Missão

Nossa missão é divulgar artigos de pesquisas científicas a respeito da arqueologia, antropologia, geografia, sociologia, cronologia, história, linguística, genética e outras ciências relacionadas à cultura de “O Livro de Mórmon - Outro Testamento de Jesus Cristo”.

O Livro de Mórmon conta a verdadeira história dos descendentes do povo de Leí, profeta da casa de Manassés que saiu de Jerusalém no ano 600 a.C. (pouco antes do Cativeiro Babilônico) e viajou durante 8 anos pelo deserto da Arábia às margens do Mar Vermelho, até chegar na América (após 2 anos de navegação).

O desembarque provavelmente aconteceu na Mesoamérica (região que inclui o sul do México, a Guatemala, Belize, El Salvador, Honduras, Nicarágua e parte de Costa Rica), mais precisamente na região vizinha à cidade de Izapa, no sul do México.

Esta é a região onde, presumem os estudiosos, tenha sido o local do assentamento da primeira povoação desses colonizadores hebreus.

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terça-feira, 12 de outubro de 2010

CULTURA MESOAMERICANA - Luz do Éden

Benjamin Urrutia

Tradutor: Elson Ferreira – Curitiba/Brasil
Imagem de Tamoancha, do código Vindobonensis.

A primordial importância na saga de Arda, do novelista J. R. R. Tolkien, é a estória da terra de Aman, semelhante ao Éden, com suas Árvores da Luz, cuja destruição pelo inimigo Morgot inundou aquela terra de escuridão. A estória tem uma leve semelhança com a história do livro de Gênesis, capítulo 3, que também fala de uma terra paradisíaca, que foi perdida por causa da intriga de um inimigo, a serpente. Duas árvores, a do Conhecimento do Bem e do Mal a Árvore da Vida, também aparecem no relato de Gênesis, mas de qualquer forma, a similaridade é realmente pequena: não há evidências de que estas árvores produziam luz ou que foram prejudicadas devido à Queda. De maneira surpreendente, o paralelo mais próximo à narrativa de Tolkien pode ser encontrado na mitologia mexicana: a estória de Tamoanchán.

TAMOANCHAN

Tamoanchán é "a casa de origem, um lugar de nascimento, místico, ocidental, onde deuses e homens se originaram”. 1 A estória de sua fundação e queda foi sumarizada por Michael Graulich:

A Criação começa com um supremo e divino casal. Eles instalam suas criaturas no paraíso chamado de Tamoanchan (=Tlalocan), uma cidade celestial ou um palácio radiante. Este lugar é sempre um local de abundância, no qual o criador e suas criaturas vivem em perfeita harmonia. Não há morte... Num certo momento as criaturas se tornam culpadas de uma transgressão.  Uma deusa, (Xochiquetzal, Tlazolteotl, Itzpapalotl, Cihuacoatl), enganada por um deus (Piltzintecuhtli, Tezcatlipoca), colhe ou come a flor da árvore proibida, o que então provoca a queda... O resultado da transgressão é desastroso: a árvore do paraíso é destruída, os deuses são expulsos do céu e exilados na terra ou num submundo; o mal, a morte e a noite começam a existir... Xochiquetzal gera a Cinteotl (o deus do milho), que imediatamente morre e renasce na forma do milho, de plantas úteis e de Vênus, a primeira luz do mundo... Durante os primeiros anos desta era... a terra é escura... Não há mais comunicação entre a criação, os céus, a luz, a suprema Dualidade. Assim o paraíso perdido deve ser reconquistado. É neste ponto que os... heróis se tornam importantes... Os Gêmeos... sacrificam a si mesmos se lançando no fogo... Eles morrem e renascem; triunfam sobre o submundo, morte e escuridão, e finalmente emergem como o sol e a lua.2
Xochiquetzal

PONTOS EM COMUM.

Comparemos estas versões da história de como o Paraíso foi perdido.

  1. Pontos em Comum às Três Versões

A) A estória começa num lugar de abundância e perfeita harmonia. Criadores e criaturas vivem em paz.

B) Não há morte.

C) A paz e a harmonia são destruídas pelo consumo de parte de uma árvore sagrada (o fruto, em Gênesis, a seiva no Tolkien, a flor no México).

D) Banimento e exílio seguem como conseqüências de transgressão.

Tlazolteotl

2. Pontos em Comun ao "Silmarillion" e ao Mito de Tamoanchán que Tem Algum Indício em Gênesis

A) A Criação começa através de um casal divino. Na narrativa de Tolkien, “Valaquenta”, este supremo casal consiste de Manwe e Varda. Eles são assistidos por outros casais: Aule e Yavanna, Namo e Vaire, Irmo e Este, Tulkas e Messa, Orome e Vana.3 Em Genesis, a criação do casal divino não é mencionada diretamente mas indicada em Gênesis 1:26-27: "Façamos o homem segundo a nossa imagem, conforme a nossa semelhança... Assim Deus criou o homem à sua própria imagem, à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou”. Há uma clara sugestão aqui de que “nossa imagem” e “nossa semelhança” significa “macho e fêmea”. Em antigas versões da narrativa da Criação, ela poderia ter sido escrita mais claramente, mas redatores mais recentes podem ter obscurecido-a enquanto a teologia desenvolveu-se para excluir o elemento fêmea da teologia ortodoxa.

B) Paraíso localizado no Ocidente. Tradicionalmente o Jardim do Éden do Gênesis está localizado no Oriente, entretanto, isto pode se resultado de uma tradução imperfeita. William F. Albright, uma autoridade bíblica de renome, disse que a palavra “miqqedem” de Gen. 2:8 não deve ser traduzido como "oriental", mas como "em tempos primitivos”.5 Dos quatro rios do Éden mencionados em Gen. 2:10-14, Pison e Gihon sugerem o Oeste; Hiddekel e Eufrates (Prat em hebreu), o Leste, entretanto, Cyrus H. Gordon indica que o último nome foi originalmente uma palavra geral para definir "rio" e que um elemento relacionado “para” aparece nos nomes de vários rios sul americanos: Pará, Parú, Paraná, Paraíba, Parnaíba, Paranaíba, Paranapanema, Paranaguá, Paraguai, Paratinga, Paracatu, e Paraguaçu.6 Estes nomes, enfatiza ele, derivam todos de linguagens nativas, não dos idiomas espanhol ou português. Estão todos localizados na região ocidental da América do Sul. O Dr. Gordon sugere que receberam seus nomes da mesma civilização que chamou o rio Prat (Eufrates) em Gen. 2:14, Porat em Gen. 49:22 (de acordo com Albright), Buranun na Suméria, Purattu em Akkadian, e Baradu em Eblaite (significando"Rio Frio”).7 Se  Gordon estiver certo, existe a possibilidade de que o Jardim do Éden, como os místicos Aman e Tamoanchán, possam ter estado localizados no ocidente.
Itzpapalot

3. Elementos Comuns a Aman e Tamoanchán.

A) Cidades e palácios são mencionados assim como jardim (diferentemente da história bíblica, que considera a primeira cidade muito mais tarde ao nascimento do iníquo Caim (veja Gen. 4:16-17).

B) A transgressão resulta na morte da árvore sagrada.

C) A destruição da Árvore inunda a terra em escuridão, já que a árvore era a fonte da luz.

D) Toda a raça de pessoas, não apenas os indivíduos responsáveis são exilados como conseqüência da transgressão. Para sobrepujar a escuridão e desfazer pelo menos alguns dos danos, dois seres divinos se transformam no sol e na lua. Outro herói se torna o planeta Vênus (mas isto precede ao sol e à lua, na versão mexicana, enquanto que na narrativa de Tolkien, Vênus é a última luminária a ascender ao céu).
Cihuacoatl

4. Elementos Comuns nas Versões Israelita e Mexicana.

A) A transgressão ocorre quando a personagem fêmea é enganada e consome parte da árvore (na narrativa de Tolkien esse elemento foi perdido, bem como a mulher ou a deidade).

B) A morte vem ao mundo como resultado (enquanto que nem Valar nem Eldar se tornam mortais devido à transgressão, e o Homem é criado mortal: não lhes é permitido, como regra geral, entrar em Aman).
Piltzintecuhtli

  1. Elemento Comum na Narrativa de Tolkien e Gênesis.
Há duas árvores sagradas, não apenas uma, entretanto em Gênesis apenas o fruto de uma delas é consumido, e o outro fica intocado.

RESULTADOS DA COMPARAÇÃO

A)    Dois resultados surpreendentes emergem destas comparações:

(1) O maior número de similaridades, e os mais fortes, estão entre a versão mexicana e a narrativa de Tolkien, mesmo apesar de ser onde menos esperávamos.

(2) Apenas um paralelo, e não muito forte, une a Bíblia (como contraste à versão Transoceânica), apesar de que esperávamos que Tolkien fosse mais familiar à Bíblia, e mais influenciado por ela, do que pela mitologia mexicana.

B)     Realmente, eu sei que não há evidências, dos seus registros, sua biografia, suas cartas, ou qualquer outra fonte, que J. R. R. Tolkien estivesse familiarizado com a religião e lendas da América Pré-Colombiana. Poderia ele ter encontrado algum documento no Novo Mundo, que detalhasse a estória similar aos mitos mexicanos? Tal especulação seria fútil até que e a menos que tal documento seja encontrado ou identificado.

C)    Poderiam as similaridades ser atribuídas à inspiração transcendente, à memória racial, a arquétipos primordiais inconscientes? Esta linha de pensamento não pode ser muito produtiva também, entretanto, pelo menos nos permite indicar que aqueles elementos que são únicos à narrativa de Tolkien, não encontrados nos mitos mexicanos ou na Bíblia, sejam os mesmos que podem ser explicados em termos da própria psicologia individual de Tolkien, em vez de étnico, a memória e arquétipos inconscientes. Estes incluem:

1. A ausência de uma personagem fêmea como agente da transgressão e a morte da Árvore Sagrada. Talkien era profundamente devotado à Virgem Maria, à sua mãe e à sua esposa. A noção de imputar a culpa da queda sobre a deidade ou à mulher, não atrai seu espírito. Talvez por razões similares, anos mais tarde ele tentou subestimar o papel de Galadriel na Rebelião de Noldor. 8

2. Ungoliant, a grande aranha, um elemento visivelmente único com respeito a Tolkien, é talvez melhor explicado como um produto de um trauma que viveu na América do Sul, quando ele foi picado por uma tarântula. Este evento foi conscientemente esquecido, 9 mas vividamente rememorado em seu subconsciente, gerando Ungoliant, Shelob, e as Aranhas de Mirkwood.
Tezcatlipoca
 ESTÓRIA ORIGINAL

Admitindo então, apenas por brincadeira (ou por causa do argumento) que as três narrativas são versões de um antigo mito, ou deixando de lado as pequenas idiossincrasias de Tolkien, podemos reconstruir a história original, se realmente ela existiu.

“Um casal divino, um deus e uma deusa, criaram outras deidades e a raça humana, todos à sua própria imagem e semelhança, homem e mulher. Todos eles, deuses e deusas, homem e mulher, viveram juntos em paz e harmonia num lindo Paraíso no Ocidente que tinha magníficas cidades e palácio, bem como um grande Jardim. No jardim havia muitas árvores, mas duas árvores eram especialmente sagradas. De uma dessas árvores emanava a luz do Paraíso. Lá não havia morte; toda a vida era imortal, entretanto, um deus que tinha caído no mal, enganou a fêmea – uma deusa ou mulher- induzindo-a a comer parte de uma das árvores sagradas. Como resultado a árvore morreu, e o mundo caiu em escuridão. A morte apareceu pela primeira vez. Os responsáveis pela transgressão, e todas as pessoas com eles, foram expulsos do paraíso. Deuses e homens se tornaram estranhos uns dos outros. Desejando desfazer ao menos alguns desses danos e restaurar a luz ao mundo, três divinos heróis ascenderam ao céu e se tornaram o Sol, a Lua e Vênus. Assim os propósitos do maligno foram desfeitos, e o mundo teve luz novamente”10

O mito mexicano de Tamoanchán parece fechar com esta versão reconstruída, o que não é muito surpreendente, considerando que sua fonte está mais a ocidente do que as outras duas.

NOTAS:

1. Eduard Seler, Bulletin 28 (Smithsonian Institution: Washington, 1904), p. 220.
2. Michael Graulich, "The Metaphor of the Day in Ancient Mexican Myth and Ritual," Current Anthropology, Vol. 22, No. 1 (February, 1981), p. 46.
3. J. R. R. Tolkien, The Silmarillion (Ballantine Books, 1979), pp. 18-23.
4. Benjamin Urrutia, "El or Yahweh? Art Observation on Patai's Comment on Segler's Review," American Anthropologist, Dez/1972; "About El, Asherah, Yahweh, and Anath," ibid., Ago/1973. Ver também respostas de Rafael Patai sobre o mesmo assunto e os títulos citados pelo próprio e por a.
5. William F. Albright, Yahweh and the Gods of Canaan (Doubleday, 1968).
6. Cyrus H. Gordon, Before Columbus (Crown Publishers, 1971), pp. 129-131.
7. Mitchell Dahood, "Afterword" in Giovanni Pettinato, The Archives of Ebla (Doubleday, 1981), p. 275.
8. Janice Johnson, "The Celeblain of Celeborn and Galadriel," Mythlore, No. 32, pp. 11-19. See also Christopher Tolkien's notes on the subject in Unfinished Tales.
9. Como o próprio Tolkien convincentemente declara nas Letters (Cartas).
10. Veja Isaias 60:19, João 8:12, Apocalipse 21:23. É criditada a John Taylor, antigo Presidente de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias de 1880 a 1887, seguinte declaração: “... eles [os Deuses] então fizeram a luz brilhar sobre ela [a terra] antes que o sol aparecesse no firmamento; pois Deus é luz, e nele não há escuridão” Journal of Discourses, Vol. 18, p. 327. Aparentemente o mesmo conceito também é aplicado a Eruuna Elish, o primeiro registro da babilônia a respeito da Criação. Veja E. A. Speiser, Die Anchor Bible: Genesis (1964), pp. 9-10.

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