LINGUÍSTICA
- A Linguagem Desaparecida do Livro de Mórmon
Este é o 10º artigo mais lido desde a criação deste blog. Confira:
por
George Potter
www.nephiproject.com
Tradutor Elson C. Ferreira – Curitiba, Dez/2009
Na última pesquisa de Gary Urton, Dumbarton Oaks, Professor de Estudos
Pré-Colombianos do Departamento de Arqueologia da Universidade de Harvard,[i] apoiado pelas tradições orais, afirma que os
antigos Incas tinham uma linguagem escrita que se perdeu.[ii]
“Quem quer que queira
julgar isso [o uso dos quipus] como algo esparto ou que estas
pessoas eram rudimentares, mas eu julgo que é certo que naquilo em que eles se
aplicaram, o conseguem melhor do que nós.”[xii]
“Dois espanhóis
saíram juntos da cidade de Ica e foram para a cidade de Castro Virreina, e,
chegando ao tambo de Cordoba, que fica a um dia de viagem de
Ica, um deles ficou ali e o outro continuou sua viagem; neste tambo, um
guia nativo foi dado a este último viajante, que o acompanhou a Castro
Virreina. Este ultimo guia guia matou o espanhol na Estrada e retornou
para o tambo (instalações junto às estradas). Depois que algum
tempo passou, já que o espanhol era muito conhecido, foi considerado
desaparecido. O governador de Castro Virreina, que naquele tempo era Pedro de
Cordoba Mejia, um nativo de Jaen, fez uma investigação especial para descobrir
o que havia acontecido, e no caso de este homem estar morto, enviou um grande
número de índios para procurar seu corpo na puna e no deserto, mas nenhum sinal
dele pode ser encontrado, nem se pode descobrir o que havia acontecido com ele
até mais de seis anos após ele ter sido morto. Por acaso o corpo de outro
espanhol foi encontrado numa cova do mesmo deserto. O governador ordenou que
este corpo fosse trazido para a praça para que fosse visto. Depois que o corpo
foi trazido, ele se parecia com aquela pessoa que o índio havia matado, e
acreditando que era ele, o governador continuou com a investigação para
descobrir quem era o assassino. Não encontrando nenhum traço de evidência
contra ninguém, ele foi aconselhado a fazer um esforço para descobrir a
identidade do índio que foi designado como guia para o tambo de
Cordoba. Os índios saberiam disso a despeito do fato de terem se passado mais
de seis anos, por meio do registro do quipos em que teriam
guardado memória dele. Com isto o governador avisou aos caciques (chefes
de tribo) e quipo camayos. Depois que os quipos lhe
foram trazidos, ele continuou com a investigação e os quipo camayos descobriram
através de seus quipos a identidade o índio que havia siso
designado como guia para o forasteiro espanhol. O guia foi imediatamente
trazido como prisioneiro de sua cidade, chamada Guaytara… Tendo apresentado sua
declaração na qual negou o crime, ele foi questionado sob tortura, e acabou
confessando ter matado o homem e mostrou à polícia onde estava o corpo. Os
oficiais de polícia foram como ele às punas (planalto andino) e
encontraram o corpo onde o índio o havia escondido.”[ix]
Mencionado algumas
vezes como o Plinio do Novo Mundo, José de Costa, um missionário jesuítas,
escreveu no Século XVI que os quipus eram “escritos autênticos
e testemunhais”. Ele escreveu ainda: “Vi uma dessas sequências de caracteres na
qual uma mulher havia trazido um testemunho escrito de toda sua vida e usou-o
para confessar, exatamente como eu teria feito com palavras escritas numa folha
de papel.” [x]
Além do fato de que
todos os traços de linguagens escritas do Peru antigo tenham se perdido seja um
cumprimento direto da profecia de Jacó, o profeta do Livro de
Mórmon já havia escrito:
1 "Ora, então aconteceu que eu, Jacó, tendo
ensinado muito meu povo com palavras (e não posso escrever senão poucas de
minhas palavras, devido à dificuldade de gravá-las em placas) e sabemos que as
coisas que escrevemos em placas perdurarão.
2 Tudo o que escrevermos,
porém, que não seja em placas, perecerá e desaparecerá. (Jacó 4:1, 2 ênfase adicionada)
O uso que Jacó faz
da palavra “perecerá” implica numa profecia incondicional de que todos os
registros escritos dos nefitas, com exceção das placas de metal de Néfi,
desapareceriam. Isto parece ser exatamente o que aconteceu no Peru. Em
contraste, estima-se que aproximadamente cinqüenta mil exemplos conhecidos de
registros pré-colombianos em monumentos, murais e cerâmica, ainda existem na
Mesoamérica.[iii]
Uma vez
desaparecida, é possível que uma linguagem escrita retorne do pó? O Livro de
Mórmon contém uma profecia de Isaías que frequentemente é usada em referência
ao próprio Livro, entretanto, o versículo também pode ser aplicado à descoberta
da “fala” atual e “linguagem” daqueles que foram destruídos:
“Pois os que forem
destruídos {os nefitas} falar-lhes-ão da terra e sua fala será fraca desde o pó e a sua voz será como a
de alguém que evoca espíritos; pois o Senhor Deus dar-lhe-á poder para
sussurrar a respeito deles, como se fosse da terra; e sua fala sussurrará desde
o pó.” (2 Néfi 26:16)
Num túmulo empoeirado
e desprotegido no Peru, Urton descobriu vinte e um exemplares de seqüência de
caracteres de nós amarrados num cordel. O enredo de várias dúzias de sequências
de caracteres amarrados são chamados quipus.
Fonte: Wikipedia
Quipus: (do quíchua cusquenho Quipu ou Khipu, AFI: [ˈkʰipu],
"nó")
era um instrumento utilizado para comunicação,
mas também como registro contábil e como registros mnemotécnicos entre os incas. Eram feitos da
união de cordões que podem ser coloridos ou não, e poderiam ter enfeites, como
por exemplo ossos e penas, onde cada nó em cada cordão significava uma mensagem
distinta. Cada cordão poderia ter um ou mais nós, ou nenhum nó, ou um nó na
ponta, um nó na base, enfim, tudo era comunicado e transportado rapidamente
ao imperador Inca no centro do império, Cuzco.
Os cordões eram feitos de lã de lhama, alpaca, ou de
algodão. A posição do nó, bem como a sua quantidade, indicavam valores
numéricos segundo um sistema decimal.
As cores do cordão, por sua vez, indicavam o item que estava sendo
contado, sendo que para cada atividade (agricultura, exército, engenharia,
etc.) existia uma simbologia própria de cores.
O transporte dos quipos era realizado por rápidos
mensageiros, que corriam por dois quilômetros pelas trilhas incas levando
o quipu contendo as informações a serem transmitidas, até o
próximo posto de mensageiros, onde aguardava um mensageiro descansado e pronto
para continuar o transporte do quipu.
Devido ao fato de
que os incas considerarem alguns dos seus quipus sagrados, os
espanhóis ordenaram sua destruição, e em algum ponto da história acreditou-se
que todos os quipus haviam sido queimados.
Cada tipo de nó de
um quipu e a cor de cada cordel tinha seu próprio significado
lido apenas por alguém que tivesse conhecimento do código. Desse modo, sob o
olhar de alguém destreinado, um quipu que poderia ser
considerado como uma peça decorativa pendurada numa parede e que, na realidade,
era um impressionante código binário capaz de cobrir grandes montantes de
informação[iv].
O antropólogo Urton
observa: “… é importante apreciar o papel desempenhado pelos antigos registros
indígenas de gravação, em particular o quipu, o registro e na
gravação das histórias e mitos dos incas primeiros tempos coloniais. Quipus,
derivado da palavra do idioma quechua para “nó” era vinculada
a cadeias de caracteres amarrados e tingidos, que eram usadas pelos incas para
registrar informações estatísticas que poderiam ser interpretadas, de alguma
maneira que nós ainda não entendemos completamente, por especialistas
chamados quipucamayoqs (‘fazedores de nós ou guardiões,
detentores’) nas narrativas históricas do passado inca.[vii]
Cobo, um dos
primeiros cronistas, escreveu o seguinte a respeito dos quipos:
“Através desses
dispositivos de gravação e registros, os incas conservaram a memória dos seus
atos, e dos responsáveis pela superintendência e dos contabilistas… Ao explicar
seu significado, os índios que o conheciam relataram muitas coisas a respeito
dos tempos antigos que estavam neles contidos. Havia pessoas designadas para
fazer esse trabalho. Esses oficiais eram chamados de quipo camayos,
e eram semelhantes aos nossos historiadores, escritas e contabilistas, em quem
os incas tinham grande confiança.”[viii] O Padre Cobo
apresentou um registro com o qual estava familiarizado que demonstrava que
os quipos registravam informações históricas.
Atualmente os
arqueólogos descobriam aproximadamente uns 700 quipus, quase todos
tendo sido descobertos em túmulos empoeirados. Sua tecnologia de espaços e nós
para armazenar informações pode ser primitiva, mas na verdade ela era bastante
avançada. Quinhentos anos depois da queda do Império Inca, os computadores
foram inventados.
Estas máquinas
digitais do Século XX usam um código binário de oito “bites” para armazenar
dados. Os nós apresentam 128 possíveis permutações, multiplicadas por 24 cores.
Desse modo o código usado pelos mantenedores dos cordéis lhes provêm 1.536
unidades de significados diferentes. Isto se compara aos sinais cuneiformes dos
siberianos, que são estimados entre 1.000 e 1.500 sinais, e dobra o número de
sinais dos hieróglifos dos antigos egípcios e dos maias da América Central.[xi] Além disso, Costa pode ter estado
certo quando escreveu há quase cinco séculos:
O que torna os vinte
e um quipus no estudo de Urton tão especiais é que eles podem
conter um dispositivo Inca para decifra, similar à famosa Pedra de
Roseta que foi usada para decifrar os hieróglifos egípcios. Esta pedra
atualmente se encontra no Museu Nacional Britânico e foi a chave que destravou
nosso conhecimento do antigo Egito. Os vinte e um quipus em
Harvard forem descobertos em ruínas da cidade inca de Peruchuco. Sete
destes quipus iniciam com a mesma sequência binária de nós.
Acredita-se que estas sequências idênticas indicam o nome de ‘Peruchuco,’ o
lugar de onde os quipus vieram. Os cientistas esperam que
possam usar esta informação e, com a ajuda de computadores e avançados
algoritmos matemáticos, desvendar o restante. [xiii]
Urton e Carrie J.
Brezine, estudante graduado em matemática pela Universidade de Harvard, se
uniram a Jean-Jacques Quisquater e Vincent Castus, da Universidade Católica de
Lou-vain, na Bélgica, e a Martin e Erik Demaine, uma dupla de pai e filho,
cientistas licenciados da computação.
Em Janeiro de 2007
essa equipe já havia encontrado 3.000 grupos diferentes de sequências de cinco
nós repetidas.[xiv] Se continuarem com esse impressionante grau de sucesso, logo
poderão descobrir a linguagem dos quipus, e o mundo poderá ouvir,
como Isaías proclamou, que “as vozes daqueles que foram destruídos lhes falará
desde o pó”.
Catherine Julien,
historiadora das culturas andinas da Universidade de Western Michigan, em
referência à tentativa de Harvard em tentar decifrar os quipus,
disse: “Somos capazes de ouvir os incas pela primeira vez, em sua própria
voz.” [xv]
Autores:
Galen Brokaw - Especialista em textos andinos antigos da Universidade Estadual de Nova
York, em Buffalo, declara que “a maioria dos estudiosos sérios dos khipu (quipu) acreditam
que eles foram mais do que dispositivos mnemônicos, e provavelmente muito
mais” [v],
apesar de que o único exemplar de quipu existente ser do período
Inca, como Mann escreve, “acredita-se largamente que as construções incas em
outras e antigas formas de escritas que haviam sido desenvolvidas na região”.[vi]
Referências:
[i] Charles C. Mann, 1491, New Revelations of
the Americas Before Columbus, New York: Vintage Books,
2006), 397.
[ii]Juha
J. Hiltunen (1), Ancient Kings of Peru, The Reliability of the
Chronicle of Fernando de Montesinos (Helsinki, Suomen Historiallinen
Sevra, 1999), 354.
[iv] John
Noble Wilford, “String and Knot, Theory of Inca Writing,” New York
Times, 12 August 2003. Article reports on news conference with Dr. Gary
Urton's research on Quipus. His research is funded by the National Science
Foundation, the Dumbarton Oaks Foundation, Harvard's Faculty of Arts and
Sciences, and the John D. and Catherine T. MacArthur Foundation, which in 2001
awarded Urton a MacArthur Fellowship. Nicholas Wade, “ Untying the Knots of the
Inca” (New York Times, 19 August 2005).
[v] Galen Brokaw, quoted by Mann, 395.
[vii] Gary Urton, The Legendary Past, Inca
Myths (Austin: University of Texas Press, 1999), 25.
[viii] Bernabe Cobo, History of the Inca Empire, translated
by Roland Hamilton, (Austin: University of Texas, 1996), 254.
[x] Gareth Cook, “Untangling the Mystery of the Inca,” Wired,
January 2007, (San Francisco), 145-146)
[xi] John Noble Wilford, idem ao iv.
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