Missão

Nossa missão é divulgar artigos de pesquisas científicas a respeito da arqueologia, antropologia, geografia, sociologia, cronologia, história, linguística, genética e outras ciências relacionadas à cultura de “O Livro de Mórmon - Outro Testamento de Jesus Cristo”.

O Livro de Mórmon conta a verdadeira história dos descendentes do povo de Leí, profeta da casa de Manassés que saiu de Jerusalém no ano 600 a.C. (pouco antes do Cativeiro Babilônico) e viajou durante 8 anos pelo deserto da Arábia às margens do Mar Vermelho, até chegar na América (após 2 anos de navegação).

O desembarque provavelmente aconteceu na Mesoamérica (região que inclui o sul do México, a Guatemala, Belize, El Salvador, Honduras, Nicarágua e parte de Costa Rica), mais precisamente na região vizinha à cidade de Izapa, no sul do México.

Esta é a região onde, presumem os estudiosos, tenha sido o local do assentamento da primeira povoação desses colonizadores hebreus.

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13 julho 2010

LITERATURA RELIGIOSA - A Bíblia Sagrada

Compilação de Elson C. Ferreira - Curitiba/2005
“A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” aceita a BÍBLIA SAGRADA como o principal de seus livros canônicos, o primeiro entre os livros que foram proclamados, como sua norma escrita quanto a fé e doutrina. Quanto à santidade com que consideram a Bíblia, os Santos dos Últimos Dias professam o mesmo que as denominações cristãs em geral, mas se distinguem delas por também admitirem como autênticas, outras escrituras que concordam com a Bíblia e servem para apoiar e fazer ressaltar seus fatos e doutrinas.

Os santos dos últimos dias aceitam os antecedentes históricos e demais dados sobre os quais a fé cristã de hoje se baseia, no que diz respeito à autenticidade dos anais bíblicos, tão incondicionalmente como os membros de qualquer seita ou igreja; e quanto à literalidade de interpretação esta Igreja provavelmente se sobressai.

Não obstante, tratando-se de uma tradução errônea, coisa que pode acontecer como resultado da incapacidade humana, a Igreja anuncia uma exceção; e não são os únicos nesta medida de precaução, porque os versados em matérias bíblicas geralmente admitem a existência de erros, tanto na tradução como na interpretação do texto. Os santos dos últimos dias crêem que os escritos originais são a palavra de Deus ao homem e consideram igualmente autênticos as traduções de tais escritos até onde seja correta a sua tradução. A Bíblia é uma tradução efetuada mediante a sabedoria do homem; tem-se procurado os mais doutos para seu preparo, e entretanto não se publicou uma só versão na qual se admita não haver erros. Contudo, o pesquisador imparcial tem mais motivos para maravilhar-se da escassez de erros do que de sua existência.

Não há e não pode haver uma tradução absolutamente fidedigna desta e de outras escrituras, a menos que se tenha feito por intermédio do Dom de tradução, como uma das dádivas do Espírito Santo. O tradutor deve Ter o espírito de profeta se deseja expressar em outro idioma as palavras do profeta; e a sabedoria humana, por si só, não conduz a esta possessão. Leia-se, pois, a Bíblia reverentemente e com cuidado e oração, buscando o leitor a luz do Espírito para poder sempre distinguir a verdade dos erros dos homens.

O Nome “Bíblia

O uso corrente o termo Santa Bíblia significa a coleção de escritos sagrados, também chamados escrituras hebraicas, os quais encerram a história das relações entre Deus e a família humana, história que se limita completamente, salvo no que diz respeito a fatos antediluvianos, ao hemisfério oriental. A palavra Bíblia é grega, acha-se no plural e significa, literalmente, livros. O uso da palavra data provavelmente do século IV, quando Crisóstomo empregou o termo para indicar as escrituras que os cristãos gregos aceitavam como canônicas naquele tempo. João Crisóstomo, um dos “padres cristãos” gregos, viveu em fins do século quarto. Era patriarca de Constantinopla, mas foi deposto e desterrado alguns anos antes de sua morte em 407. Sua aplicação da palavra “bíblia”, ao cânon das escrituras é uma das primeiras que até esta época foram encontradas. Rogou a seu povo com as palavras seguintes, que aproveitasse a riqueza das obras inspiradas: “Ouvi, todos que ainda pertenceis à vida secular, eu vos exorto a comprar a bíblia, a medicina da alma”. Referindo-se aos judeus cristãos, disse: “Eles têm a bíblia mas nós temos o tesouro da bíblia; eles têm as letras, nós as letras e o entendimento”. Deve-se notar que em cada um dos primeiros empregos da palavra Bíblia predomina o conceito de uma coleção de livros. As escrituras se compunham como ainda se compõem dos escritos especiais de muitos autores, em épocas muito afastadas; e a harmonia e unidade que prevalecem nessas diversas eras constituem forte evidência a favor de sua autenticidade.

Assim, pois, a palavra Bíblia recebeu um significado especial em grego, o de livros, santos, para distinguir as escrituras sagradas de outros escritos; e não tardou a generalizar-se a palavra em latim, no qual desde o princípio se empregou com seu significado especial. Devido ao uso que se lhe deu nessa língua, a expressão chegou a ser considerada, provavelmente durante o século XIII, com substantivo singular, que significa o livro. Este desvio do significado plural, invariavelmente associado com o termo no grego original, tende a obscurecer os fatos. Parecerá que a derivação de uma palavra é de pouca importância, mas neste caso a forma original e o primeiro uso que teve o título que hoje leva o volume sagrado devem ser de interesse instrutivo, já que derrama um pouco de luz sobre a compilação do livro em sua forma presente.

É evidente que a palavra Bíblia, com o significado que tem atualmente, não pode ser um termo bíblico. Seu uso como nome ou designação das escrituras hebraicas, nada tem a ver com as próprias escrituras. Em sua aplicação mais antiga, que data dos dias posteriores aos dos apóstolos, fazia-se incluir todos ou quase todos os livros do Antigo e do Novo Testamento. Antes do tempo de Cristo os livros do Antigo Testamento não tinham um só nome coletivo, mas eram designados por grupos como: (1) o Pentateuco ou os cinco livros da lei; (2) os Profetas; e (3) os Heliógrafos, nos quais estavam compreendidos todos os demais escritos sagrados não incluídos nas outras divisões. Podemos, porém, estudar melhor as partes da Bíblia se considerar as divisões principais separadamente. Ocorre uma divisão muito natural na narração bíblica devido ao ministério terreno de Jesus Cristo. O que foi escrito nos dias anteriores à era cristã veio a ser conhecido como o Antigo Pacto (I Coríntios 11:25, Jeremias 31:31-33) ou Convênio, e Novo Pacto o escrito no tempo do Salvador e nos dias que imediatamente se seguiram. Gradativamente se foi favorecendo a palavra Testamento até que as designações Antigo Testamento e Novo Testamento se tornaram de uso corrente.

O Antigo Testamento - Sua Origem e Desenvolvimento

No tempo do ministério de nosso Senhor na carne os judeus possuíam certas escrituras que tinham por canônicas ou autorizadas. Não pode haver muita dúvida quanto à autenticidade dessas obras, porque Cristo, assim como seus apóstolos, freqüentemente as citavam, chamando-as “as escrituras” (João 5:39). O Salvador referia-se expressamente a elas, conforme a classificação aceita, designando-as a lei de Moisés, os profetas e os salmos (Lucas 24:44). Os livros que o povo aceitava nos dias de Cristo às vezes são chamados o cânon judaico de escrituras. A palavra cânon, que hoje é de uso corrente, não indica livros que são simplesmente críveis, autênticos ou mesmo inspirados, mas aqueles que são aceitos como guias autorizados de profissão e prática. A derivação do termo é instrutiva. A palavra original grega, kanon, significava uma vara para medir, e assim chegou a representar uma norma de comparação, uma regra, uma prova, que se pode aplicar tanto a assuntos morais como a objetos materiais.

Quanto à composição do cânon judaico ou o Antigo Testamento, lemos que Moisés escreveu a primeira parte, isto é, a lei; que a deixou em mãos dos sacerdotes levitas, mandando que a guardassem na arca do convênio (Deuteronômio 31:9, 24-26), como testemunho contra Israel em suas transgressões. Prevendo que um dia um rei governaria Israel, Moisés mandou que o rei fizesse uma cópia da lei para sua instrução (Deuteronômio 17:18). Josué, sucessor de Moisés em algumas das funções relacionadas com o governo de Israel, escreveu algo mais sobre o que Deus havia feito com o povo e sobre os preceitos divinos, e evidentemente acrescentou esse documento aos livros da Lei que Moisés havia escrito (Josué 24:26). Três séculos e meio depois de Moisés, tendo a monarquia suplantado a teocracia, Samuel, o profeta reconhecido do Senhor, escreveu sobre a mudança “num livro e pô-lo perante o Senhor” (I Sam. 10:25). De maneira que posteriormente se aumentou a lei de Moisés com esses anais autorizados. Pelos escritos de Isaías ficamos sabendo que o Livro do Senhor estava ao alcance do povo, porque o profeta os admoestou a buscarem-no e lerem-no (Isaías 34:16). É evidente, pois que nos dias de Isaías o povo tinha autoridade escrita quanto à doutrina e prática.

Quase quatro séculos depois, enter 640 e 630 anos antes de Cristo, quando o justo rei Josias ocupava o trono de Judá, como parte de Israel dividida, Hilkias, o sumo sacerdote e pai do profeta Jeremias, encontrou no templo “livro da lei do Senhor” que se lia diante dos reis (2 Cron. 34:14, 15; Deuteronômio 31:26). Durante o quinto século antes de Cristo, nos dias de Esdras, o édito de Ciro permitiu que retornasse a Jerusalém o povo cativo de Judá (Esdras 1:1-3) – um remanescente do que em outros tempos havia sido a nação israelita unida – para reedificar ali o templo do Senhor, conforme a lei de Deus que então estava em mãos de Esdras (Esdras 7: 12-14). Disto podemos deduzir que nestes dias se conhecia a lei escrita; e geralmente se atribui a Esdras a compilação dos livros do Antigo Testamento que então existiam aos quais acrescentou o que ele mesmo havia escrito. Provavelmente o auxiliaram nesta tarefa Neemias e os membros da Grande Sinagoga, um colégio judeu de cento e vinte sábios (esta informação histórica se encontra em alguns dos livros apócrifos, veja II Esdras) Supõe-se que Neemias tenha escrito durante a vida de Esdras pelo menos uma parte do livro que leva seu nome, o qual é uma continuação dos anais de Esdras. Um século depois, Malaquias, o último dos profetas importantes que existiam antes da dispensação de Cristo, acrescentou sua mensagem, completando e, na realidade, encerrando o cânon anterior a Cristo com a promessa profética do Messias e do mensageiro cuja missão consistiria em preparar o caminho do Senhor, particularmente no que se refere aos últimos dias em que nos encontramos (Mal. 3 e 4).

Claro está que o Antigo Testamento cresceu com os anais sucessivos de escritores autorizados e inspirados, desde Moisés até Malaquias, e que sua recompilação foi um procedimento natural e gradativo, pois se depositou cada aditamento ou, como expressa o santo livro, “pôs-se diante do Senhor” para relacioná-lo aos escritos anteriores. Não há dúvida de que os judeus tinham conhecimento de muitos outros livros que não estão no Antigo Testamento que hoje temos. Nas próprias escrituras há muitas referências a esses livros, e estas indicam que se atribuía bastante autoridade a esses documentos que não estão compreendidos no cânon. Trataremos mais desse assunto quando considerarmos os livros apócrifos. As numerosas referências que seus livros posteriores fazem aos primeiros, testemunham da autenticidade do Antigo Testamento, assim como as muitas citações do Antigo Testamento que aparecem no Novo Testamento. Foram contadas umas duzentas e trinta citações ou referências diretas, e, à parte estas, se encontram centenas de alusões menos diretas.

A linguagem do Antigo Testamento

Quase todos os livros do Antigo Testamento foram escritos originalmente no idioma hebraico. Pessoas versadas em matérias bíblicas afirmam Ter descoberto evidências de que pequenas partes dos livros de Esdras e Daniel foram escritas no idioma caldeu; mas, por prevalecer o hebraico como linguagem das escrituras originais, foi dado ao Antigo Testamento o nome comum de cânon judeu ou cânon hebraico. Foram reconhecidas duas versões do Pentateuco, a hebraica e a samaritana, tendo essa última sido preservada pelos samaritanos, inimigos dos judeus, nos caracteres mais antigos dos hebreus. Em sua valiosa série de conferências sobre assuntos bíblicos, o irmão David McKenzie apresentou o seguinte, com alusão aos escritos de Horne: “Novecentos e setenta anos antes de Cristo, a nação de Israel se dividiu em dois reinos. Ambas as divisões retiveram o mesmo livro da lei. A rivalidade entre uns e outros evitou que alterassem a lei ou se lhe acrescentassem. Depois que Israel foi levada à Assíria, outras nações ocuparam Samaria. Estas receberam o Pentateuco (II Reis 17: 16-28). O fato de falarem o hebraico ou fenício, enquanto a cópia judaica do Pentateuco foi  mudada para o caldaico, facilitou as alterações e corrupções, mas os textos permanecem quase idênticos.

A Septuaginta e o Peshito

Reconhecemos em primeiro lugar a importante tradução do cânon hebraico conhecida como a versão da Septuaginta que foi uma versão grega do Antigo Testamento, traduzida do hebraico por solicitação de um monarca egípcio, provavelmente Ptolomeu Filadelfo, aproximadamente no ano 286 antes de Cristo. Foram expressas várias opiniões para explicar o nome da Versão dos Setenta. Uns dizem que Ptolomeu Filadelfo solicitou a Eleazer, o sumo sacerdote, uma cópia das escrituras hebraicas e seis eruditos judeus de cada tribo (setenta e dois ao todo) que fossem competentes para traduzir para o grego. Encerraram estes homens na Ilha de Faros e em setenta e dois dias completaram a tarefa. À medida que ditavam, Demétrio Falério, bibliotecário do rei, copiava, mas isto é atualmente considerado uma fábula. Outros dizem que estes mesmos intérpretes, após terem sido encerrados em quartos separados, escreveram cada qual uma tradução; e tão extraordinariamente coincidiram todos em sua expressão, como também em sentido, que se tomou isto como evidência de inspiração do Espírito Santo. Também esta opinião foi descartada como demasiadamente extravagante. É possível que tenham sido utilizados setenta e dois escritores na tradução; o mais provável é que tenha recebido o nome de “Versão dos Setenta” por ter sido aprovado pelo sinédrio judeu, que se compunha de setenta e duas pessoas. Certo é que a Septuaginta, indicada às vezes pelos números romanos LXX, foi a versão aceita pelos judeus nos dias do ministério terreno de Cristo e que o Salvador e seus apóstolos a citavam ao se referirem ao antigo cânon. É considerada a mais autêntica das versões antigas, e na atualidade a aceitam os católicos gregos e outras igrejas do leste. De maneira que é evidente que, desde uns trezentos anos antes de Cristo, o Antigo Testamento tem existido tanto no idioma hebraico como no grego; e esta duplicação tem sido uma proteção contra alterações. Alguns afirmam que a obra foi executada em épocas diferentes; e Horne diz que a versão provavelmente foi feita durante os reinados de Ptolomeu Lago e seu filho Filadelfo; 285 ou 286 anos antes de Cristo. Conforme a tradição foi feita outra compilação, o Peshito, numa época antiga mais indeterminada e que é algumas vezes referida como “a mais antiga versão siríaca da Bíblia”. Contém os livros canônicos do Antigo Testamento e muitos livros do Novo, mas omite a Segunda epístola de Pedro, a Segunda e terceira de João, a de Judas e o Apocalipse. Os estudiosos estimam muito o grande valor crítico desta versão.

Vulgata – “Existiu uma versão muito antiga da Bíblia traduzida da Versão dos Setenta para o latim, mas não sabemos nem por quem nem quando foi feita. Usava-se geralmente nos dias de Jerônimo e era conhecida como a Versão Itálica. Nos fins do século quarto, Jerônimo iniciou uma nova tradução latina do texto hebraico, que foi completada gradativamente. Conseguiu aprovação do papa Gregório I e tem sido usada desde o século sete. A Vulgata atual, declarada autêntica pelo Concílio de Trento, no século XVI, é a antiga Versão Itálica revista e melhorada pelas correções de Jerônimo e outros; é a única reconhecida pela Igreja de Roma.

A Recompilação Atual – Reconhece trinta e nove livros no Antigo testamento. Originalmente estavam combinados em vinte e dois, para corresponder às vinte e duas letras do alfabeto hebraico. Os trinta e nove livros como os temos hoje, podem propriamente agrupar-se da seguinte maneira:
O Pentateuco ou Livros da Lei, em número de 5; Os Livros Históricos, 12; Os Livros Poéticos, 5; os Livros Proféticos, 17.

Os Livros da Lei

Os cinco primeiros livros da Bíblia levam o nome coletivo de Pentateuco (Penta que significa cinco, e teuchos, volume) e os primeiros judeus os conheciam como Torah, ou a Lei. Tradicionalmente atribui-se sua origem a Moisés, e a isto se deve sua outra designação comum, os “Cinco Livros de Moisés” (Esdras 6:18, 7:7; Neemias 8:1; João 7:10). Relatam a história, embora breve, da raça humana, desde a criação até o dilúvio e desde Noé até Israel; segue-se uma relação mais detalhada da história dos israelitas durante a época do cativeiro no Egito; e sua viagem de quarenta anos pelo deserto, até se estabelecerem na outra parte do Jordão.

Os livros Históricos – Doze em número compreendem: Josué, Juizes, Rute, os dois livros de Samuel, os dois livros dos Reis, os dois das Crônicas, Esdras, Neemias e Ester. Referem-se à chegada dos israelitas à terra prometida e sua história durante três períodos distintos de sua existência como nação:

1.como povo teocrático, organizado em tribos, unidas todas por vínculos de religião e parentesco;

2.como monarquia, a princípio um reino unido, mais tarde uma nação dividida contra si mesma:

3.como nação vencida em parte, sua independência restringida por seus conquistadores.


Os livros Poéticos

São cinco: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e os Cantares de Salomão.
Freqüentemente se chamam livros doutrinais ou didáticos e até mesmo se lhes aplica a designação grega Hagiógrafos (hagios, que significa santo e graphe, um escrito). Algumas autoridades fazem compreender nesta lista todos os livros que o Talmud qualifica de hagiógrafos, a saber: Rute, Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, os Cantares de Salomão, as lamentações e Daniel. Estes livros foram escritos em épocas muito separadas e incluídos na Bíblia provavelmente porque eram comumente usados como guias de devoção nas igrejas judaicas.

Os livros dos Profetas

Contêm as obras maiores: Isaías, Jeremias, incluindo Lamentações, Ezequiel e Daniel, que comumente são conhecidos como as obras dos quatro Profetas Maiores; e os doze livros menores: Ozéias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias, chamados os livros dos Profetas Menores. Estes comunicam o peso da palavra do Senhor a seu povo, coragem, admoestações e reprimenda, conforme sua condição, antes, durante e após o cativeiro. Os Livros Proféticos do Antigo Testamento não estão em ordem cronológica, pois foram colocados no princípio os livros de maior volume. Dispostos cronologicamente encontrar-se-iam, provavelmente, na seguinte ordem: Jonas, Joel, Amós, Ozéias, Isaías, Miquéias, Naum, sofonias – todos estes profetizaram antes do cativeiro; logo se seguiram Jeremias, Habacuque, Ezequiel e Daniel, que escreveram durante o cativeiro; então: Ageu, Zacarias e Malaquias, após regressarem os judeus do cativeiro.

Os Apócrifos compreendem certo número de livros de autenticidade duvidosa, apesar de em certas ocasiões terem sido altamente considerados. De modo que foram acrescentados à Septuaginta e por algum tempo os judeus alexandrinos os admitiram. Entretanto nunca foram admitidos geralmente, por serem de origem incerta. Em o Novo Testamento não aparece referência nenhuma a eles. Jerônimo foi o primeiro a dar a estes livros o nome apócrifos, que significa oculto ou secreto. A Igreja Romana os reconhece como escritura, pois assim, foi decidido no Concílio de Trento em 1546, apesar de as autoridades católicas romanas ainda duvidarem da autenticidade das obras. O sexto artigo da Liturgia da Igreja da Inglaterra expressa a posição ortodoxa da referida igreja quanto à significação e propósito das santas escrituras; e após especificar os livros do Antigo Testamento que são aceitos como canônicos continua dizendo: “E os outros livros (como o disse Jerônimo), a Igreja os lê como exemplos de vida e instrução quanto a costumes, mas não os aplica para estabelecimento de doutrina; estes são os seguintes: O Livro Terceiro de Esdras; o Livro Quarto de Esdras; o Livro de Tobias, o Livro de Judith; o resto do Livro de Ester; o Livro da Sabedoria; Jesus, o filho de Sirac; Baruque o Profeta; o Cantor dos três Filhos; a História de Susana; Bel e o Dragão; A Oração de Manassés; o Livro Primeiro dos Macabeus; o Livro Segundo dos Macabeus”.

O Novo Testamento, sua origem e autenticidade

Desde os fins do século IV de nossa era não surgiu quase nenhum problema importante quanto à autenticidade dos livros do Novo Testamento, como é constituído hoje. Durante estes séculos os cristãos têm aceitado o Novo Testamento como escritura canônica. São considerados autênticos três manuscritos do Novo Testamento que atualmente existem. São conhecidos estes como o Vaticano (atualmente em Roma), o Alexandrino (que se encontra em Londres), e o Sinaico (adquirido pelo governo britânico). Julga-se que este último seja a cópia mais antiga do Novo Testamento, existente. Foi descoberta em 1859 nos arquivos de um mosteiro no Monte Sinai e dali vem o nome. Descobriu-o Tischendorf, e se encontra na Biblioteca Imperial de São Petesburgo, na Rússia.

Em resposta a objeções apresentadas por alguns críticos no tocante ao caráter genuíno ou autenticidade de certos livros do Novo Testamento, podemos considerar os seguintes testemunhos: (Os pontos que aqui se apresentam são os que o irmão David McKenzie comparou em suas palestras sobre a Bíblia)

Os Quatro Evangelhos

Mateus – Papias, bispo de Hierápolis, ouviu a voz de João, o Apóstolo. Com relação ao evangelho de Mateus, Eusébio lhe atribui estas palavras: “Mateus compôs os oráculos na língua hebraica e cada um os interpretava o melhor que podia” – (Eclesiastical History” por Eusébio, 3:39).

Marcos – Sobre ele, Paias diz também: “Marcos, tendo chegado a ser o intérprete de Pedro, escreveu com exatidão tudo o que recordava, sem pôr em ordem, entretanto, o que Cristo havia dito ou feito, porque não ouviu o Senhor nem o seguiu (pessoalmente). Mais tarde acompanhou Pedro, que adaptou suas instruções às necessidades de seus ouvintes; mas não tencionava fazer uma relação consecutiva dos oráculos (ou discursos) do Senhor”. – (Traduções do bispo de Lighfoot, em “Comtemporary Review” de agosto de 1875).

Lucas – A evidência interna mostra que o evangelho segundo Lucas e os Atos dos Apóstolos foram obra do mesmo autor. Paulo menciona que Lucas era médico; e o Dr. Hobart publicou em Londres em 1882 um tratado sobre “The Medical Language of Sr. Luke” (Terminologia Médica de São Lucas) onde assinala o uso freqüente de termos médicos nos escritos de Lucas, que abundam em todo o terceiro evangelho e nos atos dos Apóstolos. Até M. Renan admite o mesmo. Este diz: “Um ponto indiscutível é que o livro dos Atos é obra do mesmo autor do terceiro evangelho e são a continuação do mesmo evangelho. Não há necessidade de comprovar esta proposição que nunca se impugnou seriamente. Os prefácios que se encontram no princípio de cada obra, a dedicatória de uma e outra a Teófilo, a semelhança perfeita de estilo e idéias são comprovações abundantes deste ponto”. “Uma Segunda proposição é que o autor dos Atos do discípulo de Paulo e o acompanhou em grande parte de suas viagens(The Apostles, por M. Renan; veja o prefacio).

João – Irineu, bispo de Lion mais ou menos no ano 177 de nossa era e discípulo de Policarpo, que foi martirizado em 155 ou 156, evoca muna carta escrita a um discípulo o que ouviu de Policarpo sobre sua conversação com João e outros que viram o Senhor; e também acerca do Senhor, seus milagres e ensinamentos. Relatava todas aquelas coisas totalmente de acordo com as escrituras. (“Eclesiastical History”, por Eusébio, 5:20). A julgar pelo texto, é evidente que Irineu a falar de “as escrituras” referia-se aos quatro evangelistas, Mateus, Marcos, Lucas e João. Além disso, não só afirma que “unicamente são quatro os evangelhos que vieram desde o princípio, mas que segundo a natureza das coisas não pode haver nem mais nem menos de quatro. Há quatro regiões no mundo e quatro são os ventos principais; e a Igreja, portanto, já que está destinado a ela e ao mundo conter o evangelho, deve estar apoiada por quatro evangelhos como quatro pilares” – (“Contemporary Review” de agosto de 1876, pág. 413). (Esta analogia forçada de Irineu acerca dos quatro evangelhos e quatro ventos, etc., carece de fundamento e seu uso parece absurdo; entretanto o fato de que ele o nota é evidência de que, em seus dias, eram aceitos os quatro evangelhos).

As Epístolas de PauloOs seguintes extratos do testemunho dos críticos de Tubingen sobre as epístolas de Paulo são instrutivos.

De Wette diz na introdução de sua obra “Books of the New Testament”: “As cartas de Paulo mostram sinais de seu gênio poderoso. As mais importantes resistem a toda contradição quanto à autenticidade; formam o núcleo sólido do Livro do Novo Testamento”.

Baur diz em seu Apóstolo Paulo (1:8) – “Não só não surgiu jamais suspeita sobre a autenticidade destas epístolas, mas levam de maneira tão indiscutível o selo da originalidade de Paulo que não se pode compreender por que motivo os críticos poderiam impugná-las”.
Weizaeker escreve: “As cartas aos Gálatas e aos Coríntios são indubitavelmente obra do apóstolo; e por sua mão inquestionavelmente se escreveu também a epístola aos Romanos”. (Apostoliches Zeitalter, 1886, pág. 190)

Na obra Einleitein’s New Testament pág. 224, Holtzmann diz: “Estas quatro epístolas são os livros de Paulo universalmente aceitos. Podemos compreender, sobre elas, a prova de autenticidade que Paley empreendeu contra os livre-pensadores de sua época”.

“As epístolas de Paulo gozam de uma vantagem sem igual nesta história, qual seja, a sua absoluta autenticidade.” (The Gospels, por M. Renan, pp. 40 e 41). Com referência às cartas aos Coríntios, Gálatas e Romanos, Renan as qualifica de “indisputáveis e indiscutíveis” e acrescenta: “Os críticos mais severos, como Christian Baur, as aceitam sem objeção”.

No quarto século já circulavam várias listas dos livros do Novo Testamento como os temos hoje. Destas podemos mencionar os catálogos de Atanásio, Epifânio, Jerônimo, Rufino, Augustinho de Hipona e a lista proclamada pelo terceiro Concílio de Cartago. Às anteriores podemos acrescentar outras quatro que se distinguem daquelas por omitirem o Apocalipse de João em três delas e a epístola aos Hebreus na outra.

Esta abundante evidência a favor da composição do Novo testamento do século IV surgiu em conseqüência da perseguição anticristã dessa época. Ao princípio do citado século as medidas opressivas de Deocleciano, imperador de Roma, eram dirigidas não só contra os cristãos como indivíduos e como grupo, mas também contra seus escritos sagrados, que o fanático imperador procurou destruir. (veja do mesmo autor, “A Grande Apostasia” pág. 63) Manifestava-se certa clemência para com aqueles que entregavam os livros santos que lhes foram confiados e não poucos se valeram desta oportunidade para salvar a vida. Quando diminuíram os rigores da perseguição, as Igrejas começaram a julgar aqueles membros que por haverem entregado as escrituras mostraram falta de lealdade para com a fé e todos foram anatematizados com traidores. Considerando que muitos livros que sob pena de morte foram entregues não eram aceitos como sagrados na ocasião, tornou-se uma questão de suma importância determinar precisamente quais livros gozavam de santidade tal que sua entrega qualificasse uma pessoa de traidora. Portanto, Eusébio dividiu os livros dos dias do Messias e dos apóstolos em dois grupos:

(1) Os de reconhecida autenticidade: Os evangelhos, as epístolas de Paulo, os Atos, a primeira epístola de S. João, a primeira de S. Pedro e provavelmente o Apocalipse;

(2) Os de autenticidade discutida: A epístola de Tiago, a segunda de Pedro, a segunda e terceira de João e a de Judas. A estes dois se acrescentou um terceiro grupo de livros que eram admitidamente falsos.

A lista publicada por Atanásio, que data de meados do século IV, expõe o conteúdo do Novo Testamento como o temos atualmente e parece que já nesse tempo havia desaparecido toda dúvida quanto à exatidão da lista. Além disso, vemos que o Novo Testamento era comumente aceito pelos cristãos de Roma, Egito, África, Síria, Ásia Menor e Gália. Os testemunhos de Orígenes e Tertuliano, que viveram nos séculos III e II, respectivamente, foram examinados por escritores posteriores, que os declaram conclusivamente a favor da autenticidade dos evangelhos e das epístolas apostólicas. Julgaram cada um dos livros segundo seu próprio mérito e, por comum acordo, os declararam autorizados e obrigatórios nas Igrejas.

Se há necessidade de ir mais adiante, podemos apresentar o testemunho de Irineu, a quem a história eclesiástica assinala como o Bispo de Lion. Viveu em fins do segundo século e é conhecido como discípulo de Policarpo, o mesmo que se associara pessoalmente a João, o Revelador. Seus volumosos documentos afirmam a autenticidade da maior parte dos livros do Novo Testamento e nomeiam como seus autores aqueles que reconhecemos na atualidade. A estes podemos agregar o testemunho dos santos da Gália, que escreveram aos que também sofriam na Ásia Menor, citando abundantemente os evangelhos, as epístolas e o Apocalipse; as observações de Melitão, Bispo de Sardis, que empreendeu uma viagem pelo oriente para determinar quais eram os livros canônicos, particularmente os do antigo Testamento, e o solene testemunho de Justino Mártir, que abraçou o cristianismo após sinceras e sábias investigações e padeceu a morte por causa de suas convicções. Além do testemunho individual temos o de concílios eclesiásticos e corpos oficiais que julgaram e resolveram o assunto de autenticidade. Quanto a isto, podemos mencionar o Concílio de Nicéia no ano 325, o Concílio de Laodicéia em 363, o Concílio de Hipona em 393 e o terceiro e sexto Concílios de Cartago em 397 e 419, respectivamente.

Desde a última data mencionada, nenhum argumento quanto à autenticidade do Novo Testamento tem necessitado muita atenção. Na atualidade é já muito tarde, a distância que nos separa demasiado extensa para que voltemos a resolver o assunto. Devemos aceitar o Novo Testamento pelo que afirma ser; e mesmo que talvez se tenham suprimido ou perdido muitas partes preciosas, mesmo apesar de provavelmente terem sido insinuadas algumas alterações no texto e inadvertidamente Ter havido erros devido à incapacidade dos tradutores, o livro em geral deve ser aceito como autêntico e fidedigno, e como parte essencial das sagradas escrituras (João 5:39).

Classificação do Novo Testamento

O Novo Testamento compreende 27 livros, disposto por conveniência, da seguinte maneira: Livros Históricos, em número de 5; Livros Didáticos, 21; e Livros Proféticos, 1.

Os livros Históricos – Compreendem os quatro evangelhos e os Atos dos Apóstolos. Os autores destes livros são conhecidos como os evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João. Lucas é reconhecido também como o autor de Atos.

O livros Didáticos – Compreendem as epístolas, e podemos dividi-las deste modo: (1) As Epístolas de Paulo: suas cartas doutrinais dirigidas aos romanos, Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, Tessalonicenses e Hebreus; e suas comunicações pastorais a Timóteo, Tito e Filemom; (2) As Epístolas Gerais de Tiago, Pedro, João e Judas.

As obras Proféticas – São a Revelação de João conhecida como Apocalipse.

A Bíblia como um todo - As Primeiras Versões da Bíblia

Em tempos diversos têm aparecido muitas versões do Antigo Testamento e dos Testamentos combinados.. Já nos referimos ao texto hebraico, à cópia samaritana do Pentateuco e à tradução grega ou versão da Septuaginta assim como ao Peshito. Houve várias versões e traduções modificadas que competiram com a Versão da Septuaginta durante os primeiros anos da era cristã; Teodosiano, Aquilla e Mimaco publicaram, cada qual, versões novas. Uma das primeiras traduções para o latim, foi a Versão Itálica preparada provavelmente no século II; posteriormente modificada e melhorada, chegou a ser conhecida como Vulgata. Esta é a que a Igreja Católica Romana ainda aceita como a versão autêntica. Compreende o Antigo e o Novo Testamento.

Escrituras faltantes

Os que se opõem à doutrina da revelação contínua de Deus à Igreja, baseando-se em que a Bíblia como coleção de escrituras sagradas está completa e que as revelações não contidas nela devem ser falsas, podem proveitosamente tomar nota dos muitos livros que a Bíblia não contém e que nela são mencionados; e geralmente de forma tal que não há dúvida de que em certo tempo foram considerados autênticos. Destas escrituras que não existem na Bíblia se pode enumerar as seguintes, algumas das quais na atualidade são tidas como apócrifas, mas a maior parte não é conhecida:

O Livro da Aliança (Êxodo 24:7);
O Livro das Batalhas de Jeová (Números 21:14);
O Livro de Jasher (Josué 10:13);
O Livro do direito do Reino (I Samuel 10:25);
O Livro de Enoque (Judas 14); observação: já disponível em português, (41) 285 5108
O Livro dos Atos de Salomão (I Reis 11:41);
As Crônicas do Profeta Natã e as
Crônicas de Gad o Vidente (I Crônicas 29: 29);
A Profecia de Ahias Silonita e as
Profecias do Vidente Iddo (II Crônicas 9:29);
O Livro de Samaias (II Crônicas 12:15);
A História de Iddo o Profeta (II Crônicas 13; 22);
As Palavras de Jehú (II Crônicas 20: 34);
Os Atos de Uzias, escritos por Isaías, filho de Amós (II Crônicas 26:22);
As Palavras dos Videntes (II Crônicas 33:19);
Epístola (perdida) de Paulo aos Coríntios (I Coríntios 5: 9);
Epístola (perdida) de Paulo aos Efésios (Efésios 3 : 3);
Epístola (perdida) de Paulo aos Colossenses, escrita na Laodicéia (Colossenses 4 : 16);
Epístola (anterior) de Judas (Judas 3);
A Declaração de Lucas (Lucas 1: 1);

Estilos literários da Bíblia – a poesia hebraica

O livro de Salmos se acha incluído na parte do Velho Testamento conhecida como a dos Livros Poéticos, entre os quais  como Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão. Mas seria um grande equívoco pensar que não existem passagens poéticas ou literárias em outras partes do Velho Testamento. Nos Livros Históricos há trechos inteiros de canções poéticas (por exemplo, o cântico de Moisés em Êxodo 15, e o cântico de Débora e Baraque em Juizes 5). Os Livros Proféticos, especialmente Isaías, também estão repletos de passagens de forma e qualidade poéticas. Embora este tipo de literatura hebraica seja geralmente chamado de poesia, este nome nos dá uma falsa noção, pois, na verdade, é muito diferente da poesia ocidental, quer seja nos versos rimados ou nos versos brancos. Seria benéfico, ao que estuda a Bíblia, entender alguns dos elementos básicos dos antigos estilos literários hebraicos, antes de realmente examinar seus escritos. Quatro características importantes são dignas de nota: o Paralelismo, o Quiasmo, as Imagens Figurativas e o Dualismo.
A poesia hebraica é baseada no paralelismo, ou “Ritmo do Sentimento”. “As características principais... da poesia hebraica se encontram na forma peculiar pela qual ela transmite as suas idéias. Este estilo recebeu o nome de “paralelismo”.

Edward prefere com acerto usar o termo “ritmo do sentimento”, visto que o ritmo, a música, a fluência e a harmonia peculiares do verso e do poema se encontram na forma de distribuir os sentimentos de tal maneira que seu pleno significado não pode ser conseguido em menos do que um dístico (uma forma poética escrita em duas 3, p. 1357)

A palavra “poesia” pode dar-nos uma idéia de que se trata de um ramo altamente especializado da arte uma minoria; mas seria errôneo aplicar este termo a qualquer seção do Velho testamento. Um equivalente moderno mais próximo seria, por exemplo, a oratória de Winston Churchill:

Lutaremos nos pontos de desembarque,
Lutaremos nos campos e nas ruas.

Na qual a reiteração (repetição, ou outros recursos) e o ritmo se unem formando uma passagem duplamente memorável e impressiva. A reiteração era um dos estilos literários prediletos dos cananeus, e é também um traço distinto de alguns poemas bíblicos mais antigos:

Para Sísera despojos de várias cores,
Despojos de várias cores de bordados;
De várias cores bordados de ambas as bandas, para os pescoços do despojo? (Juízes 5:30)

O ritmo embora mais cadenciado no original que aqui, é mais uma questão de tônicas, ou batidas, e não de número fixo de sílabas (ou métrica). Na maioria das vezes haverá três tônicas em uma linha que se combinarão com outras três na linha seguinte, com a qual formará uma parelha. Este padrão, porém, algumas vezes poderá variar com uma parelha mais curta ou mais longa, ou com um terceto, na mesma passagem; ou ainda, o ritmo predominante pode ser de parelhas em que uma linha com três tônicas seja respondida por outra com duas:

Como caíram os poderosos
No meio da batalha!

Este último ritmo, com sua sonoridade decrescente freqüentemente é usado para repreensão ou lamento (como acontece no livro de Lamentações de Jeremias), e por isto recebeu o nome de Qinah (lamento), embora seu uso não seja restrito a estes temas.

Pode-se dizer que o paralelismo, ao contrário do que acontece com a nossa poesia, é como uma marca registrada da poesia bíblica; traduz-se na idéia de um verso ecoando no outro que o acompanha:

Porventura diria ele, e não o faria:
Ou falaria, e não o confirmaria? (Números 23:19)

Existem muitos exemplos deste estilo, desde a virtual repetição até a ampliação ou antítese. Ele possui uma dignidade e amplitude que concede tempo para que o pensamento que está sendo transmitido exerça a sua influência sobre o ouvinte; e às vezes também proporciona a oportunidade de apresentar mais que um aspecto de determinado assunto:

Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos,
Nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. (Isaías 55:8)

“O bispo Lowth, cujas dissertações sobre a poesia hebraica introduziu pela primeira vez em 1741 o nome “paralelismo” como denominação deste estilo poético, salientou que esta estrutura, baseada, como é, no significado da idéia, sobrevive à tradução em prosa em qualquer idioma com a mais insignificante perda de conteúdo, o que não acontece com a poesia baseada em métrica complexa ou em vocabulário especial.” (Derek Kidner, Poetry and Wisdom Literature citado por Alexander and Alexander, Eerdman´s Handbook to the Bible, p. 316; itálicos acrescentados. “Lowth distinguiu três espécies principais de paralelismo:

a)         Paralelismo Sinônimo: É uma repetição do mesmo pensamento com expressões equivalentes, a primeira linha reforçando a Segunda e formando um dístico ou parelha:

Aquele que habita nos céus se rirá;
O Senhor zombará deles. (Salmo 2:4)

b)         Paralelismo Antitético: Consiste na repetição de uma idéia contrastante no segundo verso, para acentuar o pensamento contido no primeiro:

Os filhos dos leões necessitam e sofrem fome,
Mas aqueles que buscam ao Senhor de nada têm falta (Salmo 34:10)

c)         Paralelismo Sintético: A construção do pensamento é feita de modo que cada verso acrescente uma idéia ao anterior

Pois será como a árvore plantada junto aos ribeiros de águas,
A qual dá o seu fruto na estação própria,
E cujas folhas não caem,
E tudo quanto fizer prosperará (Salmo 1:3)

O padrão básico da poesia hebraica transmite pensamentos agradáveis à mente, e produz uma cadência musical aprazível ao ouvido. Foram descobertas inúmeras variações no paralelismo desde a época de Lowth, como, por exemplo, o paralelismo invertido (Salmo 137:5, 6; Salmo 38: 8-10). Ele costuma ocorrer numa quadra em que o primeiro verso é paralelo ao quarto, em vez disso ocorrer entre a segunda linha e as intermediárias” (Unger, Bible Dictionary, p. 874)

A última forma mencionada acima também recebeu o nome de quiasmo, derivado da letra grega CHI (que corresponde à letra x), porque as linhas que ligam os paralelismo formam um x. Observe o diagrama dos paralelos  encontrados no Salmo 124: 7.

A nossa alma escapou,
Como um pássaro dos passarinheiros;
O laço quebrou-se,
E nós escapamos.

O quiasma foi primeiramente observado na Alemanha e Inglaterra no século XIX por alguns teólogos pioneiros; porém a idéia teve que aguardar a década de 30 de nossa era para então encontrar um ardente expoente, Nils Lund, que conseguiu apresentar este princípio diante do mundo de maneira convincente e hoje em dia, é bastante comum encontrarmos artigos sobre o assunto”.

O que fez com que o quiasmo atraísse tanta atenção? Para descobrir por nós mesmos, seria melhor começarmos apresentando um exemplo de quiasmo, o mais convincente é o que se encontra no Salmo 3: 7-8, o qual diz o seguinte (traduzido literalmente do hebraico):

“7. Salva-me, ó Deus meu, pois feriste todos os meus inimigos nos queixos;
8. Os dentes dos ímpios quebraste; a Jeová, a salvação.

O que há de singular nessa passagem: Bem, um criterioso exame destes versículos nos revela algo que à primeira vista não é tão óbvio: as palavras ocorrem numa seqüência peculiar. Todas as idéias são mencionadas duas vezes, e na repetição, tudo é falado ao contrário, de traz para diante, ou em ordem inversa. Considere o que acontece quando tornamos a escrever estes versículos, colocando as palavras da seguinte maneira:

A. Salva-me,
    B. ó Deus meu,
      C. pois feriste
        D. todos os meus inimigos
          E. nos queixos;
          E. Os dentes
        D  dos ímpios
      C. quebraste;
  B. a Jeová,
A. salvação.

Agora se torna claro para nós que a repetição contida nestes versículos não é redundância ocidental, mas uma inversão sistemática da seqüência original dos pensamentos do salmista.

Os estudiosos do assunto descobriram que muitas passagens seguem o mesmo padrão de repetição inversa, e quando isto ocorre, eles as denominam de quiásticas. Creio que seria justo dizer que a descoberta deste padrão, ou seja, a descoberta do quiasma, acrescentou maior discernimento quanto à natureza da literatura bíblica, que qualquer outro achado dessa natureza feito nos tempos modernos.

Alguns quiasmos são relativamente diretos, como, por exemplo, o que se acha em Gênisis 7: 21:23 (traduzido literalmente do hebraico):

A    E morreram na terra
      B    todos os pássaros,
            C    os gado,
                   D     as feras e coisas que se moviam,
                          E    o homem;
                                 F    toda a vida
                                       G    morreu
                                       G    e foi destruída.
                                  F     Todas as coisas vivas,
                           E    tanto o homem
                    D    como as coisas que se moviam,
              C    o gado,
         B    os pássaros,
  A    foram destruídos na terra.

Outros quiasmas, como veremos a seguir, são bem mais complexos. É importante que também observemos que os quiasmos não se constituem numa simples repetição; envolvem ainda uma intensificação ou um elemento de complementação na segunda parte. Compare, por exemplo, as idéias mais poderosas contidas no Salmo 3:8 e 3:7, mencionado no exemplo anterior: o vigor dos dentes com a natureza passiva do queixo; ou o ato de quebrar com o de ferir; de ser um ímpio ao invés de ser apenas um inimigo. Consistentemente, portanto, pode-se perceber uma mudança no centro do quiasmo, de modo que as idéias maiores, mais poderosas, ou mais intensas, apareçam na Segunda metade das passagens quiásticas.

Os quiasmos não se restringem às passagens curtas. Eles também podem ser usados para dar ordem, ênfase e acabamento às passagens mais extensas, como no caso do salmo 58:

Acaso falais vós deveras, ó congregação, a justiça? Julgais corretamente, ó filhos dos homens?
   B  Antes no coração forjais iniquidade; sobre a terra fazeis pesar a violência das vossas mãos.
        C  Alienam-se os ímpios desde a madre ...
               D  Têm veneno semelhante ao veneno da serpente ...
                     E  Ó Deus
                          F  quebra-lhes
                              G  os dentes nas suas bocas;
                              G  os queixais aos filhos dos leões        
                           F  e arranca
                      E  Senhor,
                D  Sumam-se como águas que escoam... como a lesma que se derrete, assim se vão
           C  Como o aborto duma mulher, nunca vejam o sol ...
      B  O justo se alegrará quando vir a vingança; lavará os seus pés no sangue do ímpio
Então dirá o homem: deveras há uma recompensa para o justo; deveras há um Deus que julga na terra.
           
Comparando cada palavra enfatizada na primeira parte deste salmo, com o termo correspondente ressaltado na segunda, poderemos ver a interessante ordem quiásticas e as contrastantes intensificações usadas nesta passagem.

O quiasmo empresta a esse poema maior harmonia, acabamento, e brilhantismo. Nenhum final deixa de ser ligado, nenhum pensamento fica fora de lugar. Assim, flui livre e naturalmente de uma extremidade a outra, e de lá retorna. Para o entendimento de um israelita da antigüidade havia beleza, métrica e inspiração.

Outro fenômeno que encontramos na estrutura do Salmo 58 é a importância do ponto de retorno quiástico. Observe como a curta oração contida no centro do salmo é assinalada e colocada em evidência. Ela é colocada no centro justamente para demonstrar de que maneira a oração ao Senhor Deus pode fazer com que tudo de modifique de volta. Depois da oração, a força do ímpio se derrete como a secreção da lesma, ao mesmo tempo em que se concretizam os anseios dos justos.

Desnecessário é dizer que a descoberta do quiasmo deu-nos muito em que pensar. Levou-nos a refletir a respeito da natureza de nossa literatura sacra e reavaliarmos a perícia e deliberação com que foi escrita. Através dela muitas passagens que antes eram obscuras, tornaram-se claras. Outros pensamentos, que antes nos pareciam de desorganizados, readquiriram sua ordem original. Acima de tudo, uma vez mais aprendemos que, se desejamos julgar a literatura de outra cultura, não podemos fazê-lo segundo nossa preferências ou desagrados. O fato de que o quiasmo era um estilo comum e singular da literatura hebraica requer que o levemos em consideração ao examinarmos as realizações literárias da Israel antida.” (John W. Welch, “Chiasmus in the Book of Mormon; or the Book of Mormon does It Again” New Era, Fevereiro de 1972, pp 6-7)

O uso de linguagem simbólica é uma característica dos escritos do Belho Testamento. Neles, a linguagem figurativa e rica de figuras de estilo é abundante, especialmente nos livros poéticos. Todos os recursos da retórica são utilizados, inclusive aliterações, hipérboles, símiles, metáforas, personificações e metonímias (substituição). Sidney B. Sperry usou uma interessante analogia para ilustrar a diferença fundamental enter as maneiras como o Oriente e o Ocidente usam a linguagem;
Rudyard Kipling sem dúvida tinha razão quando declarou: “Oh, o oriente é o oriente, e o ocidente o ocidente, e os dois jamais se encontrarão”.

Devemos ter sempre em mente as palavras de Kipling ao lermos as escrituras. Muitas vezes lemos a Bíblia como se os povos nela mencionados fossem de nossa própria nacionalidade, e interpretamos seus dizeres de acordo com a nossa vivência e psicologia. A Bíblia é, de fato, um livro oriental. Foi escrita há centenas de anos, por pessoas orientais, e para um povo oriental...

“Talvez seja de interesse comparar as expressões dos palestinos antigos e modernos com as nossas. Tanto no pensamento como na expressão falada, o oriental é um artista; o ocidental, por outro lado, poderia ser comparado a um arquiteto. Ao falar, o oriental pinta uma cena cujo efeito total é autêntico, mas cujos detalhes podem não se acurados; o ocidental tende a traçar diagramas acurados quanto aos detalhes. Quanto nosso Senhor falou da semente de mostarda como sendo “a mais pequena de todas as sementes” e a planta como “a maior de todas as hortaliças” (marcos 4?31-32), ele falava como oriental. Qualquer botânico sabe que a semente da mostarda (sinapi) à qual se referia Jesus, ainda que minúscula, não é a menor de todas as sementes, nem sua planta, a maior de todas as hortaliças.” (“Maneiras e Costumes Hebraicos”., A Liahona, fev/1974, p. 12)

“Em nenhum outro estilo o caráter da poesia hebraica se acha mais aparente do que no simbolismo. Coloca os céus e a terra sob tributo, rouba música às estrelas da manhã e luz ao noivo que não carece de lâmpadas virginais. Seu eterno verão jamais passa e suas neves nunca se maculam. Domina sobre o furor do mar, desfaz as nuvens e cavalga nas asas do vento. Torna mais precioso o ouro dos reis, dá maior fragrância à mirra, e torna o incenso mais doce. Imortaliza as oferendas do humilde pastor e guarda seu rebanho em verdes pastagens. O pão de sua colheita jamais se consome e o óleo de seu prelo nunca se esgota, e seu vinho é eternamente novo. Enquanto o homem tiver fôlego da vida, suas linhas eternas formarão a litania do coração súplice. As cordas que tange são as cordas da harpa de Deus.

O ritmo da poesia hebraica não obedece ao pulsar mensurável do corpo cativo à terra, mas ao majestoso ritmo do espírito liberto que somente é sentido pelo  que tem a música dos céus em sua alma. Eleva-se do plano métrico ao plano da sublimidade e a uma nova dimensão – a dimensão do espírito, onde os que adoram a Deus o fazem em espírito e verdade.  Sua matéria é o Altíssimo, o Deus dos céus e da terra; seu manancial e fonte, as profundezas do coração faminto por conhecer a Deus. Seu grande tema é o encontro pessoal com o Deus vivo.” (Douglas, New Bilble Dictionary, p. 1008)

Um aspecto difícil da literatura hebraica é a freqüência com que certos autores utilizam símbolos ou imagens, ou escrevem a respeito de coisas que têm duplo significado. Tal dualismo é semelhante à linguagem esotérica, a qual se destina a ser entendida somente pelo que é especialmente iniciado, isto é, uma forma de expressão restrita a um pequeno grupo de pessoas. Por exemplo, suponha que um indivíduo, no meio de uma multidão de pessoas desconhecidas, queira saber se há entre elas algum santo dos últimos dias, sem que tivesse que perguntar a ninguém. Então ele subiria num banco e começaria a cantar, “Vinde ó santos, sem medo ou temor” (Hinos, nº 8). Ele estaria usando de linguagem esotérica. Os membros das Igreja reconheceriam as palavras instantaneamente, mas todos os demais pensariam que ele estava simplesmente cantando uma canção que não lhes era familiar.

Idêntico processo foi freqüentemente usado nos escritos do Velho Testamento. Mensagens especiais de grande importância espiritual foram encerradas em passagens aparentemente mundanas ou de pouco conteúdo espiritual. Àquele, porém, que é espiritualmente iniciado e sensível às coisas do Espírito, o segundo e mais importante significado se destaca de maneira inequívoca. Isaías escreveu um “provérbio” (um pronunciamento de repreensão ou julgamento) contra o “rei da Babilônia” (Isaías 14:4); uma impressionante condenação do governante do império que logo se tornaria o principal inimigo de Israel, e seu eventual destruidor. No centro da profecia relativa a sua decadência encontrava-se esta passagem: “Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações!” (Isaías 14:12).

A maioria dos eruditos simplesmente conclui que Lúcifer, que em hebraico significa “estrela brilhante” ou “estrela da manhã”, era um nome poético para o rei da Babilônia, visto que os reis e outros personagens importantes freqüentemente eram chamados de estrelas (Wilson, Old Testment Word Studies, p. 261). De fato, toda a passagem (Isaías 14:4-22) faz perfeito sentido se aplicada ao cabeça do império babilônico. O nome Satanás, porém, é Lúcifer, e a sua queda dos céus simboliza sua expulsão da presença de Deus após haver-se rebelado e provocado guerra nos céus (D&C 76:25-28; Moisés 1:1-4). Além disso, o termo “Babilônia” passou a se referir ao mundo e aos domínios de Satanás (Apocalipse 17:5; D&C 1:16; 133:14). Leia novamente esta passagem considerando os outros significados das palavras Babilônia e Lúcifer. Assim, um novo significado igualmente válido e impressivo, tornar-se-á aparente. Qual a interpretação correta: A reposta – e a chave para se entender a literatura hebraica – é a de que ambas estão corretas. A passagem foi escrita em estilo literário.

As profecias concernentes a Sião são outro exemplo de dualismo. Sião era um título comum dado à cidade de Jerusalém, e também, por extensão, ao povo do convênio (assim como alguém diz Brasília ou Washington referindo-se ao Brasil e aos Estados Unidos). A maioria dos estudiosos da Bíblia interpretam as passagens concernentes a Sião como se referindo à Israel antiga, e sem dúvida assim o é. Para os santos dos últimos dias, porém, o termo Sião tem implicações modernas, que emprestam maior significado a tais passagens (Isaías 2:1-4). A Jerusalém antiga (Sião) foi novamente estabelecida no cume dos montes de Israel, e muitos judeus de todas as partes do mundo a ela têm concorrido; mas o estabelecimento da Igreja restaurada na Cidade de Lago Salgado e em outros lugares situados nos cumes das montanhas, também cumpriu esta profecia. Portanto, eis aqui outro exemplo clássico de dualismo profético e literário.

Outro exemplo, ainda, são as profecias concernentes à dispersão e coligação de Israel. Elas foram cumpridas diversas vezes e de maneiras diferentes. Os judeus foram levados cativos para a Babilônia e retornaram setenta anos depois. Foram novamente dispersos pelos romanos, e hoje em dia estão retornando à terra de seus ancestrais. Os lamanitas, outro ramo da casa de Israel, também foram dispersos e atualmente estão retornando para a Igreja. Israelitas de todas as partes do mundo estão coligando-se na Igreja verdadeira.

A chave para entendermos tais estilos literários é o Espírito Santo. O Elder Bruce R. Mcconkie declarou o seguinte:

“Em última análise, não existe um meio – absolutamente nenhum (e nunca é por demais enfático afirmar isto”) – de entendermos as profecias messiânicas, ou qualquer outra escritura, se não tivermos o mesmo espírito de profecia que repousou sobre aquele que proferiu a verdade em sua forma original. As escrituras emanam de Deus pelo poder do Espírito Santo. Elas não se originam do homem. Só têm o significado que o Espírito Santo lhes dá. Para interpretá-las, devemos ser iluminados pelo seu poder. Como Pedro declarou: “Nenhuma profecia da escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida pela vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo.” (II Pedro 1: 20-21). Verdadeiramente, é preciso ser um profeta para se entender um profeta, e todo membro fiel da igreja deve Ter “o testemunho de Jesus” que é “o espírito da profecia”. (Apocalipse 19:10) E assim. Como ensinou Néfi, “As palavras de Isaías” – e o princípio se aplica a todas as escrituras, - “são claras a todos os que estão possuídos do Espírito de profecia” (2Néfi 25: 4) Esta é somatória e a substância de toda a questão, e o fim de todas as controvérsias no que concerne à identificação da mente e vontade do Senhor” (The Promised Messiah, p. 44)

A legitimidade da Bíblia

Por muito interessantes e instrutivos que sejam estes dados históricos e literários sobre escrituras hebraicas, sua consideração é de menor importância que a autenticidade dos livros, pois já que nós assim como o resto do mundo cristão os aceitamos como a palavra de Deus, convém propriamente que investiguemos a autenticidade dos anais sobre os quais nossa fé principalmente se baseia. Todas as evidências que a própria Bíblia proporciona, com sua linguagem, detalhes históricos e correspondência de seu conteúdo apoiam em conjunto sua afirmação de ser precisamente obras dos autores a quem são atribuídas suas diversas partes. Em muitíssimos casos facilmente podemos comparar a relação entre a Bíblia e a história profana, particularmente em assuntos de biografia e genealogia e, quando o fazemos, descobrimos uma conformidade geral. O Professor A H Sayce conclui seu precioso tratado sobre o testemunho dos monumentos antigos com estas palavras: “As objeções dos críticos à verdade do Antigo Testamento, as quais em outro tempo Procediam do arsenal dos escritores gregos e latinos, não serão novamente usadas: foram derrotadas de uma vez por todas. As refutações vieram em papiro, barro e pedra das tumbas do Egito antigo, dos túmulos da Babilônia e dos palácios destruídos dos reis assírios”. Encontramos evidência adicional na individualidade que conserva cada escritor, do qual resulta uma diversidade assinalada de estilo, enquanto a unidade que se manifesta em toda a obra revela a ação de uma influência orientadora durante as idades em que foi crescendo o volume; e isto nada mais pode ser senão o poder de inspiração que agiu sobre todos aqueles que foram aceitos como instrumentos nas mãos divinas para preparar esse livro dos livros. A tradição, história, análise literária e, acima de tudo, a prova de uma busca devota e investigação da verdade, se unem para comprovar a autenticidade desse conjunto de escrituras e para indicar o caminho, bem definido entre suas capas, que conduz o homem à Presença eterna.

O testemunho do Livro de Mórmon relativo à Bíblia – Os santos dos últimos dias aceitam o Livro de Mórmon como escritura sagrada, na qual, assim como a Bíblia se encerra a palavra de Deus. Poderá ser proveitoso nos referirmos aqui à evidência corroborativa que esta obra apresenta, concernente à autenticidade das escrituras judaicas e à integridade geral desta sua forma atual. Segundo a história do Livro de Mórmon, seiscentos anos antes de Cristo o profeta Leí, com sua família e outros, saiu de Jerusalém por ordem de Deus, estavam no primeiro ano do reinado de Zedequias, rei de Judá. Antes de sair de seu país natal os viajantes conseguiram certos anais que estavam gravados em placas de latão. Entre estes se encontrava a história dos judeus e algumas das escrituras que naqueles dias eram aceitas como autênticas.

“E depois de haverem rendido graças ao Deus de Israel, meu pai, Leí, tomou os registro que estavam gravados nas placas de latão e examinou-os desde o princípio. E viu que continham os cinco livros de Moisés, que faziam um relato da criação do mundo e também de Adão e Eva, que foram os nossos primeiros pais. E também um registro dos judeus, desde o princípio até o começo do reinado de Zedequias, rei de Judá. E também as profecias dos santos profetas, desde o princípio até o começo do reinado de Zedequias; e também muitas profecias que foram proferidas pela boca de Jeremias. (1 Néfi 5:10-13). Esta referência direta ao Pentateuco e a certos profetas judeus é importante evidência externa a favor da autenticidade dessas partes da Bíblia.

Néfi, filho de Leí, tendo sido informado em uma visão do plano futuro de Deus quanto à família humana, viu que um livro de grande valor, no qual se achava a palavra de Deus e os convênios do Senhor com Israel, iria dos judeus aos gentios (1 Néfi 13:21-23). Disse mais que Leí e seu grupo foram conduzidos através das águas ao continente ocidental, onde se estabeleceram e mais tarde chegaram a ser um povo poderoso e numeroso, costumavam estudar as escrituras que estavam gravadas sobre as placas de latão; e, por outro lado, os historiadores desse povo incorporaram muitas de suas palavras em seus próprios anais (1 Néfi caps. 20, 21; 2 Néfi caps. 7, 8, 12-24) Isto é o suficiente quanto ao que o Livro de Mórmon diz do Antigo Testamento, ou pelo menos daquelas partes do cânon judaico que se achavam completas quando a colônia de Leí saiu de Jerusalém durante o ministério do profeta Jeremias.

Esta voz do ocidente não permanece silente a respeito das escrituras do Novo Testamento. Em visão profética, muitos dos profetas nefitas viram e predisseram o ministério de Cristo no meridiano dos tempos e escreveram as profecias relativas aos acontecimentos principais da vida e ministério do Salvador, com notável exatidão e detalhes. Abaixo seguem os testemunhos:

1- O testemunho de Néfi: (1 Néfi caps. 20, 21; 2 Néfi caps. 7, 8, 12 a 24)
2- O testemunho do rei Benjamin: (1 Néfi 10: 4-5; caps. 11-14; 2 Néfi 25: 26; 26:24)
3- O testemunho do Abinadi: (Mosias cap. 3; Mosias 4: 3)
4- O testemunho de Samuel, o lamanita: (Mosias caps. 13 a 16)

Além destas e de muitas outras profecias concernentes à missão de Jesus Cristo, as quais concordam sem exceção com o que o Novo Testamento diz de seu cumprimento, encontramos no Livro de Mórmon um relato do ministério do Senhor ressuscitado ao povo nefita, durante o qual estabeleceu sua Igreja conforme o modelo descrito e o Novo Testamento; e, além disso, deu-lhes instruções em palavras quase idênticas às de seus ensinamentos aos judeus no oriente. (3 Néfi caps. 9-26; compare com Mateus, caps. 5-7,  com Isaías cap. 54 e Malaquias caps. 3 e 4)

O Ministério do Cristo Ressurreto no Hemisfério Ocidental

Ao estudarmos o ministério apostólico em seqüência imediata ao estudo da ascensão do Senhor do Monte das Oliveiras, afastamo-nos da ordem cronológica das diversas manifestações pessoais do Salvador aos mortais; porquanto, logo após sua despedida final dos apóstolos na Judéia, ele visitou suas “outras ovelhas”, não pertencentes ao rebanho oriental, e cuja existência havia declarado no impressivo sermão a respeito do Bom Pastor e suas ovelhas, (João 10 : 6).

Aquelas outras ovelhas que deveriam ouvir a voz do Pastor e eventualmente ser feitas parte do rebanho unido, eram a nação nefita, descendentes de Leí que, com sua família e outras poucas pessoas, atravessou o grande abismo (ou mar) em direção ao que agora conhecemos como Continente Americano, onde cresceriam para tornar-se um povo poderoso, ainda que dividido.

Os progenitores da nação nefita partiram de Jerusalém em 600 a.C., guiados por Leí, profeta judeu da tribo de Manassés. Sua família, na época da partida de Jerusalém, consistia na esposa, Sariah, e os filhos Lamã, Lemuel, Sam e Néfi; numa etapa posterior da história, são mencionados Jacó e José que nasceram durante a jornada pelo deserto, além que quê algumas filhas são mencionadas, mas não se sabe se haviam nascido antes ou depois do êxodo da família. Além dos seus, a colônia de Leí incluía Zoram e Ismael, este último um israelita da tribo de Efraim, que com sua família composta de, pelo menos a esposa, três filhas e alguns filhos, juntou-se a Leí no deserto; e seus descendentes foram contados entre a nação da qual estamos tratando. O grupo viajou em direção sudeste, mantendo-se perto das margens do Mar Vermelho; depois, mudando o curso para o leste, atravessou a península da Arábia; e lá, nas praias do Mar da Arábia, construiu e abasteceu um barco no qual se lançou às águas, confiando na proteção divina. A viagem levou-os na direção leste através do Oceano Índico, seguindo pelo Pacífico Sul em direção as costas ocidentais da América do Sul, onde desembarcaram em 590 a.C. O povo se estabeleceu na que, para eles, era a terra prometida; nasceram-lhes muitos filhos e filhas e, no curso de poucas gerações, numerosa posteridade habitava a terra. Após a morte de Leí, verificou-se uma divisão entre o povo. Uns aceitaram Néfi como líder, que havia sido devidamente designado para o ofício profético, enquanto os demais proclamaram chefe a Lamã, o mais velho dos filhos de Leí. A partir daí, estes povos divididos foram conhecidos com nefitas e lamanitas, respectivamente. Havia ocasiões em que se observaram relações amistosas entre eles, mas geralmente estavam em disputa, e os lamanitas manifestavam ódio e hostilidade implacáveis a seus irmãos nefitas. Os nefitas progrediram nas artes da civilização, construindo grandes cidades e estabelecendo comunidades muito prósperas. Entretanto, caíam freqüentemente em transgressão, e o Senhor, para castigá-los, permitia que seus inimigos triunfassem sobre eles. Estenderam-se em direção ao norte, ocupando a região setentrional da América do Sul; cruzaram, então, o istmo, espalhando seus domínios pelo sul, centro e leste do que são hoje os Estados Unidos da América. Os lamanitas, aumentando em número, sofreram um anátema: sua pele tornou-se escura e seu espírito coberto de trevas, esqueceram-se do Deus de seus pais e degeneraram até o estado decaído em que os índios americanos - seus descendentes diretos – foram encontrados por aqueles que redescobriram o continente ocidental, em época posterior.

A morte do Senhor assinalada por calamidades nas Américas

O nascimento de Jesus em Belém havia sido dado a conhecer à nação nefita do hemisfério ocidental por divina revelação; e o feliz evento tinha sido marcado pelo aparecimento de uma nova estrela, por uma noite sem trevas, de maneira que os dois dias e a noite de permeio haviam sido como um único dia, e por outras ocorrências maravilhosas, todas preditas pelos profetas do mundo ocidental. Samuel, o Lamanita, que por sua fidelidade e boas obras se tornara profeta, poderoso em palavras e feitos, devidamente escolhido e comissionado por Deus, havia juntado às suas predições de ocorrências gloriosas que deveriam marcar o nascimento de Cristo, profecias de outros sinais – de escuridão, terror, e destruição – pelos quais seria assinalada a morte do Salvador na cruz (Helamam 14: 14-27). Cada uma das palavras proféticas concernentes aos fenômenos que deveriam acompanhar o nascimento do Senhor havia-se comprido, e muitos tinham sido levados por isso a crer em Cristo como o prometido Redentor; porém, como é comum entre aqueles cuja fé repousa em milagres, muitos dos nefitas “começaram a esquecer  os sinais e maravilhas de que haviam ouvido falar; e admiravam-se cada vez menos com qualquer sinal ou maravilha dos céus, de modo que começaram a ficar duros de coração e cegos de entendimento e começaram a duvidar de tudo quanto haviam ouvido e visto”, (3 Néfi: 2:1).

Trinta e três anos haviam transcorrido desde a noite iluminada e os demais sinais do advento do Messias, e então, no quarto dia do primeiro mês, ou de acordo com o nosso calendário, durante a primeira semana de abril, no ano trigésimo quarto, levantou-se uma grande e terrível tempestade, com trovões, relâmpagos, e sublevações e afundamentos da superfície da terra, de sorte que as estradas se romperam, montanhas fenderam-se, e muitas cidades foram totalmente destruídas por terremoto, fogo, e invasão do mar. Por três horas, o holocausto sem precedentes continuou, e depois caiu espessa escuridão, na qual se verificou ser impossível acender fogo; a pavorosa obscuridade era como a escuridão do Egito (Êxodo 10:21-23) no fato de que os vapores pegajosos podiam ser sentidos. Essa situação manteve-se até o terceiro dia, de maneira que uma noite, um dia e outra noite foram como uma só noite ininterrupta e o negror impenetrável mais terrível se fazia pelos lamentos do povo, cujo estribilho de confranger o coração era, por toda parte, o mesmo: “Oh!, se  nos tivéssemos arrependido antes deste grande e terrível dia ... !” (3 Néfi 8:5-25)

Então, varando a escuridão, veio uma Voz diante da qual o espantoso coro das lamentações humanas silenciou: “Ai, ai, ai, deste povo”, ressoou por toda a terra.

A Voz proclamava crescentes ais, a menos que o povo se arrependesse. A destruição lhes havia sobrevindo por causa da iniquidade, e o demônio alegrava-se com o número dos mortos, e a punitiva causa de sua destruição (3 Néfi cap. 9). A extensão da pavorosa calamidade foi referida em detalhe; cidades que se haviam incendiado com seus habitantes, outras que haviam mergulhado no mar, ainda outras sepultadas na terra, foram enumeradas; e a divina razão para aquela vasta catástrofe foi claramente explicada: para que a iniquidade e as abominações do povo fossem varridas da face da terra. Os que tinham sobrevivido para ouvir foram declarados os mais justos dentre os habitantes, e foi-lhes oferecida esperança sob condição de arrependimento e reforma ainda mais completos.

A identidade da Voz foi dada a conhecer da seguinte forma: “Eis que sou Jesus Cristo, o Filho de Deus. Eu criei os céus e a terra e todas as coisas que neles há. Eu estava com o Pai desde o princípio. Estou no Pai e o Pai está em mim, e em mim o Pai glorificou seu nome. Vim aos meus e os meus não me receberam. E as escrituras relativas a minha vinda cumpriram-se. E a todos os que me receberam permiti que se tornassem os filhos de Deus; e o mesmo farei a todos os que crerem em meu nome, pois eis que por mim vem a redenção e em mim cumpriu-se a lei de Moisés.” (3 Néfi 9: 15 - 17) Ordenou o Senhor ao povo que não mais o servisse com sacrifícios de sangue e ofertas queimadas, porque a lei de Moisés estava cumprida, e de então para diante o único sacrifício aceitável seria o coração quebrantado e o espírito contrito, e esses nunca seriam rejeitados. Ao humilde e ao arrependido, o Senhor receberia para si mesmo. “Eis que por estes dei minha vida e tomei-a de novo; por conseguinte, arrependei-vos e vinde a mim, ó vós, extremos da terra, e salvai-vos!”.

Calou-se a voz, e pelo espaço de muitas horas de contínua escuridão, as clamorosas lamentações se contiveram, porque o povo estava convicto de sua culpa, e silenciosamente pranteava, perplexo, em face do que havia ouvido, e antecipadamente esperançoso quanto à salvação oferecida. Pela Segunda vez a Voz se fez ouvir, como que pesarosa pelos que se tinham recusado a aceitar a ajuda do Salvador, porque seguidas vezes os protegera, e mais freqüentemente o teria feito se o desejassem, e ainda no futuro os acalentaria, “como a galinha reúne seus pintos sob suas asas”, caso se arrependessem e vivessem em retidão. Na manhã do terceiro dia, dispersou-se a escuridão, cessaram as perturbações sísmicas, e as tormentas se acalmaram. Sendo o manto levantado de sobre a terra, viu o povo a extensão das convulsões da terra e a amplitude de sua perda em parentes e amigos. Contritos e humilhados, se lembraram das predições dos profetas, e souberam que as  determinações de Deus haviam sido executadas sobre eles, (3 Néfi, cap. 3).

Cristo havia ressuscitado, e após ele, muitos dos justos falecidos no continente ocidental levantaram-se de seus túmulos, e apareceram como seres ressurrectos e imortalizados entre os sobreviventes da destruição que atingira a terra; da mesma forma como na Judéia, muitos dos santos tinham sido ressuscitados imediatamente após a ressurreição de Cristo.

Primeira Visitação de Jesus Cristo aos Nefitas

Cerca de um mês e meio ou mais depois dos eventos acima considerados, uma grande multidão de nefitas havia-se reunido no templo, na terra chamada Abundância, que abrangia parte norte da América do Sul, estendendo-se até o istmo do Panamá; ao norte limitava-se com a Terra de Desolação, que abrangia a América Central, e mais tarde na história nefita, uma região indefinida ao norte do istmo. Eles estavam gravemente comentando uns com os outros as grandes mudanças por que havia passado a terra, e particularmente a respeito de Jesus Cristo, de cuja morte expiatória os sinais preditos haviam sido testemunhados em todos os seus trágicos detalhes (3 Néfi 10:18 – tenha-se em mente que a ascensão de Cristo aconteceu quarenta dias depois da ressurreição). O espírito dominante da reunião era de arrependimento e reverência. Enquanto assim estavam congregados, ouviram um som como que de uma Voz, vindo do alto, porém tanto uma Segunda quanto uma terceira manifestação foram-lhes ininteligíveis. Como escutassem em embevecida concentração, a Voz fez-se ouvir pela terceira vez, dizendo-lhes: “Eis aqui meu Filho Amado, em quem me comprazo e em quem glorifiquei meu nome – Ouví-o” (3 Néfi 11:7).

Enquanto fitavam o alto em reverente expectação, viram um Homem, vestido de brancas vestes que descia e se colocava no meio deles, e que lhes falou, dizendo: “Eis que eu sou Jesus Cristo, cuja vinda ao mundo foi testificada pelos profetas. E eis que eu sou a luz e a vida do mundo; e bebi da taça amarga que o Pai me dei e glorifiquei o Pai, tomando sobre mim os pecados do mundo, no que me submeti à vontade do Pai em todas as coisas desde o princípio;” (3 Néfi 11: 10-11) A multidão prostrou-se em adoração, pois lembrava-se de que seus profetas haviam previsto que o Senhor apareceria entre eles depois de sua ressurreição e ascensão. (3 Néfi 11:12).

Determinando-o ele, o povo levantou-se e, um por um, achegaram-se, viram e tocaram as marcas dos cravos em suas mãos e pés, bem como o ferimento de lança em seu lado. Movidos a proclamarem sua adoração, a uma só voz clamaram: “Hozana! Bendito seja o nome do Deus Altíssimo!” (3 Néfi 11:17) E caindo então aos pés de Jesus, adoraram-no.

Chamando Néfi e os onze outros para que se aproximassem, o Senhor deu-lhes autoridade para batizar o povo depois de sua partida, e prescreveu a maneira do batismo com particular advertência contra disputas em relação ao assunto, ou alterações da forma determinada, conforme testificam as palavras do Senhor: “Desta maneira batizareis; e não haverá disputas entre vós. Em verdade vos digo que desta forma batizareis todos os que se arrependerem de seus pecados pelas vossas palavras e desejarem ser batizados em meu nome – Eis que descereis à água e em meu nome os batizareis. E eis que estas são as palavras que devereis dizer, chamando-os pelo nome: Tendo autoridade que me foi concedida por Jesus Cristo, eu te batizo em nome do Pai e do filho e do Espírito Santo. Amém. Então os imergireis na água e depois saireis novamente da água. E desta maneira batizareis em meu nome, pois eis que em verdade vos digo que o Pai e o Filho e o Espírito Santo são um; e eu estou no Pai e o Pai em mim; e o Pai e eu somos um. E segundo o que vos ordenei, assim batizareis; e não haverá disputas entre vós, como até agora tem havido; nem haverá disputas entre vós sobre os pontos de minha doutrina como até agora tem havido, (3 Néfi 11:23-28).

O povo em geral, e particularmente os Doze, escolhidos como acima descrito, foram advertidos de maneira impressiva contra disputas sobre assuntos de doutrina, o que foi declarado provir do espírito do demônio, “que é o pai da discórdia”. A doutrina de Jesus Cristo foi estabelecida em resumo simples, mas compreensível, nas seguintes palavras: “Eis que em verdade, em verdade vos digo que eu vos declararei minha doutrina. E esta é minha doutrina e é a doutrina que o Pai me deu; e dou testemunho do Pai e o Pai dá testemunho de mim e o Espírito Santo dá testemunho do Pai e de mim; e eu dou testemunho de que o Pai ordena a todos os homens, em todos os lugares, que se arrependam e creiam em mim. E os que crerem em mim e forem batizados, esses serão salvos; e eles são os que herdarão o reino de Deus. E os que não crerem em mim e não forem batizados, serão condenados. (3 Néfi 11: 31-34, comparar com Mateus 16:15)

Arrependimento e humildade semelhante à da criança inocente e confiante, eram indispensáveis para o batismo, sem o qual ninguém poderia herdar o reino de Deus. Com agudez e simplicidade que haviam caracterizado seus ensinamentos na Palestina, o Senhor assim instruiu os seus Doze recém-escolhidos: “Em verdade, em verdade vos digo que esta é minha doutrina e os que edificam sobre isto edificam sobre minha rocha; e as portas do inferno não prevalecerão contra eles. E aqueles que declararem mais ou menos do que isto e estabelecerem-no como minha doutrina, esses vêm do mal e não edificam sobre a minha rocha, mas edificam sobre um alicerce de areia; e as portas do inferno estarão abertas para recebê-los quando vierem as inundações e os ventos açoitarem-nos. Portanto, dirigi-vos a este povo e declarai as palavras que eu disse, até os confins da terra. (3 Néfi 11 39:41)

Voltando-se para a multidão, Jesus admoestou-os a que dessem ouvidos aos ensinamentos do Doze, e continuou com um discurso que abrangia os sublimes princípios que ensinara aos judeus no Sermão da Montanha. As bem-aventuranças, a oração dominical, e o mesmo esplêndido conjunto de enobrecedores preceitos foram apresentados, e a mesma riqueza de comparações atuantes, e de ilustrações adequadas aparece, tanto na versão de Néfi quanto na de Mateus, deste incomparável discurso; mas uma significativa diferença se observa em todas as referências ao cumprimento da lei mosaica, porquanto onde as escrituras judaicas registram as palavras do Senhor apontando para um cumprimento ainda incompleto, as expressões correspondentes na narrativa nefita encontram-se no passado, tendo já a lei sido cumprida em sua totalidade por intermédio da morte e ressurreição de Cristo. Desse modo, aos judeus dissera Jesus: “até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido;” mas aos nefitas declarou: “Pois em verdade vos digo que nenhum jota ou til foi omitido da lei, mas em mim toda ela foi cumprida” (3 Néfi 12:18).

Muitos se admiravam com o assunto, imaginando o que o Senhor desejaria que fizessem em relação à lei de Moisés; “porque não compreendiam a afirmação de que as coisas antigas haviam passado e todas as coisas haviam-se tornado novas” (3 Néfi 15:2). Jesus, conhecedor da perplexidade deles, proclamou com clareza ser o próprio doador da lei, que por ele fora cumprida e, portanto ab-rogada. A afirmação é particularmente explícita: “Eis que vos digo que a lei dada a Moisés foi cumprida. Eis que eu sou aquele que deu a lei e eu sou aquele que fez convênio com meu povo, Israel; porquanto a lei se cumpre em mim, porque eu vim para cumprir a lei; consequentemente, ela tem um fim. Eis que não destruo os profetas, porque todos os que não se cumpriram em mim, em verdade vos digo, serão todos cumpridos. E porque vos disse que as coisas antigas passaram, não anulo o que foi dito a respeito das coisas que estão para vir. Porque eis que o convênio que fiz com meu povo ainda não se cumpriu completamente; mas a lei que foi dada a Moisés tem o seu termo em mim".

Dirigindo-se aos Doze, afirmou que nunca o Pai lhe havia ordenado informar aos judeus a respeito da existência dos nefitas, senão indiretamente ao mencionar outras ovelhas, não do rebanho judaico; e como, “por causa da obstinação e incredulidade”, haviam falhado em compreender as suas palavras, o Pai lhe ordenara que não dissesse mais nada com referência, nem aos nefitas, nem ao terceiro rebanho, compreendendo “as outras tribos da casa de Israel, que o Pai conduziu para fora do país".Aos discípulos nefitas, Jesus ensinou muitos outros assuntos que haviam sido negados aos judeus, que, por não estarem preparados para receber, tinham sido deixados em ignorância. Até mesmo os apóstolos judeus haviam suposto erroneamente que as “outras ovelhas” fossem as nações gentias, não compreendendo que a divulgação do Evangelho aos gentios era parte da missão particular deles próprios, esquecidos do fato de que nunca Cristo se manifestaria pessoalmente aos que não pertencessem à casa de Israel. Inspirados pelo Espírito Santo e sob a ministração de homens comissionados e enviados ouviriam os gentios a palavra de Deus; mas não teriam direito à manifestação pessoal do Messias (3 Néfi 15:11-24). Grandes, contudo, serão as misericórdias e bênçãos do Senhor aos gentios que aceitam a verdade, pois que a eles o Espírito Santo prestará testemunho do Pai e do Filho; e todos dentre eles que obedecerem às leis e ordenanças do Evangelho, serão contados com a casa de Israel. A conversão deles e a sua absorção entre os que pertencem ao Senhor, dar-se-á individualmente, e não como nações, tribos ou povos, (3 Néfi 16: 4-20).

O povo em adoração, contando cerca de duas mil e quinhentas almas, julgou que Jesus estava para partir, e em lágrimas ansiava por que permanecesse. Ele os confortou com a promessa de que retornaria no dia seguinte, e admoestou-lhes que ponderassem as coisas que lhes havia ensinado, e que orassem em seu nome ao Pai, por entendimento. Tendo já informado aos Doze, declarou agora ao povo que se mostraria e ministraria “‘as tribos perdidas de Israel, porque não estão perdidas para o Pai, pois ele sabe para onde as levou".(3 Néfi 17:4)  Manifestando a compaixão que sentia, o Senhor ordenou ao povo que fosse buscar os seus aflitos, o aleijados, coxos, mutilados, cegos e surdos, os leprosos e os paralíticos, e quantos lhe foram trazidos, curou-os a todos. Então, como ordenara, os pais trouxeram seus filhos pequeninos, e os colocaram em círculo ao seu redor. A multidão ajoelhou-se em oração, e Jesus orou por eles, “E não há língua que possa expressar nem homem que possa escrever nem pode o coração dos homens conceber coisas tão grandes e maravilhosas como as que vimos e ouvimos Jesus dizer; e ninguém pode calcular a extraordinária alegria que nos encheu a alma na ocasião em que o vimos orar por nós ao Pai". (3 Néfi 17: 17) Concluída a prece, Jesus pediu à multidão que se levantasse, e prazenteiramente exclamou: “Bem-aventurado sois por causa de vossa fé. E agora, eis que é completa a minha alegria.” Jesus chorou, e tendo tomado as criancinhas, uma a uma, abençoou-as, orando ao Pai por elas.

“E depois de haver feito isso, chorou de novo; e dirigindo-se à multidão, disse-lhes: Olhai para vossas criancinhas. E ao olharem, lançaram o olhar ao céu e viram os céus abertos e anjos descendo dos céus, como se estivessem no meio do fogo; e eles desceram e cercaram aqueles pequeninos e eles foram rodeados por fogo; e os anjos ministraram entre eles. E a multidão viu, ouviu e deu testemunho; e sabem que seu testemunho é verdadeiro, porque todos viram e ouviram cada homem por si mesmo; e eram cerca de duas mil e quinhentas almas, entre homens, mulheres e crianças.”(3 Néfi 17: 22-24) O Senhor Jesus mandou buscar pão e vinho, e fez com que o poso se assentasse. Tendo partido o pão, abençoou-o, e deu-o aos Doze; e estes, tendo comido, distribuíram o pão à multidão. Tendo sido o vinho abençoado, todos partilharam; primeiro os Doze e depois o povo. Com impressividade semelhante à da instituição do sacramento da Ceia do Senhor entre os apóstolos em Jerusalém, Jesus tornou clara a santidade e o significado da ordenança, dizendo que seria dada a autoridade para sua futura administração, e que dela deveriam participar todos os que tivessem sido batizados em fraternidade com Cristo, e deveria ser observada sempre em memória dele: o pão como símbolo sagrado de seu corpo, e o vinho em sinal do seu sangue que havia derramado. Por mandamento expresso, o Senhor proibiu o sacramento do pão e do vinho a todos os que não fossem dignos: “Porque todo aquele que come e bebe da minha carne e do meu sangue indignamente, como e bebe condenação para sua alma; portanto, se souberes que um homem é indigno de comer e beber da minha carne e do meu sangue, vós lho proibireis”. Contudo, o poro foi proibido de expulsar de suas assembléias aqueles de quem se retirassem o sacramento, se acontecesse que se arrependessem e buscassem integração pelo batismo (3 Néfi 18:29 - 32).

A necessidade da oração foi explicitamente acentuada pelo Senhor, tendo sido dado aos Doze e à multidão separadamente, mandamento de orar. Súplicas individuais, devoção familiar, e adoração em congregação foram assim prescritas:

“Portanto deveis sempre orar ao Pai em meu nome. E tudo quanto pedirdes Pai em meu nome, que seja justa, acreditando que recebereis, eis que vos será dado. Orai ao Pai no seio de vossa família, sempre em meu nome, a fim de que vossas mulheres e vossos filhos sejam abençoados. E eis que vos reunireis com freqüência; e a ninguém proibireis que se chegue a vós quando vos reunirdes, mas permitireis que se cheguem a vós e não lhes proibireis. Mas orareis por eles e não os expulsareis; e se acontecer que se cheguem a vós freqüentemente, orareis por eles ao Pai, em meu nome” (3 Néfi 18: 19-23) O Senhor tocou então a cada um dos Doze com a mão, investindo-os, em palavras que não foram ouvidas pelos demais, com poder para conferir o Espírito Santo pela imposição das mãos a todos os crentes arrependidos e batizados (3 Néfi 18:36-37). Tendo concluído a ordenação dos Doze, uma nuvem desceu sobre o povo, de maneira que o Senhor ficou oculto a seus olhos; entretanto, os doze discípulos “viram e testificaram que ele novamente ascendera aos céus”.

Segunda Visitação de Cristo aos Remanescentes do Povo Nefita

No dia seguinte, reuniu-se multidão ainda maior, na expectação da volta do Salvador. Durante a noite, mensageiros haviam espalhado as gloriosas notícias da aparição do Senhor, e de sua promessa de novamente visitar seu povo. Tão numerosa era a reunião, que Néfi e seus companheiros fizeram com que o povo se separasse em doze grupos, a cada um dos quais um dos discípulos foi designado para instruir e orientar em oração. O motivo das súplicas era que o Espírito Santo lhes fosse dado. Guiado pelos discípulos escolhidos, o inumerável ajuntamento aproximou-se da água, e Néfi, adiantando-se em primeiro lugar, foi batizado por imersão; batizou então os outros onze que Jesus havia escolhido. Tendo os Doze saído da água, “ficaram cheios do Espírito Santo e fogo” (3 Néfi 19:13). E eis que eles foram envolvidos por uma coisa que lhes parecia fogo, descida dos céus, e a multidão presenciou esse fato e testificou-o; e desceram anjos dos céus e falaram a eles, ministrando-lhes. E aconteceu que, enquanto os anjos ministravam aos discípulos, eis que Jesus veio e parando no meio deles, ministrou-lhes.

Dessa maneira apareceu Jesus no meio dos discípulos e dos anjos ministradores. Por ordem sua, ajoelharam-se os Doze e a multidão em prece, e oraram a Jesus, chamando-o Senhor seu, e seu Deus. Jesus afastou-se a uma pequena distância, e em atitude humilde, orou, dizendo em parte: “Pai, graças te dou por terem crido em mim que eu os escolhi dentre o mundo. Pai, rogo-te que dês o Espírito Santo a todos os que crerem em suas palavras". Permaneciam ainda os discípulos em fervente oração a Jesus, quando ele retornou ao seu meio, e como os olhasse com sorriso misericordioso e aprovador, foram eles glorificados em sua presença, de modo que seus semblantes e vestimentas resplandeceram com brilho semelhante ao das feições e vestes do Senhor, de tal maneira que “não poderia haver nada na terra tão branco como sua brancura.” Por uma Segunda e por uma terceira vez, afastou-se Jesus e orou ao Pai; e quando o povo compreendeu o significado da oração, confessou e prestou testemunho de que “tão extraordinárias e maravilhosas foram as palavras por ele proferidas, que não podem ser escritas, nem podem ser proferidas por nenhum homem.” Rejubilou-se o Senhor na fé manifestada pelo povo, e disse aos discípulos: “Tão grande fé eu nunca vi entre todos os judeus; por este motivo não lhes pude mostrar tão grandes milagres, em virtude de sua incredulidade. Em verdade vos digo que nenhum deles viu coisas tão grandes como as que tendes visto; nem nunca ouviram tão grandes coisas com as que vós ouvistes.” (3 Néfi capítulo 19)

Administrou então o Senhor o sacramento da mesma forma como na véspera; mas tanto o pão quanto o vinho foram providenciados sem ajuda humana. A santidade da ordenança foi assim expressa: “Aquele que come deste pão, come do meu corpo para a sua alma; e aquele que bebe deste vinho, bebe do meu sangue para sua alma; e sua alma nunca sofrerá fome nem sede, mas permanecerá sempre satisfeita".

Isso foi acompanhado de instruções concernentes ao povo do convênio, Israel, do qual os nefitas eram parte, e à relação que deveriam manter com as nações gentias no desenvolvimento do propósito divino. Declarou Jesus ser ele próprio aquele Profeta, cuja vinda Moisés havia predito. E o Cristo de quem todos os profetas haviam testificado. A supremacia temporária dos gentios pela qual se cumpriria a dispersão de Israel e a eventual coligação do povo do convênio foram preditas, com referências freqüentes aos pronunciamentos de Isaías a respeito (3 Néfi capítulo 20). O futuro dos descendentes de Leí foi pintado como uma degenerescência em incredulidade através do pecado, em conseqüência do que os gentios se desenvolveriam até tornar-se um poderoso povo no continente ocidental, embora aquela terra tivesse sido dada como final herança à casa de Israel. O estabelecimento da nação americana, então futura, porém atualmente existente, caracteriza-se com “um povo livre”, foi predito nas seguintes palavras, sendo os propósitos de Deus explicados a seu respeito: “Porque está na sabedoria do Pai que eles se estabeleçam nesta terra e sejam instituídos com um povo livre, pelo poder do Pai, para que estas coisas possam vir deles para o resto da vossa semente, a fim de que se cumpra a aliança que o Pai fez com seu povo, ó casa de Israel.” (3 Néfi 21:1-7)

Como um sinal do tempo em que a reunião dos diversos ramos de Israel, de sua longa dispersão, teria lugar, o Senhor especificou a prosperidade dos gentios na América, e sua ação em trazer as Escrituras aos degradados remanescentes da posteridade de Leí, ou seja aos índios americanos (3 Néfi 21:1-7). Foi deixado bem claro que todos os gentios que se arrependessem, e aceitassem o evangelho de Cristo por meio do batismo, seriam contados com o povo do convênio e feitos partícipes das bênçãos relativas aos últimos dias, em que a Nova Jerusalém seria estabelecida no continente americano. A jubilosa descrição de Israel coligado, conforme tinha sido dada anteriormente pela boca do profeta Isaías, foi repetida pelo Jeová ressurreto ao seu rebanho nefita (3 Néfi cap. 22, comparar com Isaías cap. 54). Admoestando-os a que ponderassem as palavras dos profetas, que estavam registradas entre eles, e dessem ouvidos às novas Escrituras que dera a conhecer, e ordenando especialmente aos Doze que ensinassem ao povo mais a respeito das coisas que havia exposto, o Senhor informou-os das revelações dadas por intermédio de Malaquias, e determinou que fossem escritas (3 Néfi caps. 24 e 25, comparar com Malaquias caps. 3 e 4).

As profecias assim reiteradas por Aquele que havia inspirado Malaquias a falar naquela ocasião eram obviamente futuras, e até agora ainda não foram cumpridas em sua totalidade. O advento do Senhor, do qual estas Escrituras testificam, pertence ainda ao futuro; entretanto, esse tempo está próximo agora; esse “grande e terrível dia do Senhor”, como é atestado pelo fato de que Elias, que deveria vir antes daquele dia, apareceu no desempenho de sua comissão particular, de  voltar os corações dos filhos vivos aos progenitores mortos, e os corações do pais já falecidos à sua posteridade ainda mortal (D&C 110:13-16).

O ministério pessoal de Cristo, na época de sua Segunda visitação, durou três dias, durante os quais deu ao povo muitas Escrituras, que anteriormente haviam sido dadas aos judeus, porquanto assim o Pai ordenara; e ele expôs-lhes os propósitos de Deus, desde o princípio até o tempo em que Cristo deveria voltar em sua glória: “E até o grande e último dia, em que todos os povos, famílias, nações e línguas se apresentassem perante Deus, para serem julgados por suas obras, fossem elas boas ou más; se tivessem sido boas, para a ressurreição da vida eterna; e se fossem más, para a ressurreição da condenação, ficando paralelamente uns de um lado e outros de outro, segundo a misericórdia, a justiça e a santidade que está em Cristo, o qual já existia antes do princípio do mundo". Em ministração misericordiosa, curou seu rebanho ferido, e levantou um homem dentre os mortos. Em ocasiões posteriores, porém não especificadas, mostrou-se ele aos nefitas, e “repartiu muitas vezes o pão, que lhes dava depois de o haver abençoado” (3 Néfi 26: 4,5, 13-15).

Depois de sua Segunda ascensão dentre eles, o espírito de profecia manifestou-se entre o povo, estendendo-se até às crianças e infantes, muitos dos quais falaram de coisas maravilhosas, conforme o Espírito Santo lhes concedia falar. Os Doze entraram vigorosamente em seu ministério, ensinando a todos os que dessem ouvidos, e batizando aqueles que, através do arrependimento, buscavam comunhão com a Igreja. A todos os que assim cumpriam os requisitos do Evangelho o Espírito Santo foi conferido; e os que assim foram abençoados viviam em amor, e foram conhecidos como Igreja de Cristo (3 Néfi 26: 14 – 21)

Especial Visitação de Cristo aos Doze Escolhidos entre os Nefita

Sob a administração dos doze discípulos ordenados, a Igreja cresceu e prosperou na terra de Néfi, (ou Abundância, que abrangia a parte norte da América do Sul, estendendo-se até o istmo do Panamá. Ao norte, limitava-se com a Terra de Desolação, que abrangia a América Central, e, mais tarde na história nefita, uma região indefinida ao norte do istmo. O continente sul-americano em geral é chamado de Terra de Néfi, no Livro de Mórmon). Os discípulos, como testemunhas especiais de Cristo, viajavam, pregavam, ensinavam e batizavam todos os que professavam fé e demonstravam arrependimento. Certa ocasião, estavam os Doze reunidos em “poderosa oração e jejum”, buscando esclarecimento sobre um assunto particular que, a despeito das advertências do Senhor contra as contendas, tinha dado origem a disputas entre o povo. Enquanto suplicavam ao Pai em nome do Filho, Jesus apareceu no meio deles e perguntou-lhes: “O que desejais que eu vos dê?” A resposta foi: “Senhor, desejamos que nos diga o nome que devemos dar a esta igreja, porque há controvérsias entre o povo a respeito desse assunto". Eles haviam chamado, provisoriamente, a comunidade de crentes batizados de Igreja de Cristo, mas, aparentemente, esse nome verdadeiro e distinto não havia sido aceito de maneira geral e sem problemas.

E o Senhor prosseguiu: "Em verdade, em verdade vos digo: Por que é que o povo murmura e discute sobre este assunto? Não leram as Escrituras, que dizem que deveis tomar sobre vós o nome de Cristo, que é o meu nome? Porque por este nome sereis chamados no último dia. E todo aquele que tomar sobre si o meu nome e perseverar até o fim, será salvo no último dia. Portanto tudo quanto fizerdes, vós o fareis em meu nome; por conseguinte chamareis a igreja pelo meu nome; e invocareis o Pai em meu nome, a fim de que ele abençoe a igreja por minha causa. E como será a minha igreja, se não tiver o meu nome? Porque se uma igreja for chamada pelo nome de Moisés, então será a igreja de Moisés; ou se for chamada pelo nome de um homem, então será a igreja de um homem; mas se for chamada pelo meu nome, então será a minha igreja, desde que estejam edificados sobre o meu Evangelho. Em verdade vos digo que estais edificados sobre o meu Evangelho; portanto tudo o que invocardes, invocai em meu nome"; portanto, quando invocardes o Pai em favor da Igreja, se o fizerdes em meu nome, o Pai vos ouvirá; e se acontecer de a igreja estar edificada sobre o meu Evangelho, então o Pai manifestará nela as suas próprias obras. Todavia, se não estiver edificada sobre o meu Evangelho, mas edificada sobre as obras dos homens ou sobre as obras do diabo, em verdade vos digo que terão alegria em suas obras por um tempo, porque logo chegará o fim; e eles serão cortados e lançados no fogo. De onde não há retorno. Porque suas obras os seguem, pois por causa de suas obras é que são cortados; portanto, lembrai-vos das coisas que vos disse”. (3 Néfi 27; 4-12) Por essa maneira, confirmou o Senhor como outorga autoritativa, o nome que, por inspiração, foi assumido por seus filhos obedientes: “A Igreja de Jesus Cristo”.

A explanação do Senhor quanto ao único nome pelo qual a Igreja poderia ser apropriadamente conhecida, é irresistível e convincente. Não se tratava da igreja de Leí ou Néfi, de Mosias ou Alma, de Samuel ou Helamã; se o fosse, deveria ser chamada pelo nome do homem a quem pertencesse, da mesma forma como atualmente existem igrejas denominadas segundo os homens, por exemplo, de Calvino, Lutero, Wesley, etc; sendo, porém, a Igreja estabelecida por Jesus Cristo, não poderia levar adequadamente nenhum outro nome senão o dele.

Reiterou, então Jesus aos Doze nefitas muitos dos princípios cardeais que havia dantes enunciado, tanto a eles quanto ao povo em geral; e ordenou que suas palavras fossem escritas, excetuando-se algumas comunicações mais elevadas que lhes proibiu de escrever. A importância de preservarem como um tesouro inapreciável as novas Escrituras foi-lhes demonstrada, com a afirmativa segura de que nos céus se guardavam registros de todas as coisas feitas por direção divina. Aos Doze foi dito que seriam os juizes do seu povo; e em face de tal investidura, foram admoestados à diligência e à devoção. (1 Néfi 12: 9) O Senhor alegrou-se com a fé e pronta obediência dos nefitas entre os quais havia ministrado, e às doze testemunhas especiais, disse: “E agora, eis que a minha alegria é grande, até a plenitude,, por causa de vós outros e também desta geração; sim, até o Pai se alegra , e também os santos anjos , por causa de vós e  desta geração; porque nenhum deles está perdido. Eis que eu quisera que correspondêsseis, porque me refiro aos desta geração que estão agora vivos; e nenhum deles está perdido; e neles minha alegria é completa.” ( 3 Néfi 28 : 30 – 31 ) Sua alegria, contudo, era mesclada com tristeza por causa da apostasia em que as últimas gerações haveriam de cair; isto previa ele como uma condição terrível, que alcançaria seu clímax na quarta geração a partir daquele tempo. (3 Néfi 27: 32).

Crescimento da Igreja Seguido pela Apostasia da Nação Nefita

A Igreja de Jesus Cristo desenvolveu-se rapidamente na terra de Néfi, e trouxe a seus componentes fiéis bênçãos sem precedentes. Até a animosidade hereditária entre nefitas e lamanitas foi esquecida; e todos viviam em paz e prosperidade. Tão grande era a unidade da Igreja, que seus membros possuíam todas as coisas em comum, e “portanto, não havia ricos nem pobres nem escravos nem livres, mas eram  todos  livres e participantes do dom celestial ”,  (4 Néfi 1).

Populosas cidades tomaram o lugar das desoladas ruínas que haviam dominado, ao tempo da crucifixão do Senhor. A terra foi abençoada, e o povo alegrou-se em retidão. “E não havia contendas na terra, em virtude do amor a Deus que existia no coração do povo. E não havia invejas nem disputas nem tumultos nem libertinagens nem mentiras nem assassinatos nem qualquer espécie da lascívia; certamente não poderia haver povo mais feliz entre todos os povos criados pela mão de Deus” (4 Néfi 1: 15, 16).

Nove das doze testemunhas especiais escolhidas pelo Senhor passaram, no tempo determinado, para o descanso, e outros foram ordenados em lugar deles. O estado de abençoada prosperidade, e de posse em comum, continuou por um período de cento e sessenta e sete anos, porém logo depois surgiu uma transformação extremamente aflitiva. O orgulho expulsou a humildade, a ostentação de vestes custosas substituiu a simplicidade dos dias mais felizes; a rivalidade levou a contendas, e a partir daí “não mais tiveram seus bens e suas posses em comum. E começaram a dividir-se em classes; e começaram a organizar igrejas para sim mesmos, a fim de obter lucros; e principiaram a renegar a verdadeira igreja de Cristo” (4 Néfi 1: 25, 26).

As igrejas feitas pelos homens multiplicaram-se, e a perseguição, irmã verdadeira da intolerância, tornou-se generalizada. Os lamanitas de pele vermelha voltaram aos seus caminhos pervertidos, e criaram uma hostilidade assassina contra seus irmãos brancos, e todo tipo de práticas corruptas tornou-se comum entre ambas as nações. Por muitas décadas, os nefitas recuaram diante de seus violentos inimigos, abrindo caminho no rumo nordeste, através do que atualmente constitui os Estados Unidos da América. Por volta do ano 400 da Era Cristã, a última grande batalha foi travada perto da colina Cumorah, próximo de Manchester, no Condado de Ontario, Nova Iorque, EEUU; e a nação nefita foi extinta (Mórmon caps 1-9; Morôni cap. 10). O degenerado remanescente da posteridade de Leí, os lamanitas ou índios americanos, continuaram até o dia de hoje. Morôni, o último dos profetas nefitas, ocultou o registro de seu povo no monte Cumorah, de onde foi tirado, por orientação divina, na corrente dispensação. Esse registro está atualmente diante do mundo, traduzido pelo dom e poder de Deus, e publicado por “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” como: O Livro de Mórmon – Outro Testamento de Jesus Cristo.
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“Constância Em Meio À Mudança”“Para o Vigor da Juventude”“Por Que Manter-se Moralmente Limpo”“A Palavra de Sabedoria – Um Código de Saúde Divino”“O Que os Mórmons Pensam a Respeito de Cristo”“O Testemunho do Profeta Joseph Smith”“Fé, Arrependimento, Batismo e Dom do Espírito Santo: Os Primeiros Princípios e Ordenanças do Evangelho”“As Regras de F锓O Santo Sacerdócio”
Bibliografia:
1- “Um Estudo das Regras de Fé” Considerações das Principais Doutrinas de “A Igreja de Jesus Cristo Dos Santos dos Últimos Dias”, por James E. Talmage, um dos doze Apóstolos da Igreja.2- “Jesus, o Cristo”, do mesmo autor.3- “Estilos Literários da Bíblia” Manual do Instituto de Religião de “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”

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