Kenneth W. Godfrey
Provo, Utah: Maxwell Institute, 1999
Tradutor Elson C. Ferreira – Curitiba/Brasil – 2007
Muitos anos atrás, enquanto eu trabalhava para receber o grau de doutorado na Brigham Young University, eu dei aulas sobre o Livro de Mórmon. A cada Sexta-feira era requerido a todos os estudantes graduados que assistissem a um seminário.
Num desses seminários apareceram dois dos mais respeitados e famosos especialistas da Igreja, discutindo (ou debatendo) a geografia do Livro de Mórmon. Um deles argüiu que havia dois montes Cumôra, um na América Central e outro no Estado de Nova York, e que os eventos descritos no Livro de Mórmon aconteceram todos numa pequena área geográfica na América Central. Outro estudioso contendeu que os Nefitas e Lamanitas tinham raízes nômades, gostavam de caminhar, e, além disso, que a última grande batalha entre estes dois povos provavelmente aconteceram em Nova York. Ele argüiu pela existência de apenas um monte Cumôra. Estes dois gigantes no campo dos estudos do Livro de Mórmon ficaram irados um com o outro e um deles finalmente jurou no calor do seu debate. Eu fiquei atônito com a emoção com a qual cada um deles argüiu por sua posição. Eu descobri então que assuntos relacionados com a geografia do Livro de Mórmon podem engendrar fortes sentimentos e às vezes têm dividido comprometido os Santos dos Últimos Dias. Felizmente os dois estudiosos que conduziam nosso seminário daquele dia concordaram em discordar e foram embora ainda amigos.
Os Santos dos Últimos Dias continuam querendo saber onde aconteceram os eventos descritos no Livro de Mórmon e continuam a haver aqueles que declaram esta ou aquela resposta para certas questões. Um elemento relacionado à questão proposta pelos estudiosos da geografia do Livro de Mórmon é o relato de 1834 sobre a descoberta, em Illinois, de um “lamanita branco”, chamado “Zelph” pelos membros do Acampamento de Sião. Aqueles que apóiam a visão de que a América do Norte foi o local onde aconteceram as últimas batalhas entre nefitas e lamanitas sempre citam esta história como prova de que sua opinião está correta. Entretanto, antes de usá-la como prova para qualquer coisa, um investigação cuidadosa das circunstâncias desta descoberta tem muito a nos ensinar a respeito de como informações históricas necessitam ser examinadas criteriosamente antes de uma tentativa de usa-la numa disputa.
Como um serviço aos historiadores e estudantes de geografia, este documento acessou a possibilidade de serem reais os conhecidos materiais a respeito de Zelph e contribui com uma resposta à questão sobre “quais dos ‘fatos’ relatados nessa história parecem ser mais geralmente apoiados e quais são mais duvidosos”?
Em 3 de Junho 1834, uma milha ao sul do atual Valley City, Illinois, em Pike County, no topo do Naples Russell Mound Nº 8, membros do Acampamento de Sião, foram localizados alguns ossos, incluindo um fêmur quebrado e uma flechada, a aproximadamente um pé abaixo da superfície da terra. Joseph Smith recebeu por revelação sobre sua identidade e alguns outros fatos a respeito das circunstâncias em que ele morreu.
Sete membros do acampamento de Sião escreveram ou ditaram relatos da descoberta de Zelph, mas Joseph Smith não registrou nada além do que já sabemos a respeito do que aconteceu nesse dia. Entretanto, numa carta que escreveu no dia seguinte à sua esposa Emma, ele disse:
“Durante toda a nossa jornada, no meio de tão grande companhia social de homens honestos e sinceros, caminhamos sobre as planícies dos nefitas, relatando ocasionalmente a história do Livro de Mórmon, perambulando pelos montes daquele que já foi o amado povo do Senhor, escavando seus crânios e ossos, como prova de sua divina autenticidade, e fitando um país de fertilidade, o esplendor e a bondade tão indescritíveis. Todos passaram pela morte num tempo não anunciado.” 1
Obviamente, Joseph e seus companheiros estavam inspirados e rejubilantes enquanto se aproximavam da sua terra da promissão no Missouri. O território em que estavam era vasto, rico e não colonizado. Os fantasmagóricos montes de antigos habitantes, entretanto, lembrou a Joseph e seus companheiros da terra que já havia sido ocupada. Enquanto eles seguiam, falavam a respeito do Livro de Mórmon. Joseph chamou aquela terra de “as planícies dos nefitas”. Eles acreditavam que aqueles montes pertenceram “àquele que já havia sido o povo do Senhor”, e interpretaram o simples fato, que os crânios e ossos realmente foram considerados como evidência da divina autenticidade do livro.
Aqueles que escreveram a respeito da descoberta de Zelph geralmente são consistentes uns com os outros, mas deixam uma quantidade de detalhes em dúvida. Quem foi Zelph? Ele era um nefita ou um lamanita? Quando ele morreu? A que exército ele pertencia? As respostas a essas questões não podem ser dadas com certeza à partir das complexas fontes históricas que resultaram deste evento. Isto significa que os estudiosos do Livro de Mórmon devem continuar na tentativa de desenhar implicações deste notável incidente, apesar de que ele não diminue o fato de que Joseph Smith foi movido pelo espírito de revelação ao falar a respeito de Zelph e seu nobre passado em conexão com os povos do Livro de Mórmon ou seus descendentes.
Os homens que escreveram a respeito do achado de Zelph
O relato de Reuben McBride sobre a descoberta de Zelph é o mais curto e menos detalhado que os outros, mas pode ter sido o primeiro a ser registrado, tendo sido escrito possivelmente no dia em que ele ocorreu, apesar de que em nenhum caso estamos completamente certos de quando as informações foram escritas. McBride registrou que Zelph era um grande guerreiro sob o Omandagus, que uma flecha havia sido encontrada entre suas costelas, e que ele era um lamanita branco que era conhecido desde o Atlântico até as Montanhas Rochosas. 2
Outro membro do Acampamento de Sião, Moses Martin, de 22 anos de idade, também registrou o achado de Zelph. Martin estava presente quando a escavação ocorreu e ficou impressionado com o tamanho do esqueleto e com a visão de Joseph Smith sobre o profeta anônimo, mas ele não relatou nada sobre ele ser um lamanita branco ou se serviu sob um profeta chefe chamado Omandagus ou Onandagus. Em vez disso, no relato de Martin o homem morto era “um poderoso profeta” 3
Wilford Woodruff registrou que enquanto o acampamento viajou, eles visitaram muitos montes que provavelmente foram erguidos “nefitas e lamanitas”. “Visitamos um destes montes”, escreveu Wilford Woodruff, “e vários dos irmãos cavaram e retiraram os ossos de um homem” De acordo com ele, Joseph Smith havia dito numa visão aberta que os ossos eram daquele lamanita branco cujo nome era Zelph, um guerreiro sob o grande profeta que era conhecido desde o Monte Cumôra até as Montanhas Rochosas. Esta é a primeira fonte para estes dados geográficos. (No relato de Reuben McBride, Zelph é que era largamente conhecido). Mais tarde em sua vida o Presidente Woodruff escreveu dois outros registros deste incidente, mas seu relato é essencialmente idêntico. 4
O maior e mais detalhado registro contemporâneo da descoberta de Zelph foi escrito por Levi Hancock, um dos últimos Presidentes dos Sententas. Hancock relata que a terra era chamada de Desolação e que Onendagus era um rei e um bom homem, mas não diz nada a respeito de ele ser um profeta, entretanto ele nos informa que Zelph perdeu todos os seus dentes, exceto um, o que implica que Zelph era relativamente idoso quando morreu. Ele não faz menção so Monte Cumôra ou da fama de Onendagus, mas escreveu que Zelph era um lamanita branco.
Em 1845 o Times and Seasons publicou um relato de Heber C. Kimball sobre o achado de Zelph sob o título Extracts from H. C. Kimball's Journal. Kimball declara que Zelph foi morto na “última destruição entre os lamanitas” mas não fica claro se era a final destruição dos nefitas ou a última batalha do povo de Zelph, onde ele estava. Pode referir-se à batalha entre nefitas e lamanitas ou de lamanitas contra lamanitas, se supormos que os lamanitas podiam ter profetas entre eles. O relato de Kimball também é único no que ele diz que foi com Joseph Smith ao topo do monte e relata que eles sentiram-se movidos a cavar no monte, mas primeiro tiveram que mandar buscar uma pá e uma enxada. Os outros primeiros relatos não dizem que Joseph Smith estava presente quando os ossos foram cavados, em vez disso eles declaram ou dão implicações de que ele não se envolveu senão mais tarde. De acordo com Kimball, era tarde do dia quando, continuando na jornada ao oeste que o Profeta fez a identificação da pessoa cujos ossos haviam sido encontrados. Isto é consistente com a declaração de Hancock de que Joseph Smith falou “enquanto o acampamento foi movido da terra”. O registro de Kimball não faz explícita referência aos nefitas e ele vê o valor da visão Joseph primariamente não no que é revelado a respeito dos antigos habitantes daquela região mas em como ele mostrou que “Deus estava tão preocupado com” o acampamento e especialmente “com seu servo, o Irmão”. 5
A História de Zelph e a História da Igreja
Em 1842, Willard Richards, então historiador da Igreja, recebeu a designação de compilador um grande número de documentos e produzir a história da Igreja. Ele trabalhou neste material entre os dias 21 de Dezembro e 27 de Março de 1843. Richards, que não havia se unido à Igreja até 1836, socorreu-se com os registros e relatos de Heber C. Kimball, Wilford Woodruff e talvez de outros, para suas informações a respeito da descoberta de Zelph. Combinando as fontes disponíveis e talvez usando relatos orais dos mesmos membros do Acampamento de Sião, mas escrevendo como se ele fosse Joseph Smith, o historiador Richards esboçou a história de Zelph como ela aparece nos Manuscritos da História da Igreja,Livro A-1. Com respeito aos pontos relativos à geografia do Livro de Mórmon, Richards escreveu que “Zelph era um lamanita branco, um homem de Deus que foi um guerreiro e chefe sob o grande profeta Onandagus, o qual era conhecido desde o [monte Cumôra está riscado no manuscrito] Mar do Leste até as Montanhas Rochosas. Ele foi morto em batalha pela flecha encontrada entre suas costelas, durante a [última riscada] grande luta com os lamanitas” [e nefitas riscado]. 7
Após a morte de Joseph Smith, o Times and Seasons publicou a série "istory of Joseph Smith.” Quando a história da descoberta de Zelph apareceu na edição de 1º de Janeiro de 1846, a maioria das palavras riscadas do manuscrito de Richards, por alguma razão desconhecida, estavam incluídas junto com a informação de que o nome do profeta era Omandagus. A referência ao monte Cumôra tirado do diário de Wilford Woodruff sem emendas, ainda estava incluído na narrativa, como era a frase “durante a última grande luta dos lamanitas e nefitas”. 8
A primeira edição de 1904 dos sete volumes da History of the Church, editada por B. H. Roberts, repete a versão do relato manuscrito de Willard Richards, entretanto, em 1948, depois que Joseph Fielding Smith havia se tornado o historiador da Igreja, explicita referências ao monte Cumôra e os nefitas foram reintroduzidos na narrativa. O frazeado tem continuado até o presente em todas as reimpressões. 9
Se a história da Igreja fosse revisada hoje, usado padrões históricos modernos, os leitores seriam informados que Joseph Smith não escreveu nada sobre a descoberta de Zelph, e que o relato da descoberta do esqueleto em Pike County é baseado nos diários de sete membros do Acampamento de Sião, alguns dos quais foram escritos bem depois que o evento aconteceu. Nós estaríamos certos de que os membros do Acampamento de Sião cavaram o esqueleto próximo ao Rio Illinois, aproximadamente em Junho de 1834. É igualmente certo que Joseph Smith fez declarações a respeito da pessoa morta e sua colocação histórica. Nós aprenderíamos que declarações obscuras atribuídas a ele derivaram de sua visão, tão contrárias para serem implícitas ou supostas, seja por ele mesmo ou por outros. Nada nos diários sugere que o próprio monte tenha sido descoberto por revelação.
Além disso, seria dito aos leitores que a maioria das fontes concordam que Zelph era um lamanita branco que guerreou sob as ordens de um líder chamado Onandagus (escrito de várias formas. Além disso, o que Joseph disse aos seus homens não é inteiramente claro, a julgar pelas variações nas fontes disponíveis. As datas referentes ao homem Zelph também não são claras. Expressões tais como “grandes lutes entre os lamanitas”, se acuradamente registradas, podem se referir a um longo período depois de fechadas as narrativas do Livro de Mórmon, bem como ao quarto século depois de Cristo. Entretanto, nenhuma das fontes anteriores à compilação de Willard Richards diz que a morte de Zelph ocorreu em batalha contra os nefitas, apenas que ele morreu “em batalha” quando o não identificado povo de Onandagus estava engajado numa grande guerra “entre os lamanitas”.
Zelph foi identificado como um “lamanita”, uma concordância em todos os relatos. Este termo pode se referir à categoria étnica e cultural mencionada no Livro de Mórmon como autores da destruição dos nefitas, ou pode se referir mais geralmente a um descendente dos primeiros lamanitas, e pode ter sido considerado em 1834 como o equivalente a “índio” (ver, por exemplo, D&C 3:18, 20; 10:48; 28:8; 32:2). Nada nos relatos pode colocar a questão como específica à identidade étnica de Zelph.
Joseph Smith e a Geografia do Livro de Mórmon
O que exatamente Joseph Smith acreditava em diferentes épocas de sua vida com respeito à geografia do Livro de Mórmon em geral, também é indeterminável. Restam apenas alguns indícios, por exemplo, enquanto a Igreja estava aquartelada em Nauvoo, Joseph leu um famoso livro de seus dias escrito por John L. Stephens, Incidents of Travel in Central America, Chiapas, and Yucatan,10 que John Bernhisel lhe havia enviado do Leste. Numa carta datada em 16 de Novembro de 1841, o Profeta agradeceu a Bernhisel e escreveu a respeito do Livro que “de todas as histórias que haviam sido escritas pertinentes à antiguidade deste país, esta é a mais correta”, e “apóia o testemunho do Livro de Mórmon” 11 Dez meses mais tarde, o Times and Seasons imprimiu uma entusiástica revisão do volume de Stephens. John Taylor era o editor, apesar de que pouco antes Joseph Smith ter anunciado sua própria responsabilidade editorial desse periódico. O não mencionado escritor da revisão (provavelmente Wilford Woodruff) declarou que “apenas aprendemos ... [que] a cidade de Zarahenla . . . estava sobre está terra [da Guatemala, cujas ruínas Stephens estava se reportando]”.
Outro dado ainda parece refletir uma visão diferente e o faz incerto exatamente está concepção geográfica, se é que um simples deles prevaleceu entre os primeiros líderes da Igreja. Evidentemente a visão de Joseph Smith sobre este assunto foi aberta para futuros conhecimentos. Assim, em 1834, quando Zelph foi encontrado, Joseph acreditava que a porção da América sobre a qual eles haviam viajado era “as planícies dos nefitas” e que seus ossos “provam” a autenticidade do Livro de Mórmon. Em 1842, evidentemente ele acreditava que a maior parte da história nefita aconteceu na América Central. Tanto quanto é possível reconciliar estas duas visões – por exemplo, acreditando que a maior parte da história nefita aconteceu na América Central enquanto apenas certas batalhas ou excursões aconteceram em Illinois 12 é provável que o pensamento dos primeiros líderes da Igreja a respeito da geografia do Livro de Mórmon era assunto para modificação, indicando que eles mesmos não viram esse assunto como determinado.13
A Geografia e os Escritores Mórmons do Século XIX
Entretanto, depois da sua chegada na Grande Bacia, parece que a maioria dos membros acreditava que a história dos nefitas foi grande o suficiente para acomodar todo o hemisfério. Líderes da Igreja permanecem cautelosos e com respeito à tentativas de identificar eventos em particular descritos no Livro de Mórmon estão unidos quanto à visão de que o monte Cumôra perto da casa de Joseph Smith foi o local onde Mórmon e Morôni depositaram as placas de ouro que mais tarde ele traduziu.
O Presidente George Q. Cannon escreveu em 1887 um editorial de abertura no Juvenile Instructor, que clama por alguma tentativa relativa à geografia do Livro de Mórmon e notou que “há considerável ansiedade manifestada [entre os Santos do Últimos Dias] para identificar os locais das antigas cidades dos nefitas para localizar os locais exatos onde as cenas descritas no Livro de Mórmon foram encenadas”. Cannon então declarou que há apenas “uns poucos tempos que podem ser identificados”. O “Monte conhecido como Cumôra entre os nefitas”, escreveu ele, “e como Ramá entre os jareditas, é um local com o qual estamos familiarizados, sendo o local onde Morôni escondeu os registros de seus pais, e para o qual o Profeta Joseph foi direcionado per seu anjo guia”. “Joseph Smith” escreveu ele, “disse a alguns de seus seguidores que o Rio Magdalena é o Rio Sidon do Livro de Mórmon” e que Leí e sua família “desembarcou perto da cidade chilena de Valparaiso”. Canon acreditava que “além destes poucos pontos, pode ser dito que os locais e cidades dos nefitas são deixados como conjecturas”. Concluindo seu editorial, o Presidente Cannon afirmou que ele não confiava em vários autores haviam preparados como auxílios no estudo do Livro de Mórmon e escreveu, “Eu penso que seria melhor se não tivéssemos nenhum mapa do que termos tantos mapas incorretos”. 14
B. H. Roberts no terceiro volume de New Witness for God (1922), chegou a duvidar da validade da declaração do “desembarque no Chile” atribuída a Joseph Smith. 15 Mais tarde Frederick Williams III mostrou que esta declaração não se originou com Joseph Smith, e mesmo que pudesse ser atribuída ao Profeta, então devemos ter alterado sua opinião sobre o assunto porque no Times and Seasons de 1842 ele disse que o povo de Néfi desembarcou “um pouco ao sul do Istmo de Darien”, que fica a duas mil milhas do Chile.
Com respeito às placas, cuidadosos estudiosos do Livro de Mórmon aprenderam que Mórmon enterrou todas as outras placas em sua posse no monte da batalha final nas não aquelas recebidas por Joseph Smith (ver Mórmon 6:6). Aquelas que estavam na posse de Morôni pó,r pelo menos 35 anos, e presumivelmente foram enterradas em algum lugar (ou por que separado do primeiro arquivo?). Aquele local era em Nova York ,no monte Cumôra.16
A advertência do Presidente Cannon com respeito à geografia do Livro de Mórmon se aplica mesmo hoje em dia, entretanto, líderes da Igreja do passado bem como os atuais não desencorajam estudiosos e pesquisadores em seus estudos a respeito da geografia do Livro de Mórmon. Algumas vezes eles têm até mesmo promovido sérias pesquisas. Por exemplo, na manhã do dia 23 de Maio de 1903, o Presidente Joseph F. Smith chamado para ordenar representantes de muitas partes do Estado de Utah que haviam se reunido no campus da Brigham Young Academy, em Provo, para uma convenção de dois dias sobre o Livro de Mórmon. Muitos, se não todos os principais estudiosos do Livro de Mórmon estavam com o Presidente Smith e seu conselheiro Anthon H. Lund no encontro stand. Delegados ouviam a George Reynolds, B. H. Roberts, Dr. M. H. Hardy, Professor Benjamin Cluff, Charles W. Penrose, Dr. James E. Talmage, e outros enquanto estes apresentavam, por vezes, diferentes opiniões a respeito do Livro de Mórmon, o local de Zaraenla e como pronunciar corretamente os nomes das pessoas mencionadas no texto do Livro de Mórmon.
As discussões que se seguiam a cada apresentarão eram vigorosas e o Presidente Smith de tempos em tempos sugeria que a localização de várias cidades nefitas “não eram de vital importância, e se houvesse diferença de opinião nesta questão, isto não afetaria a salvação do povo”. Quando a convenção se aproximava de seu encerramento, o Presidente Smith novamente “preveniu os estudiosos contra fazer uma questão unida — o local das cidades e terras — de igual importância que as doutrinas contidas no Livro [de Mórmon]”. O Presidente Anthon H. Lund “aconselhou os presentes a estudar o Livro de Mórmon e serem guiados pelo conselho do Presidente Smith em seus estudos” 17 Nenhum dos discurçantes usaram a história de Zelph para aumentar seus argumentos quanto a onde aconteceu a história do Livro de Mórmon.
Novamente, em 1921, quando o comitê composto pelos irmãos George F. Richards, Orson F. Whitney, James E. Talmage, Anthony W. Ivins, Joseph Fielding Smith, e Melvin J. Ballard, preparava uma nova edição do Livro de Mórmon, decidiram “dar a certos irmãos uma oportunidade de declararem suas opiniões a respeito da geografia do Livro de Mórmon”, nenhum estudioso que falou para o comitê usou a história de Zeph como evidência para sua posição.
Um quarto de século mais tarde, entretanto, Joseph Fielding Smith usou a descoberta de Zelph para apoiar sua opinião de que o Monte Cumôra no Estado de Nova York “é o exato monte mencionado no Livro de Mórmon”. 18
O debate a respeito do relacionamento de Zelph com a geografia do Livro de Mórmon provavelmente continuará desde que os fatos à mão não permitam uma explicação decisiva do assunto. Portanto, os historiadores devem continuar a reunir e analisar minuciosamente as evidências e também estarem cautelosos em tirar conclusões.
Algumas Conclusões Cautelosas
Se, como Sorenson e outros escritores sugerem, a maior parte da história do Livro de Mórmon aconteceu na Mesoamérica, o que podemos concluir sobre a descoberta dos ossos de um lamanita em Illinois bem como as placas de ouro em Nova York? Parece possível que alguns lamanitas podem ter vagado pelo norte depois que Morôni fechou sua narrativa e travou batalhas no solo Americano e a descoberta de Zelph pode ser usada pelos Santos dos Últimos Dias como a primeira evidência. Sabemos também que as placas traduzidas por Joseph Smith vieram do monte localizado perto de sua casa onde foram depositadas por Morôni.
Eu espero que algum dia Morôni explique mais completamente onde ele estava durante aquelas últimas três décadas de sua vida, e espero que Zelph esteja ao seu lado; e depois que Morôni tiver terminado, espero que Zelph conte sua história, a geografia e tudo.
Mas até que este dia chegue os Santos dos Últimos Dias, inclusive os estudiosos, devem se lembrar do conselho dado pelo Presidente Joseph F. Smith em 1903 e não permitam que desacordos a respeito da localização exata das cidades do Livro de Mórmon e seus locais dividam-nos e causem sentimentos de má vontade para inflamá-los. Acredito que Joseph Smith teria abraçaria aqueles que tomam seriamente o estudo do Livro de Mórmon, estudam-no com fé e tentam aprender tudo o que ele ensina inclusive a localização das suas cidades, campos de batalhas, rios e cursos de água. Se a informação da descoberta de Zelph é útil, então devemos ser gratos de que este evento da história do Livro de Mórmon aconteceu. A mensagem nas placas do Livro de Mórmon de que Jesus é o Cristo e que seus profetas foram pessoas reais que falaram por Deus é bem mais importante que a localização de Zaraenla e Desolação.
Eu concordo com o historiador Don Cannon de que “não rejeitamos a história de Zelph e seu relacionamento com a geografia do Livro de Mórmon”, ao contrário, devemos estar atentos de como está história veio a nós, bem como ela se tornou parte da história da Igreja.19 Espero que algum dia possamos entender completamente como Zelph, Onandagus, e outros não mencionados no Livro de Mórmon se encaixam no divino esquema das coisas neste, o Continente Americano.
Notas
1. The Personal Writings of Joseph Smith, comp. and ed., Dean C. Jessee (Salt Lake City: Deseret Book, 1984), 324.
2. Reuben McBride, Diary, 3 June 1834, LDS Church Archives. Para um relato mais detalhado a respeito do diário de McBride e do fato que ele próprio duplica, ver Kenneth W. Godfrey, "Zelph," BYU Studies 29/2 (1989): 34.
3. Moses Martin, Diary, LDS Church Archives.
4. Wilford Woodruff, Diary, LDS Church Archives. Esta anotação está na página do dia “8 de Maio de 1834”. Ver Scott Kenney, ed., Wilford Woodruff's Journal (Midvale, Utah: Signature Books, 1983), 1:10. John L. Sorenson, numa carta ao autor observa que o único período em que um índio poderia ser conhecido, mesmo próximo das Montanhas Rochosas na parte leste do continente é igualmente limitado ao Período Middle Woodland ou à cultura Hopewell, datando dentro dos limites dos anos 1 a 500 A.D. É possível, entretanto menos provavelmente, que algo da mesma situação generalizada, comunicação inter-regional pudesse datar do período de 1.300 a 1.600 A.D. no Mississipi. Certamente também é possível que o local da sepultura de Zelph, que estava na superfície do topo do monte, datado consideravelmente mais antigo que o período da construção do monte. Para informações a respeito de conexões entre a Mesoamérica e os índios Hopewell, veja James B. Griffin, "Mesoamerica and the Eastern United States in Prehistoric Times," in Handbook of Middle American Indians (Austin: University of Texas Press, 1966), 4:111–31; David S. Brose and N'omi Greber, Hopewell Archaeology (Kent, Ohio: Kent State University Press, 1979). Onandaga é o nome de uma tribo de índios que pertenciam à confederação de 5 nações dos Iroquois que ocupavam upper do Estado de Nova York. Ver John Mohawk, "Origins of Iroquois Political Thought," Northeast Indian Quarterly 3 (summer 1986): 16–20.
5. Heber C. Kimball, Autobiography, LDS Church Archives. Isto provavelmente foi escrito depois de os Santos chegarem em Salt Lake Valley. Há evidências de que a autobiografia foi tirada do Times and Seasons 6, 1 February 1845, 788.
6. George A. Smith, Journal, 2 June 1834, LDS Church Archives. A seguinte nota foi aberta: “uma narrativa do que é publicado na História da Igreja”.
7. Joseph Smith, Manuscript History of the Church, Book A-1, 3 June 1834, LDS Church Archives, see n.1, addenda, p. 5. Uma segunda cópia do mesmo material conhecido como Manuscript History of the Church, Book A-2, aparentemente foi toda escrita pela mão de Wilmer Benson. Ela difere da versão de Richards em uma dúzia de detalhes de soletração, pontuação e frazeado mas apenas duas diferenças são substanciais. Onde Richards descreve Zelph como “um homem de Deus”, Benson escreve “um filho de Deus”, e enquanto Richards escreve “uma grande luta com os lamanitas”, lê-se no registro de Benson “a última luta com os lamanitas”.
8. Times and Seasons 6, 1 January 1846, 1076.
9. Joseph Smith, He Church (Salt Lake City: Deseret News, 1902), 2:79–80. Compare com a edição de 1948, pp. 79–80. Fletcher B. Hammond declara que Preston Nibley, Assistente do Historiador da Igreja, havia o autorizado a dizer que “a edição de 1904 do Documentary History of the Church, Vol. II, páginas 79 e 80, registra corretamente o incidente de 'Zelph', e que a parted a edição de 1934 [1948] da mesma história que difere dela é errônea. Que devia dizer que o profeta não declarou: “Onandagus que foi conhecido deste o monte Cumôra, ou, o mar do leste até as Montanhas Rochosas’; mas que ele disse: 'Onandagus, que foi conhecido desde o mar do leste até as Montanhas Rochosas’; ele não disse 'Zelph foi morto durante a última grande luta dos lamanitas e nefitas’ mas ele disse que ‘Zelph foi morto numa batalha... durante uma grande luta com os lamanitas”. Entretanto, como mostramos anteriormente, é impossível saber exatamente o que Joseph disse a respeito desse assunto. Portanto, até mesmo a declaração de Preston Nibley pode atribuir a Joseph Smith mais do que os fatos garantem. Fletcher B. Hammond, Geography of the Book of Mormon (Salt Lake City: Utah Printing, 1959), 103, see pp. 100–103.
10. See John L. Stephens, Incidents of Travel in Central America, Chiapas, and Yucatan, 2 vols., ed. Richard L. Predmore (New York: Dover, 1969).
11. Carta de Joseph Smith a John M. Bernhisel, 16 de Novembro de 1841, em Jessee, Personal Writings, 502. Para uma discussão de anotações em outro diário concernente à possível localização das terras do Livro de Mórmon, ver Ross T. Christensen, The River of Nephi: An Archeological Commentary on an Old Diary Entry, "Newsletter and Proceedings of the Society for Early Historic Archaeology 158 (December 1984): 1–9. Christensen discute algumas anotações nos diários de Charles L. Walker, Reuben McBride, e Levi Hancock, e então trata o tópico “Quanto o Profeta Sabia?” (a respeito da geografia do Livro de Mórmon e declarações arqueológicas).
12. Ver Donald Q. Cannon, "Zelph Revisited," in Regional Studies in Latter-day Saint History: Illinois, ed. H. Dean Garrett (Provo, Utah: BYU Department of Church History and Doctrine, 1995), 107.
13. Ver, por exemplo, John L. Sorenson, An Ancient American Setting for the Book of Mormon (Salt Lake City: Deseret Book and FARMS, 1985), 8–23; John E. Clark, A Key for Evaluating Nephite Geographies, Review of Books on the Book of Mormon 1 (1989): 20–70. Mesmo apesar de que a maioria dos eventos da história nefita possam ter acontecido dentro de uma área relativamente pequena, é evidente que transmissões culturais irradiaram da América Central, tanto para o norte quanto para o sul; ver Mesoamericans in Pre-Spanish South America, in John W. Welch, ed., Reexploring the Book of Mormon (Provo, Utah: FARMS, 1992), 215–17, and Mesoamericans in Pre-Columbian North America, in Welch, ed., Reexploring, 218–20.
14. George Q. Cannon, “Editorial,” Juvenile Instructor 22/4 (1887): 221.
15. B. H. Roberts, New Witnesses for God (Salt Lake City: Deseret News, 1951), 3:501–2.
16. This information was shared with me by John L. Sorenson, in a letter dated 1 June 1999.
17. “Book of Mormon Students Meet,” Deseret Evening News, 25 May 1903, 7.
18. Joseph Fielding Smith, Doctrines of Salvation: Sermons and Writings of Joseph Fielding Smith, comp. Bruce R. McConkie (Salt Lake City: Bookcraft, 1956), see 3:232–36.
19. Cannon, “Zelph Revisited,” 109.
Nenhum comentário:
Postar um comentário