http://gizmodo.uol.com.br/a-ciencia-da-gordura/
Segundo
o Ministério da Saúde, 51%
da população brasileira com
mais de 18 anos está acima do peso ideal. Se você está
nesse grupo de pessoas, então tem alguns quilinhos de gordura para
perder. E talvez você fique mais motivado ao
ver meio quilo de gordura humana –
você precisa eliminá-la do seu corpo agora
mesmo.
No
entanto, ainda há muitas concepções incorretas sobre a gordura —
e alguns desses enganos podem atrapalhar seu esforço para perder
peso. Então vamos nos livrar dessa desinformação ingerindo um
pouco de conhecimento.
O
que é a gordura corporal?
Vamos
começar pelo lado bom: pense na gordura corporal como “energia
potencial”. As calorias presentes na comida que você ingere são
um combustível. Depois que as calorias entram na sua corrente
sanguínea, este combustível é queimado em vários processos
metabólicos. Isso inclui sua atividade muscular, digestão,
respiração, funções cerebrais, crescimento dos cabelos etc. O
básico da sobrevivência, para resumir.
Porém,
algumas vezes nós consumimos mais calorias do que o corpo consegue
queimar. Quando isso acontece, nosso corpo pensa: “ué, eu não
preciso de toda essa energia agora. Melhor guardar, vai que eu
preciso mais tarde, né?” E aí começa o milagre da gordura. Seu
corpo pega essas calorias que sobraram e guarda nas células de
gordura (ou células adiposas). Elas se expandem à medida que
coletam mais combustível, e encolhem quando você usa um pouco dessa
energia.
Mas
preste atenção, esta é uma explicação muito superficial.
É importante notar que, quando a energia potencial é estocada
dentro das células adiposas, ela não está pronta para ser usada
como antes, quando circulava pela corrente sanguínea. Ela passa por
uma conversão química que guarda a energia de maneira mais
eficiente. É mais ou menos um arquivo .zip: isso deixa a energia
mais compacta e fácil de armazenar, mas o conteúdo em si tem seu
acesso dificultado. Quando chega a hora de tirar a energia dessas
células, outra conversão química se inicia para deixá-la pronta
para uso.
Como
é queimada a gordura?
Então,
quando você perde gordura, para onde ela vai? A maioria das pessoas
não sabe. Se você se lembra do princípio
da conservação da massa,
lá das aulas de química do colégio, sabe que a matéria não pode
simplesmente aparecer ou desaparecer — ao invés disso, ela passa
por reações químicas e muda de estado.
As
mitocôndrias são o centro de energia da célula. Nos seus
músculos ou fígado, elas tiram um pouco de gordura (estocada como
triglicérides) das suas células adiposas e a colocam num processo
metabólico que a transforma em calor, dióxido de carbono, água e
ATP (trifosfato de adenosina). Vamos explicar um por um.
Calor: A
energia térmica tem uma importância crucial na manutenção da sua
vida. Sabe como você, um mamífero de sangue quente, mantém sua
temperatura em cerca de 37°C? Sim, queimando calorias! Quando você
está com frio, queima bem mais calorias para permanecer quente. E,
caso você esteja se perguntando quanta energia térmica pode ser
armazenada na gordura, faça o seguinte: frite um bacon, tire o
excesso de gordura, ponha numa lata e coloque um pavio. Você
ficará chocado com o tempo que esta vela improvisada ficará acesa.
ATP: nós
precisamos de ATP para fazer os músculos funcionarem. Nossa
principal fonte imediata de
energia é produzida quando quebramos uma molécula de fosfato do
ATP, o que fornece uma pequena explosão de energia nos músculos. O
ATP se torna, então, ADP, e não pode ser usado novamente até que
ele pegue outra molécula de fosfato. É o ciclo
de Krebs,
cara: ele leva combustível para seus músculos.
Dióxido
de carbono: Sempre
que você queima alguma coisa (veja o calor mencionado acima), isto
reage e forma dióxido de carbono. Vale para a gasolina, vale para a
gordura corporal. O dióxido de carbono irá viajar por sua corrente
sanguínea até os pulmões, onde eles serão expelidos.
Água: A
gordura, geralmente, parece meio molhada, né? É porque tem água
nela. Você vai urinar a água formada no processo.
Então,
é para aí que vai o peso que você perde.
Células
adiposas são eternas
Eis
um dos erros mais comuns sobre a gordura: quando você perde peso,
você não perde nenhuma
célula de gordura.
Não, nem sequer umazinha. O corpo humano possui, em média,
entre 10 bilhões e 30 bilhões de células adiposas, e elas serão
para sempre suas. Ah, mas sabe o que é pior? Se você ganhar mais
peso, pode produzir mais células
adiposas (pessoas obesas chegam a ter cerca de 100 bilhões), e de
novo, você não pode perdê-las (a única exceção é a
lipoaspiração, que remove fisicamente as células). Então como é
que a gente perde peso?!
As
células de gordura agem mais ou menos como balões. Quando você
perde peso, você retira algo desses balões inflados, ou seja,
faz encolher as
células adiposas. Você pode reduzi-las até que estejam
praticamente vazias, mas elas sempre estarão lá — esperando para
ser reabastecidas, atormentando seus pesadelos rechonchudos.
E
más notícias: a gordura adora andar com mais gordura. Como ela e os
músculos são basicamente inimigos (nós chegaremos lá ainda), suas
células adiposas tentam erodir suas células musculares. O pior é
que, enquanto a maioria da gordura fica debaixo da sua pele, a mais
perigosa se acumula ao redor dos seus órgãos internos – é por
isso que a gordura abdominal é mais problemática do que nas outras
áreas do corpo.
Esta
gordura, chamada de gordura visceral, é metabolicamente ativa,
e expele produtos bioquímicos que aumentam o risco de ataque
cardíaco, derrame, insuficiência hepática, diabetes e pressão
alta. Além disso, a gordura visceral inibe a produção de um
hormônio muito importante, chamado adiponectina, que regula o
metabolismo do seu corpo. Em outras palavras, quando mais gordura
visceral você acumula, mais lentamente seu metabolismo irá
funcionar – ou seja, mais fácil você armazenará gordura. É um
ciclo difícil de quebrar.
Como
são queimadas as calorias
Como
a gordura corporal é composta basicamente por calorias estocadas, o
jeito mais conhecido para perder peso é queimar mais calorias do que
você está ingerindo. Faça isso e seu corpo irá começar a retirar
as calorias que faltam das suas reservas de gordura. Há mais nuances
que isso, claro, mas para a maioria dos casos, isso vale. Mas como
exatamente estas calorias são queimadas?
Se
você já fez algum exercício programado numa esteira ou numa
bicicleta ergométrica, provavelmente já viu coisas como “cardio
zone” ou “fat-burning zone”. Nós chegaremos lá daqui a pouco,
mas por enquanto, tudo que você precisa saber é isso: o exercício
físico é só um pedacinho da queima de gordura.
Há
um excelente
artigo (em inglês) na Active.com detalhando
minuciosamente estes processos, mas aqui vai uma explicação
resumida. Há três categorias de processos responsáveis pela queima
metabólica. Entre 60% e 70% das calorias queimadas por dia são
processadas apenas por você estar vivo. Isto não tem nada a ver com
se mexer. Nada. É a chamada taxa metabólica basal. Outros 10% a 15%
são queimados pelo simples ato de digerir o que você come, o
chamado metabolismo digestivo (ou efeito térmico do alimento). Como
diz a Active,
estes dois representam entre 70% e 85% — tudo isso mal tendo que
mover um dedo.
Os
últimos 15% a 30% vêm da atividade física, seja na forma de
malhação (termogênese associada a exercícios, ou EAT) ou apenas
por andar pelo seu apartamento (termogênese de atividades que não
são exercício, ou NEAT).
Botando
pra queimar
Bem,
se entre 60% e 70% da queima de calorias está ligada ao seu
metabolismo em estado de repouso, não faz mais sentido começar por
aí? Sim! Vamos voltar à nossa vela de gordura do início do texto
para fazer uma analogia. Veja o vídeo acima e perceba que, com o
pavio curto, a gordura queima lentamente. Em cerca de 1:50, o pavio
fica maior, o que faz a chama crescer. Com mais fogo, a gordura
começa a queimar bem mais rápido.
Então,
como nós podemos aumentar o fogo do nosso metabolismo interno?
A
resposta mais simples é acrescentar músculos. O tecido muscular, em
repouso, queima de duas a três vezes mais calorias que o tecido
adiposo. Exercícios aeróbicos são importantes para sua saúde
e condicionamento físico, não se engane. Mas se sua meta é
queimar gordura, concentre-se um pouco mais em musculação e
em exercícios calistênicos – que usam o próprio peso do
corpo como resistência. Isto provavelmente trará resultados
melhores e mais rápidos. Não porque isto queime mais
calorias enquanto você
os pratica, mas porque isto aumenta sua chama metabólica, o que
queima mais calorias o
tempo todo.
Depois
disso, vamos ver a alimentação. Lembre-se, entre 10% e 15% da sua
queima metabólica vem da simples digestão da comida. Se você quer
aumentar isso, pode adicionar mais proteínas magras ao que você
come. A digestão de proteínas queima entre duas a três vezes mais
calorias do que a dos carboidratos ou da gordura. Além disso, mesmo
que toda caloria consumida (seja ela tirada de proteína, carboidrato
ou gordura) possa ser estocada como gordura, o corpo estoca mais
prontamente a energia obtida da gordura consumida. Dito isso, uma
dieta equilibrada é
extremamente importante para se manter saudável, e mais uma vez: se
você quer perder gordura, deve consumir menos calorias do que gasta.
Por
fim, o componente dos exercícios (entre 15% e 30% do seu
metabolismo). Então, sabe aquilo lá de “fat-burning zone”, zona
aeróbica, tudo aquilo que aparece na sua esteira? Tecnicamente, isso
não está errado. Quando você se exercita numa intensidade menor,
está queimando mais calorias que são obtidas da gordura; por outro
lado, em exercícios de mais intensidade, a maioria das calorias
queimadas vem dos carboidratos mais prontamente disponíveis, que são
os que você consumiu recentemente.
PORÉM,
tem uma coisinha. Dois terços das calorias que você queima não têm
nada a ver com exercícios; mas isso só acontece se você consegue
criar um déficit calórico. E você consegue isso muito mais
facilmente com exercícios de alta intensidade e intercalados. Isso
simplesmente queima muito mais calorias,
então você tem um impacto (perda de gordura) muito maior.
Dizendo
de outra forma: mesmo que os exercícios mais lentos, da “fat-burning
zone”, tecnicamente retirem mais calorias da gordura durante
o exercício,
os exercícios de alta intensidade vão queimar mais calorias no
total,
o que resulta em mais calorias retiradas da suas reservas de gordura
com o tempo, o que vai reduzi-las mais. Além disso, exercícios de
alta intensidade tonificam mais os seus músculos — veja e compare
os maratonistas com os velocistas. E, novamente, mais músculo
resulta em um metabolismo mais ativo, e isso acaba queimando gordura
mais rápido.
Para
ser sincero, isto tudo é bem superficial. Este artigo tinha como
objetivo ser uma visão geral e, por isso, há muitas coisas que não
puderam ser incluídas. Os artigos que linkamos têm mais detalhes
técnicos e, para aqueles que se interessarem, recomendamos
consultá-los. Mas, para todo mundo, nós esperamos que este texto
tenha esclarecido um pouco melhor sobre como perder a barriguinha.
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