras foi-lhes demonstrada, com a afirmativa segura de que nos céus se guardavam registros de todas as coisas feitas por direção divina. Aos Doze foi dito que seriam os juízes do seu povo; e em face de tal investidura, foram admoestados à diligência e à devoção. (1 Néfi 12: 9) O Senhor alegrou-se com a fé e pronta obediência dos nefitas entre os quais havia ministrado, e às doze testemunhas especiais, disse: “E agora, eis que a minha alegria é grande, até a plenitude,, por causa de vós outros e também desta geração; sim, até o Pai se alegra , e também os santos anjos , por causa de vós e desta geração; porque nenhum deles está perdido. Eis que eu quisera que correspondêsseis, porque me refiro aos desta geração que estão agora vivos; e nenhum deles está perdido; e neles minha alegria é completa.” ( 3 Néfi 28 : 30 – 31 ) Sua alegria, contudo, era mesclada com tristeza por causa da apostasia em que as últimas gerações haveriam de cair; isto previa ele como uma condição terrível, que alcançaria seu clímax na quarta geração a partir daquele tempo. (3 Néfi 27: 32)
Crescimento da Igreja Seguido pela Apostasia da Nação Nefita
A Igreja de Jesus Cristo desenvolveu-se rapidamente na terra de Néfi, e trouxe a seus componentes fiéis bênçãos sem precedentes. Até a animosidade hereditária entre nefitas e lamanitas foi esquecida; e todos viviam em paz e prosperidade. Tão grande era a unidade da Igreja, que seus membros possuíam todas as coisas em comum, e “portanto, não havia ricos nem pobres nem escravos nem livres, mas eram todos livres e participantes do dom celestial ” (4 Néfi 1)
Populosas cidades tomaram o lugar das desoladas ruínas que haviam dominado, ao tempo da crucifixão do Senhor. A terra foi abençoada, e o povo alegrou-se em retidão. “E não havia contendas na terra, em virtude do amor a Deus que existia no coração do povo. E não havia invejas nem disputas nem tumultos nem libertinagens nem mentiras nem assassinatos nem qualquer espécie da lascívia; certamente não poderia haver povo mais feliz entre todos os povos criados pela mão de Deus” (4 Néfi 1: 15, 16).
Nove das doze testemunhas especiais escolhidas pelo Senhor passaram, no tempo determinado, para o descanso, e outros foram ordenados em lugar deles. O estado de abençoada prosperidade, e de posse em comum, continuou por um período de cento e sessenta e sete anos, porém logo depois surgiu uma transformação extremamente aflitiva. O orgulho expulsou a humildade, a ostentação de vestes custosas substituiu a simplicidade dos dias mais felizes; a rivalidade levou a contendas, e a partir daí “não mais tiveram seus bens e suas posses em comum. E começaram a dividir-se em classes; e começaram a organizar igrejas para sim mesmos, a fim de obter lucros; e principiaram a renegar a verdadeira igreja de Cristo” (4 Néfi 1: 25, 26).
As igrejas feitas pelos homens multiplicaram-se, e a perseguição, irmã verdadeira da intolerância, tornou-se generalizada. Os lamanitas de pele vermelha voltaram aos seus caminhos pervertidos, e criaram uma hostilidade assassina contra seus irmãos brancos, e todo tipo de práticas corruptas tornou-se comum entre ambas as nações. Por muitas décadas, os nefitas recuaram diante de seus violentos inimigos, abrindo caminho no rumo nordeste, através do que atualmente constitui os Estados Unidos da América. Por volta do ano 400 da Era Cristã, a última grande batalha foi travada perto da colina Cumorah, próximo de Manchester, no Condado de Ontario, Nova Iorque, EEUU; e a nação nefita foi extinta (Mórmon caps 1-9; Morôni cap. 10). O degenerado remanescente da posteridade de Leí, os lamanitas ou índios americanos, continuaram até o dia de hoje. Morôni, o último dos profetas nefitas, ocultou o registro de seu povo no monte Cumorah, de onde foi tirado, por orientação divina, na corrente dispensação. Esse registro está atualmente diante do mundo, traduzido pelo dom e poder de Deus, e publicado por “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” com o título de O Livro de Mórmon – Outro Testamento de Jesus Cristo.