Missão

Nossa missão é divulgar artigos de pesquisas científicas a respeito da arqueologia, antropologia, geografia, sociologia, cronologia, história, linguística, genética e outras ciências relacionadas à cultura de “O Livro de Mórmon - Outro Testamento de Jesus Cristo”.

O Livro de Mórmon conta a verdadeira história dos descendentes do povo de Leí, profeta da casa de Manassés que saiu de Jerusalém no ano 600 a.C. (pouco antes do Cativeiro Babilônico) e viajou durante 8 anos pelo deserto da Arábia às margens do Mar Vermelho, até chegar na América (após 2 anos de navegação).

O desembarque provavelmente aconteceu na Mesoamérica (região que inclui o sul do México, a Guatemala, Belize, El Salvador, Honduras, Nicarágua e parte de Costa Rica), mais precisamente na região vizinha à cidade de Izapa, no sul do México.

Esta é a região onde, presumem os estudiosos, tenha sido o local do assentamento da primeira povoação desses colonizadores hebreus.

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domingo, 14 de novembro de 2010

GEOGRAFIA - Leí no Deserto

Richard G. Grant
© Copyright 1999 - rggrant@jps.net

Tradutor: Elson Carlos Ferreira - Curitiba/Brasil - Novembro/2010

Breve Introdução à Geografia da Arábia

Muito se sabe hoje sobre a geografia da Arábia, seu clima, os desafio das viagens e o modo de vida de seus habitantes. Quando comparamos o conhecimento de hoje com o que se sabia da Arábia na época do Profeta Joseph Smith, ficamos impressionados com a quase completa falta de um conhecimento mais exato por parte daqueles que declaravam ao mundo serem peritos no assunto. Eugene England, da BYU, declarou que quanto mais conhecimento Joseph Smith "tivesse adquirido, baseado na opinião dos especialistas de sua época, provavelmente mais errado ele estaria”.(1)


As melhores obras geográficas nos dias de Joseph Smith que poderiam estar disponível a ele, teriam descrito a Arábia como um “deserto estéril e não cultivável". Ele teria lido que “o sul [da Arábia] é altamente  fértil e produz arroz, milho, etc., e é abundante em franquincenso, resinas, bálsamos, mel, cera, especiarias e todo tipo de frutos tropicais.” Ele também teria “aprendido” que toda a costa sul é formada por “uma parede rochosa... tão sombria e estéril quanto poderia ser; nenhuma folha de grama ou qualquer outra coisa verde” poderia ser encontrada. Se ele  tivesse tido acesso a fontes de língua estrangeira, teria aprendido pouco  mais.(2)


Uma questão razoável é “Por que essa geografia era tão errada?"


E eles estavam muito errados. Eu vejo três fatores que contribuíram para estes erros. Primeiro, o comércio de franquincenso era uma realidade conhecida e este franquincenso vinha de algum lugar do sul da Arábia. Segundo, virtualmente todos os relatos marítimos estavam em concordância de que a costa da Arábia era estéril. Terceiro, viagens de ocidentais pelo deserto da Arábia não haviam sido tentadas, e os árabes não falam. O quarto fotor é o orgulho, que também era um significativo fator contribuinte. “Peritos” não gostam de dizer “eu não sei”. Enfim, eles pensavam que sabiam. Juntando as informações que eles haviam reunido de “relatos de testemunhas oculares”, eles formaram uma hipótese perfeitamente racional: o sul da Arábia deve ser a fonte fértil do franquincenso. A realidade de que as árvores produtoras de franquincenso crescem ao longo da costa sul, não poderia ser concebida.


Nibley descreve: "Há um um crescente tesouro de grandes clássicos sobre a vida entre os árabes, começando com Burckhardt em 1828; a maioria, porém, confinada à sua própria época [1952] Doughty, Philby, Lawrence, Hogarth, Thomas, etc."(3) Desde a publicação deste comentário do Dr. Nibley, o conhecimento base tem continuado a se expandir. Há até mesmo alguns exploradores modernos Santos dos Últimos Dias que podem ser adicionados a esta lista.


Além disso, tem havido uma quantidade significativa de documentos sobre descobertas de dados que datam de antes do tempo de Leí e até anteriores. Em 1887, uma camponesa de Tell el Amarna, que vivia numa vila da parte superior do Rio Nilo, encontrou num monte de lixo uma coleção depequenas  tábuas de argila com inscrições, que foram comprovadas serem um antigo arquivo de cartas escritas pelos senhores egípcios da palestina para o Faraó do Egito.


Estas cartas de Amarna parecem ser do tempo de Josué, a época em que Israel estava na Palestina.  Cerca de 358 dessas tábuas já foram encontradas até hoje.

Carta de Amarna
Em 1933, alguns cacos envidraçados cobertos com inscrições foram encontrados. Eles datam de aproximadamente 600 a.C., muito tempo depois dos dias de Josué, mas exatamente a época de Leí. O Dr. Nibley os descreve da seguinte maneira:


... as relíquias das correspondências de um oficial militar estacionado na cidade de Lachish, a quase 56 Km ao sul de Jerusalém, na época da destruição de ambas as cidades, nos dá o relato de  uma testemunha ocular do mundo real de Leí - uma portinhola, de fato - mas desobstruída e sem interferências. Nestas cartas “nós nos encontramos entrando em contato íntimo com o interior da vida religiosa, política e militar de Judá daquele período”."(4)


Em seu livro Since Cumorah (Desde Cumora), o Dr. Nibley alista vinte de tais achados desde a época da publicação do Livro de Mórmon(5), entretanto são particularmente estas cartas de Amarna e Lackish que têm contribuído para o nosso entendimento da cultura hebraica dos dias de Leí.

Enquanto este artigo se baseia muito nos escritos de Nibley e England, sua ênfase não é minha. Eles escrevem para defender O Livro de Mórmon das acusações de fraude. Eles têm feito um trabalho muito bom. Meu propósito é acrescentar no entendimento desse texto sagrado. Eu trabalharei muito do material que eles discutiram, mas procurarei fazer as experiências de Leí e sua família algo mais real na mente de meus estudantes. O livro de Primeiro Néfi é rico em detalhes culturais, entretanto, como nós lemos com os olhares da nossa própria geração, há poucos desses detalhes que nos são aparentes. Nós precisamos olhar pela perspectiva de Néfi, o autor.

Como uma ajuda para ganharmos essa perspectiva, nos referiremos ocasionalmente às viagens do explorador Bertram Thomas, quando ele, em 1920, viajou muito pela mesma trilha através da Arábia que Leí e sua família viajaram. Hugh Nibley nos diria que esta é uma maneira razoável, pelo menos para ganhar outra visão do que Leí viu em sua jornada. Ele diz que a maior parte da Arábia e seu povo, têm mudado muito pouco desde os dias de Leí.


A Atmosfera em Jerusalém

O valor das Cartas de Lackish é ilustrado pela carta Nº 6. Esta carta denuncia o profeta Jeremias por espalhar o derrotismo tanto na cidade. Esta confirmação de atmosfera ameaçadora em Jerusalém nos diz que Leí não era o único profeta a ser ameaçado. Talvez fosse o antagonismo contra Jeremias que gerou as ameaças contra Leí. Os líderes em Jerusalém estavam tentando silenciar Jeremias e conter sua influência; então vem o rico, respeitado e influente Leí, alardeando denúncias contra os líderes judeus. Eles não podiam dar-se ao luxo de  permitir que Leí conseguisse mais pessoas que apoiassem a Jeremias. Leí tinha que ser impedido!


Luta no Deserto


O Senhor disse a Leí que saísse, e parece que ele estava preparado para sair imediatamente de Jerusalém. Ele abandonou sua casa perto de Jerusalém e levou sua família para um dos maiores e mais perigosos ambientes da terra, e ele nunca olhou para trás. Néfi, numa simples frase comunicou a preparação de seu pai para essa difícil jornada. Ele disse: "meu pai habitou numa tenda."


O Dr. Nibley nos fala de recentes descobertas que demonstram a proximidade dos antigos laços  entre árabes e judeus. Ele cita Montgomery, um eminente estudioso do Oriente Médio, quando declarava que quando as evidências são examinadas, “nós nos concientizamos de que Israel tinha sua face voltada para aquelas regiões que nós chamamos de Deserto e que ele era seu vizinho mais próximo”. "Os hebreus permaneceram árabes”, é o veredito de outra moderna autoridade; “sua literatura... suas formas de registrar, são de regime e tipo árabes”. De todas as tribos de Israel, “Manassés foi uma das “tribos” que viveu mais distante no deserto, manteve um contato mais frequentes com os árabes, interrelacionou-se com eles mais frequentemente e ao mesmo tempo tinham os laços tradicionais  mais próximos com o Egito.


Quando disse, “meu pai habitou numa tenda”, Néfi sugere que a vida de Leí pode ter sido mais intimamente relacionada com a vida de um beduíno do que com a vida de um morador da cidade. Ele está, pelo menos, dizendo que Leí sabia como viver no deserto. O Dr. Nibley descreve Leí como “um homem de três culturas, sendo educado não somente no ‘conhecimento dos judeus e na língua dos egípcio’ mas nos caminhos do deserto também”.(6)


Leí era um homem rico. Provavelmente era comerciante. O Dr. Nibley declara que “a regra sempre foi que o comércio no deserto, especialmente o comércio no Deserto Sul, foi a mais confiável fonte de riqueza para os homens de Jerusalém."(7) Como comerciante, Leí teria sido um especialista em viagens de caravanas, coisa que ele demonstrou ser. Desse modo, ele estava pronto a qualquer momento para reunir toda sua “família, e provisões e tendas” e ir para o deserto.


“E aconteceu que ele partiu para o deserto. E deixou sua casa e a terra de sua herança e seu ouro e sua prata e suas coisas preciosas; e nada levou consigo, a não ser sua família e provisões e tendas; e partiu para o deserto.” (1 Nephi 2:4)

Ele não se aprontou para uma viagem curta. Não era apenas “correr e se esconder” no deserto. Eles deixaram sua casa e levaram consigo tudo o que era necessário para sua subsistência num deserto quase estéril. Eles partiram para encontrar um novo lar. Eles sabiam que nunca mais voltariam; e Leí sabia exatamente o que eles precisariam levar. Néfi disse que eles pegaram somente o que era necessário. Quando retornaram para Jerusalém, foi por causa dos registros e de chamar mais participantes para sua jornada, não para qualquer coisa necessária para a viagem. Nibley vê na resposta da família de Leí a última evidência de sua familiaridade com viagens pelo deserto:


“A família acusou Leí de tolo por deixar Jerusalém e não pouparam seus sentimentos pessoais ao fazerem zombaria de seus sonhos e visões, entretanto eles nunca questionaram sua capacidade de levá-los pelo deserto. Eles reclamaram, como todos os árabes o fazem, do terrível e perigoso deserto através do qual eles passariam, mas não incluíram falta de conhecimento do deserto entre esses riscos; no entanto, esta seria a primeira e a última objeção a esse projeto selvagem  no qual um velho homem, que não era nada mais que um judeu da cidade familiarizado com o selvagem e perigoso mundo dos lugares desérticos.(8)


Sim, Leí “habitou numa tenda”. Ele sabia o que fazer e como fazê-lo. Como nem todos da sua família queriam ir e alguns declararam de que ele ameaçava suas vidas, parece que todos tinham total confiança no conhecimento de Leí quanto aos perigos do ambiente desértico.


A Rota e Modo de Viagem


Néfi declara claramente que ao fugir de Jerusalém eles primeiro “[desceram] pelos limites perto da costa do Mar Vermelho” (1 Néfi 2:5). Ele diz que depois viajaram três dias "pelo deserto." O  Dr. Nibley diz que “deserto” não significa necessariamente um local desabitado, “antes, significa uma região na qual nômades podem habitar, com oásis e wadis (vales formados nos antigos leitos de rios que secaram) onde se pode plantar e colher lavouras”.


Hoje em dia sabemos que esta descrição de Néfi se encaixa perfeitamente no começo da antiga Trilha do Franquincenso, que era um rota de viagem estabelecida por volta do ano 600 a.C.,  provendo a Jerusalém e ao Egito acesso à cobiçada resina produzida pelas árvores boswellia do sul da Arábia.
Boswellia carteri                                Boswellia serrata
Eugene England sugere que o ponto de contato “perto das margens do Mar Vermelho” ficava provavelmente perto da cidade de Aqaba, na extremidade norte do Golfo de Aqaba. Ele descreve a provável viagem de Leí, de Aqaba para o deserto:
Golfo de Aqaba
A quase "três dias no deserto" de Aqaba (122 Km) ao longo da trilha do Franquincenso fica o grande oásis de Al Beda, no impressionante vale com um leito de  rio que flui drasticamente depois das chuvas e um rio que irriga grandes plantações, todas condições que se encaixam exatamente no “vale de Lemuel” onde o grupo de Leí parou por algum tempo. Além disso essas águas correm para o Golfo de Aqaba, um braço do Mar Vermelho que no antigo idioma hebreu provavelmente era chamado de yam, uma “nascente” ou “fonte” para diferenciá-lo do oceano ou grande mar."(9)

O Golfo de Aqaba, à direita, entre Midian e o Sinai

England presume que eles seriam capazes de viajar a uma velocidade de aproximadamente 40 Km/dia. Esta é a velocidade média de uma caravana a camelo. Ele presume que o Dr. Nibley declara como uma necessidade, que a família de Leí temja voajado de camelo. “Se foi de camelos”, você pode pergunta, “por que Néfi nunca os mencionou?” O Dr. Nibley diz que esta é a melhor pista. Se eles tivessem viajado por qualquer outro meio, isto teria sido mencionado em quase cada versículo. Ele diz que “os camelos eram tão comuns como são os automóveis hoje em dia”. Certamente que para levar suas tendas e outras provisões, os camelos eram uma necessidade. Nenhum viajante, até mesmo atualmente, pode sobreviver no deserto da Arábia viajando à pé.


Um Rio de Águas?


Néfi diz que Leí montou acampamento perto de um “rio de águas”. O que ele quis dizer com isto? Que outro tipo de rio existe lá? Mesmo hoje, o viajante na Arábia faz distinção entre o rio seco, “o rio de águas”, e as torrentes produzidas pelas enxurradas. O Dr. Nibley observa que “o próprio fato de que Néfi usa o termo ‘um rio de águas’ (1 Néfi 2:6), não mencionando nada sobre alguma  surpresa de Leí, demonstra que eles estavam acostumados a pensar em termos de rios secos.”(10)


Leí, o Poeta do Deserto



“E quando meu pai viu que as águas do rio desaguavam na fonte do Mar Vermelho, falou a Lamã, dizendo: Oh! Tu poderias ser como este rio, continuamente correndo para a fonte de toda retidão!
E também disse a Lemuel: Oh! Tu poderias ser como este vale, firme, constante e imutável em guardar os mandamentos do Senhor! (1 Néfi 2:9-10)


Existe uma forma poética árabe chamada qasid. O Dr. Nibley diz que esta é a "mais antiga poesia do deserto”. A qasid sempre consiste de pares de versos que seguem um padrão bem preciso. Nibley dá esse critério:

  1. São inspirados pelo avistamento da água jorrando de uma fonte ou descendo por um vale.
  2. São endereçados a um ou (usualmente) dois companheiros de viagem.
  3. Eles louvam a beleza e a excelência da cena, chamando a atenção do ouvinte, como numa lição.
  4. O ouvinte é instado a ser como a coisa que ele vê.
  5. São poemas espontâneos recitados com grande sentimento.
  6. São poemas curtos, cada dois versos são um poema “completo”.
  7. Um verso deve ser seguido por seu verso “irmão”, fazendo um par perfeitamente combinado.

A perfeição do qasid de Leí é óbvia. Mesmo numa avaliação casual da admoestação de Leí a seus filhos desobedientes e rebeldes em comparação a estes critérios da excelência da antiga poesia árabe claramente sugere que a semelhança de sua expressão com o ideal árabe não poderia ser mero acaso. O acaso pode produzir similaridade, mas raramente produz a perfeição.


Viagem no Deserto


Saindo do Vale de Lemuel, Néfi disse que” [viajaram] pelo espaço de quatro dias”, na direção aproximada sul-sudeste; e novamente [armaram suas] tendas e [deram] ao lugar o nome de Sazer..(11)


Enquanto temporariamente acampados, Néfi e seus irmãos foram caçar para reabastecer seu suprimento de comida. O Irmão England diz que isto os teria levado a um antigo oásis, atualmente chamado de Wadi Al Azlan. Néfi explica que enquanto eles viajavam, mantinham-se  nas partes mais férteis do deserto.”


“E aconteceu que tomamos nossos arcos e nossas flechas e saímos pelo deserto, à procura de caça para nossas famílias; e depois de havermos obtido a caça, voltamos outra vez para junto de nossas famílias no deserto, no lugar chamado Sazer. E saímos novamente pelo deserto, seguindo na mesma direção, mantendo-nos nas partes mais férteis do deserto, que acompanhavam os limites próximos ao Mar Vermelho.” (1 Néfi 16:13-4).


Dr. Nibley cita um especialista árabe dizendo que “o segredo de mover-se através dessa desolação tem em todos os tempos sido mantido pelos beduínos” - mas Leí aprendeu este segredo. Néfi explica este segredo em simples e fáceis frases, por vezes negligenciadas:

  • “E seguimos a direção indicada pela esfera, que nos levou aos lugares mais férteis do deserto." (1 Néfi 16:16).
  • “E depois de havermos viajado pelo espaço de muitos dia, armamos nossas tendas por algum tempo, a fim de novamente descansar e obter alimento para nossas famílias". (1 Nephi 16:17).
  • “E aconteceu que eu, Néfi, me dirigi ao cume da montanha, de acordo com as direções dadas na esfera. E aconteceu que matei animais selvagens e, desse modo, obtive alimento para nossas famílias.

Sim, é assim que se deve viajar na Arábia. Existem partes férteis. Os exploradores Woolleye e Lawrence descrevem estas “partes férteis” como “se alongando sobre o chão plano da planície em longas linhas como se fossem cercas”.(12) Wadis, onde pode-se encontrar água, são leitos de rios que secaram (Nibley os chama de cursos d’água). Estes leitos de rio algumas vezes se estendem por centenas de quilômetros. Bertram Thomas os chamou de "as artérias da vida nas estepes, e o caminho do beduíno, o habitat dos animais, em razão da vegetação - por mais escassa que seja - que floresce somente [nesses] leitos [de rios secos].”(13)


Era comum para os viajantes, permanecerem nos wadis por dez ou doze dias, ou até que “seja assolado pelas feras, ou que a infestação de pulgas se torne intolerável, e as regiões dos arredores não ofereça mais pastagens”.(14) Entretanto, se houver a possibilidade de colher uma safra, eles podem ficar por vários meses. 


Na maioria das vezes, a caça e a colheita ocasional de frutos silvestres são a única fonte de alimento. 


Atualmente, os árabes, como os filhos de Leí, usam fundas, arcos e flechas em seu constantes esforços para obter sustento. A importância da caça para os árabes é sugerida pela afirmação que alguns têm feito de que a raiz do nome Arab é uma combinação de sons que significam “cair em emboscada”. As montanhas do norte da Arábia são muito íngremes e acidentadas, e são o lar tanto do leopardo quanto da cabra montesa, tornando da caça, um jogo que infesta estas montanhas, uma experiência desafiadora e perigosa.(15) Nibley cita uma autoridade declarando que “não seria exagero dizer que o beduíno está num quase permanente estado de fome."(16)


Néfi quebra seu arco


Néfi diz que enquanto continuavam sua jornada, eles “viajaram pelo espaço de muitos dias”. O Irmão England calcula que isto os teria levado “a uma região da atual Jiddah", que fica perto da margem leste do Mar Vermelho, um lugar de muito calor e umidade. O sal presente no ar de Jiddah enferruja os paralamas de um carro em poucos meses e madeiras trazidas de outros lugares rapidamente se tornam frágeis e flexíveis. Néfi disse que os arcos de madeira de seus irmãos “perdeu a elasticidade” e seu aço de aço foi quebrado. Nibley observa que o arco de Néfi, feito de “aço fino” provavelmente não era uma peça maciça de metal, mas, muito provavelmente, era um arco reforçado com nervuras de aço.
 
Jiddah
Néfi, em face da potencial possibilidade de sua família passar fome, fez o que é quase impossível- quebrou seu arco. Há poucos eventos nessa história que enfatizem melhor a perícia de Néfi quanto à sobrevivência no deserto. A confexão de um arco não é tarefa para um novato. Poucas madeiras são apropriadas para esse uso, e o arco e a flecha devem estar perfeitamente ajustados. Observe que Néfi não fêz apenas o arco, mas também fêz flexas novas. Nibley diz que “foi quase como um grande feito para Néfi ter feito um arco, como o foi, para ele, construir um navio.”


Quanto à madeira para o arco, Nibley diz que  "de acordo com antigos escritores árabes, a única madeira que pode ser obtida em toda a Arábia era madeira chamada Nab, que cresce somente entre rochedos quase inacessíveis e pendendo em penhascos’ dos montes Jasum e Azd, que estão situados na exata região onde, se seguirmos as indicações do Livro de Mórmon, o incidente da quebra do arco ocorreu”. Por outro lado, Eugene England sugere que as árvores de romã que são preeminentes em  Jiddah poderia prover madeira apropriada. De qualquer modo, vemos que o Senhor cuida de seus servos. Sim, eles tiveram problemas, mas através da fé e da humildade, os meios para resolver esses problemas sempre estiveram à mão.


Um Lugar Chamado Nahom


Novamente eles viajaram por muitos dias, então armaram suas tendas. Neste acampamento Ismael morreu e nos é dito que foi “enterrado num lugar que era chamado Nahom” (tradução livre) Aparentemente o enterro não aconteceu no local do acampamento. A implicação aqui é que eles levaram Ismael para um local apropriado para que ele fosse sepultado - um lugar estabelecido para sepultamentos.


Em um artigo da Ensign de Agosto de 1978, o Dr. Ross Christensen, então professor  de arqueologia da BYU relatou que o nome Nehhm apareceu em um mapa da Arábia de 1763, a quase 40 Km a nordeste de Sana'a, a moderna capital do Iêmen. Trataremos novamente desse assunto mais tarde.
Sana’a

O Fim da Jornada na Arábia


Néfi diz que depois do sepultamento de Ismael em Naom, eles viajaram na direção aproximada do leste daquele tempo em diante. Ele ainda diz que o Senhor os instruiu que durante essa parte da viagem eles deveriam evitar fazer fogo. “Eu me lembro bem”, escreve Bertram Thomas, "de fazer parte de uma discussão sobre a insalubridade dos acampamentos à noite; nós interrompemos [as fogueiras] imediatamente, apesar do frio intenso”. O perigo, certamente eram os bandos de bandidos. Thomas dá a lei para todos os viajantes no deserto, até mesmo para hoje em dia: “Um grupo se aproximando pode ser amigo, mas é sempre considerado como inimigo”.


É evidente que Bertram Thomas seguiu aproximadamente o mesmo curso através do deserto da Arábia que foi seguido por Leí e seu grupo, e isto devido às descrições que ele dá do final de sua viagem:

“Que lugar glorioso! Montanhas de mais de 4 mil metros de altura que se erguem acima do oceano tropical, suas encostas aveludadas pela selva ondulante, os cumes perfumados com seus campos amarelos, além do que a inclinação das montanhas ao norte da estepe de arenito vermelho... Grande foi minha alegria quando, em 1928, repentinamente eu chegue,  vindo da árida vastidão das fronteiras do sul.(17)


Estas são as montanhas de Qara, Dofar, na costa sudoeste da Arábia no atual estado de Omã. Em 1928, Thomas ficou surpreso por encontrar uma terra fértil num lugar onde todos os especialistas declaravam que não havia nada, exceto o deserto estéril e penhascos rochosos, contudo, a descoberta de Dofar foi relatada por marinheiros pelo menos em três outras ocasiões anteriores; em 1838, em 1843, e novamente em 1894.(18) Thomas passa a descrever os arbustos aromáticos do lugar, os vales arborizados“, "a nebulosa crista das ondas do mar elevadas além das montanhas e rolando para elas”, e a assombrosa beleza das “cenas silvestres” que se abriram para seus olhos enquanto ele passava da luxuriante floresta para o mar”.

Mountanhas de Qara,Al-Ahsa, Arábia

Férias da Família Aston

A história de dois exploradores modernos na Arábia teve seu início em 1974 na sala de selamento do templo de Nova Zelândia. Lá Warren Aston, então registrador assistente do Templo conheceu Michaela, qua havia vindo da Austrália para ser selada a seus pais. Enquanto sua amizade floresceu num romance, eles descobriram que compartilhavam uma atração por história antiga e arqueologia, particularmente relacionadas às escrituras. Como uma de suas metas o casal se determinou em perseguir um interesse mútuo: viajar enquanto seus meios permitissem para aqueles lugares que se relacionassem com as origens da Bíblia e do Livro de Mórmon. Certamente que não, e provavelmente não seria hoje que eles se considerariam exploradores, mas você decide. Esta é a sua história.


Após seu casamento em 1974, o casal Aston estabeleceu seu lar em Brisbane, Austrália. Warren, com o objetivo de maximizar o valor efetivo de seus limitados recursos para viagens, conseguiu um emprego no setor de viagens aéreas. Suas primeiras férias no exterior os levaram para Israel em  1976. Eles levaram consigo sua primeira filha, Claire, com seis meses de vida. Este era um tempo de considerável instabilidade em todo o Oriente Médio e a família Aston foi imediatamente introduzida às realidades das tensões resultantes dessa instabilidade. Imediatamente após seu desembarque, Warren encontrou-se, com outros passageiros do sexo masculino, sendo interrogado por militares pesadamente armados. A despeito desse pouco auspicioso começo, eles ficaram encantados com Israel. Em férias subsequentes, a família visitou Bagdá, Beirute, Egito e Síria. Além disso, fizeram viagens intercaladas para Israel.


Em 1984, Warren leu uma carta que estava destinada a dar a  sua família uma nova dimensão às suas férias. Warren teve trabalho para ler durante a hora do almoço a edição de Agosto de 1978 da Ensign. Ele encontrou o artigo de Ross Christensen a respeito da possível descoberta de “um lugar chamado Nahom”. A curiosidade de Warren foi aguçada e ele se perguntou: o que havia sido feito nos anos subsequentes à publicação da hipótese do Dr. Christensen? Ele fez contato com a FARMS e lhe foi dito que nada havia sido feito. Na mente de Warren um plano para fazer algo começou a se formar.


Por meio do que os Aston descreve como “uma série de pequenos milagres”, logo eles se encontraram (com Michaela no sétimo mês de sua quinta gravidês) na cidade de Sana'a, a capital  the da República Árabe do Iêmem. Eles descrevem Sana'a como um local “transbordando de esgoto e lixo”. Uma cidade com “coloridos e caóticos” mercados, com pequenas bolsas de franquincenso à venda ao lado de metralhadoras, granadas e mísseis aéreos de superfície. Michaela relatou que certa vez ela se encontrou rodeada de dezenas de homens armados que se recusaram deixá-la ir. Foi com grande alívio que ela entendeu que eles só queriam era tirar uma foto com ela.
Sana’a
Não foi senão no seu último dia no Iêmem que eles encontraram sua primeira pista - um mapa recém impresso mostrando a localidade de "Nehem." Uma vez que as vogais não são incluídas nem no alfabeto arábico nem no hebreu, tanto "Nehem" quanto "Nahom", (o tradutor manteve a palavra NAHOM sem traduzí-la, diferente do que aparece no Livro de Mórmon, edição em português, por respeito à linguística e à origem do racical  da palavra), poderiam ser escritos idênticamente como "NHM" em ambas as línguas. Quando esse nome é traduzido para o inglês, por exemplo, as vogais devem ser acrescentadas pelo tradutor.


Por mais de dez anos sua pesquisa sobre “Nahem” produziu fortes evidências de que “Nehem” é realmente idêntica à “Nahom” de Leí. Eles descobriram dois antigos cemitérios nos montes de Nehem, cada um deles anterior à época de Leí. Um deles é considerado pelos arqueólogos que trabalham no local como o maior cemitério antigo já descoberto em toda a Arábia.


Enquanto a pesquisa sobre “Nahom” progredia, a curiosidade dos Aston naturalmente se voltava para o local que Néfi chamou de Abundância. A localização de Abundância era considerada como um importante contribuinte para sua cadeia de evidências que apoia a localidade de “Nehem” como a “Nahom” do Livro de Mórmon. Néfi relatou que, à partir de Nahom, eles viajaram aproximadamente na direção leste. A maioria dos pesquisadores SUD sentem que a localização de Abundância havia sido muito bem determinada como Salalah, em Dhofar. Entretanto, nenhum observador SUD já visitou Salalah para avaliar essa evidência. Isto aconteceu porque a República Árabe de Omã, onde Salalah está localizada, foi severamente interditada para a maioria dos estrangeiros. Em Outubro de 1987,depois de repetidas e inúteis solicitações, Warren finalmente recebeu permissão para visitar Salalah.
Salalah
Depois de cinco dias em Salalah, Warren ficou convencido de que ela não era a terra de Abundância. Néfi apresenta muitos detalhes de forma explícita, ou por dedução clara, quanto às características de Abundância. Enquanto Warren relatava que a maioria desses requerimentos foram satisfeitos na área maior de Salalah, ele “levou horas digirindo para ver todos eles”. A avaliação de Warren era que “a área parece muito diferente da descrição de Néfi”, entretanto depois de considerável sondagem, Warren soube de “grandes árvores” crescendo junto da fronteira do Iêmem, mas as estradas não vão muito longe e Warren foi forçado a deixar aquela investigação para uma viagem futura.



Os detalhes de suas explorações subsequentes e suas descobertas são descritas em seu excelente livro, In the Footsteps of Lehi (Nas Pegadas de Leí). É suficiente dizer aqui que durante nos 5 anossubsequentes Warren e sua família foram capazes de descobrir e explorar cinco outras possíveis localizações para Abundância. Em Abril de 1992, eles tinham eliminado praticamente todas essas localizações, exceto uma, que era um lugar descrito por eles como a Shangri-La do Oriente Médio, a qual tem demonstrando uma correlação pouco usual com todas as descrições que Néfi deu sobre Abundância. Em Abril de 1993, uma expedição da FARMS, conduzida por Noel Reynolds, então Presidente dessa instituição, visitou este local, chamado Khor Kharfot ("Entrada Forte"). Avaliações continuam a serem feitas desde aquela data. Até o momento, cada uma dessas investigações tem resultado num crescente acúmulo de evidências em apoio da identificação de Khor Kharfot, localizada na entrada do Wadi Sayq, como sendo Abundância.
Khor Kharfot
O trabalho da família Aston tem acrescentado confirmação e detalhes para o que há longo tempo tem sido aceito como a mais provável rota de Leí e sua família enquanto atravessavam o deserto da Arábia. (Clique aqui para ver um provável mapa dessa rota)



Eu considerei isso muito interessante. Durante anos, profissionais e outros, com significativo apoio financeiro têm devotado a vida para procurar evidências arqueológicas para o Livro de Mórmon, entretanto, com poucos resultados significativos. Então vem uma família com moderados meios e recursos, cuja única qualificação real é um firme testemunho do evangelho, uma  curiosidade saudável, um senso de aventura e um desejo de experimentar por si mesmos as terras e os ambientes que forneceram  o cenário para as experiências apresentadas a nós na antiga escritura americana. De seus simples esforços veio o que agora parece quase certo ter se tornado o primeiro sítio arqueológico identificável do Livro de Mórmon.


Há Outros que Escaparam de Jerusalém


O Livro de Mórmon nos conta dos mulequitas que devem ter escapado de Jerusalém quase na mesma época que Leí, entretanto até 1907 os estudiosos não haviam identificado nenhum grupo específico como tendo deixado Jerusalém e mantido uma identidade única como haviam feito os leítas e os mulequitas. De fato, não foi senão até o meio dos anos vinte que o Dr. Albright, considerado o mais importante egiptologista de seus dias, publicou o que a comunidade de Elephantine decobriu em 1907. O Alto Egito, ao sul de Tebas, rio acima, perto da nascente do rio Nilo, havia originalmente sido colonizado pelos judeus que deixaram Jerusalém pouco depois da partida de Leí. Desde então aprendi que o próprio Jeremias foi um desses refugiados. Em Elephantine eles construíram um templo. Pouco depois que o templo foi destruído e que os judeus retornaram para a Palestina, o povo de Elephantine pediu permissão para os sacerdotes de Jerusalém para reconstruírem o templo. Curiosamente, a permissão foi concedida.(19)


Elephantine tem um significado especial para os pesquisadores do Livro de Mórmon. O Dr. Nibley identificou essa importância num artigo de 1948 da Improvement Era. Este artigo, escrito antes que ele tomasse conhecimento da descoberta de Albright a respeito da história de  Elephantine, relatava a tendência peculiar dos nomes dos antigos registros na região do “Alto Egito, no sul de Tebas, terem uma impressionante semelhança com os nomes encontrados no Livro de Mórmon.
Ilha de Elephantine, não é chamada assim por causa de elefantes que poderiam aí existir, mas por causa das formações rochosas que se parecem com manadas desse animal. A colonização da ilha data de antes de 3000 a.C

References:

 1. Eugene England, "Through the Arabian Desert to a Bountiful Land: Could Joseph Smith Have Know the Way?" in Noel Reynolds, ed., Book of Mormon Authorship, p. 145.
 2. Ibid., pp. 145-6.
 3. Collected Works of Hugh Nibley, Vol.5, Part.1, Ch.3, p. 58-9. Remember, Nibley is writing in 1952.
 4. Ibid., pp. 4-5.
 5. Collected Works of Hugh Nibley, Vol.7, Ch.2, p. 48-9.
 6. Nibley, Vol. 5, Op. Cit., pp. 37-8.
 7. Ibid., p. 35, referencing Arabia and the Bible, by J. A. Montgomery
 8. Ibid., pp. 36-7.
 9. England, Op. Cit., p. 151.
10. Nibley, Vol. 5, Op. Cit., p. 80.
11. Shazer é um nome interessante e esta rodeada de interessantes coincidências. resting coincidences. Há shajer (palestino) ou shazher (árabe) que significa "árvores". Há também o termo hebreu shaghur ou shihor, que significa "infiltração”. É um excelente nome para um wadi do deserto. Em amais uma coincidência, há um famoso poço de água no sul da Arábia, chamado Shisur por Thomas e Shisar pelo explorador Philby.
12. Wilderness of Zin, p. 32, as quoted in Ibid., p. 58.
13. B. Thomas, Arabia Felix, p. 141, as quoted in Ibid., p. 58.
14. Ibid., p. 54.
15. Ibid., p. 59-60. ver também England, Op. Cit., p. 151. O Irmão England identifica o asno selvagens, gazela, galo e perdiz, como disponíveis nas montanhas da região.
16. Nibley, Vol. 5, Op. Cit., p. 53.
17. Ibid., p. 110.
18. Ver England, Op. Cit., pp. 146-7, para uma interessante descrição dessas descobertas" de Dhofar, junto com citações de seu diário. Os primeiros dois dados, entretanto, vêm de Nibley.
19. Nibley, Vol. 6, p. 285 and Vol. 7, p. 242.
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