Tradução de Elson C. Ferreira – Curitiba/Brasil Abril/2012
Nos dias 2 e 3 de Março de 2012, a Universidade da
Califórnia, Merced, patrocinou um simpósio intitulado “Popol Vuh! Simpósio em Celebração à Criação
do Antigo Mito da Literatura, Iconografia, Epigrafia, Etnohistória e
Arqueologia". A conferência destacou o Dr. Michael Coe como
principal palestrante, juntamente com outros proeminentes estudiosos da cultura
Maia, incluindo o Dr. Allen Christenson, Professor de Estudos Pré Colombianos
da Universidade Brigham Young.
Este é um relatório dessa conferência, produzido por Joseph e Blake
Allen, e Ted Dee Stoddard.
Obviamente, a conferência tratou das
civilizações da antiga Mesoamérica sob várias perspectivas—especialmente os
Maias, que foram vistos como a "civilização mãe" do Novo Mundo por
pouco mais de um século após a publicação de O Livro de Mórmon em 1830.
Numerosas referências também foram feitas aos Olmecas, os quais desde os anos
de 1940 têm tido a distinção de ser a “civilização mãe” do Novo Mundo.
Se os eventos de O Livro de Mórmon no Novo Mundo
aconteceram na Mesoamérica, como nós inequivocamente afirmamos que aconteceram,
então sugerimos que aqueles que acreditam em O Livro de Mórmon devem estar bem
informados a respeito das descobertas arqueológicas, geográficas, históricas e
culturais com respeito aos Maias e aos Olmecas, que podem impactar no nosso
conhecimento de O Livro de Mórmon.
Entretanto, nossas estimativas não oficiais sugerem
que apenas algo em torno de 10% dos membros adultos de “A Igreja de Jesus
Cristo dos Santos dos Últimos Dias” têm algum conhecimento substancial dos
Olmecas e dos Maias—essa estimativa é especialmente correta em relação aos
Olmecas. Além disso, estimamos que até menos de 10% dos membros adultos da
Igreja estão informados com respeito ao Popul Vuh. “Que tragédia!”
dizemos a nós mesmos.
Continuamos afirmando que uma das metas dos
Mesoamericanistas de O Livro de Mórmon deve ser a de ajudar a ensinar os
membros da Igreja sobre as culturas Mesoamericanas que existiam durante os
eventos registrados em O Livro de Mórmon. Este pensamento engloba informações a
respeito do livro Mesoamericano que conhecemos hoje pelo nome de Popol
Vuh.
Simplistamente,
o que é o Popul Vuh? Citamos aqui informações do próprio anúncio do
simpósio:
O Popul Vuh dos antigos Maias é um dos mais antigos e completos
textos literários Pré Colombianos que sobreviveu à Conquista Espanhola. Seu
texto foi traduzido mais de 82 vezes para idiomas europeus e Maias,
bem como para o chinês, coreano e japonês. Sua poesia elegante tem sido
comparada à Ilíada, à Odisseia da Grécia ou à Ramayana da Índia. É comumente
referenciada como a "Bíblia"
Maia e esta analogia é bem merecida, conquanto ele é de fato
"bíblico" em sua profundidade temporal e fundamentos cosmológicos
abrangentes. Mas aqui terminam as comparações, já que é demonstrativamente
um texto antigo, parte do qual pode ser atribuído ao período Pré Clássico. Seu
texto tem se tornado um recurso valioso para o entendimento da cosmologia,
mitologia e religião Maia, e abre uma janela na alma do antigo povo Maia,
dando-nos um vislumbre de seus valores, moral e crenças.
·
O Popul Vuh claramente é um antigo texto
Mesoamericano cujas origens provavelmente coincidem com os
períodos Médio Pré Clássico ou Pré Clássico Tardio, ou seja, a época de
origem que coincide em algum ponto com os Nefitas de O Livro de Mórmon.
(Ver também “Popol Vuh Discovery,” http://www.miradorbasin.com/; use o link para ler a respeito do trabalho do Dr. Richard Hansen
nas planícies Maias da Mesoamérica).
·
O Popul Vuh original era
um livro hieroglífico associado com os povos que viveram nas planícies Maias.
"Dos muitos livros hieroglíficos que existiram nas planícies, inclusive a
versão Pré Colombiana do Popul Vuh, não se sabe de nenhum outro que
tenha sobrevivido". (Allen J. Christenson, Popul Vuh: The Sacred Book
of the Maya [Norman: University of Oklahoma Press, 2007], 34)
·
As autoridades que conduziram a Conquista espanhola
destruíram sistematicamente os livros hieroglíficos dos Maias. Aparentemente,
escribas Quiche Maya em algumas instâncias tentaram "preservar o
que eles podiam de sua literatura transcrevendo seu conteúdo para alguma forma
que as salvaria dos ardentes expurgos das autoridades cristãs".
(Christenson, 36) O Popol Vuh aparentemente era uma das tais
transcrições da versão hieroglífica do exemplar Quiche Maya,
provavelmente dos anos 1554–58 d.C.
·
Em algum tempo entre 1701–04 d.C., Francisco
Ximenez, sacerdote da paróquia de Chichicastenango, soube da
tradução Quiche, obteve o manuscrito e o traduziu para o espanhol.
"Não se sabe o que aconteceu com o manuscrito do Século XVI, embora
presumivelmente o Padre Ximenez o tenha devolvido aos seus
proprietários Quiche. É possível que o original ainda possa estar na
posse dos mais velhos da vila ou nos arquivos da cidade de
Chichicastenango”. (Christenson, 40)
·
A tradução de Ximenez foi esquecida até quase à
época da Guerra Civil Guatemalteca em 1829. Em 1854, Carl Scherzer,
austríaco, viu o manuscrito, obteve uma cópia, levou-a consigo para a Europa e
então publicou a versão espanhola de Ximenez em 1856, a primeira vez
que o Popol Vuh apareceu impresso.
·
Desde então, mais de oitenta traduções foram
feitas, a maioria das quais a partir da versão espanhola de Ximenez.
Entretanto, como resultado final de sua missão para a Igreja SUD entre
os Quiche Maia das terras altas da Guatemala, Allen Christenson traduziu
o Popol Vuh da versão Quiche para o idioma inglês.
· Na conferência Popul Vuh em Merced, o respeito e a
admiração por Allen Christenson entre seus participantes era óbvio.
Provavelmente ele era a única pessoa na audiência que era fluente no
idioma Quiche Maya, e sua tradução do Popol Vuh da versão
Quiche (em vez da versão espanhola) inquestionavelmente por si mesma o estabeleceu
como o
principal estudioso do Popol Vuh presente na conferência.
· No
seu "Prefácio do Tradutor" o Dr. Christenson disse:
"O Popul Vuh é o mais importante exemplo da literatura Maia
Pré Colombiana que sobreviveu à Conquista espanhola". Nós entendemos
a veracidade e a lógica dessa declaração conquanto ela se relacione com
a Conquista espanhola. Entretanto, da perspectiva da Mesoamérica como o
local de todos os eventos de O Livro de Mórmon no Novo Mundo, nós preferimos a
seguinte declaração: "O Livro de Mórmon é o mais importante e mais acurado
documento traduzido que pode estar associado com a literatura Maia Pré Colombiana".
·
Alguns estudiosos da cultura Maia presentes na
conferência de Merced, especialmente o Dr. Michael Coe, desassociou
o Popol Vuh de qualquer conexão com a Bíblia e até da
cristandade. Nós discordamos dessa atitude e postura, e afirmamos que uma
leitura cuidadosa do Popol Vuh confirmará muitas correlações entre
a Bíblia e o Popol Vuh. Por exemplo, na seção "O
Mundo Primordial", nós lemos o seguinte:
“Este é o relado de quando tudo ainda era silente e plácido. Tudo era
silente e calmo. Silencioso e vazio era o ventre do céu.
Estas, então, são as primeiras palavras; a primeira fala. Não há ainda
pessoa alguma, algum animal, pássaro, peixe, caranguejo, árvore, pedra,
cavidade, cânion, campo ou floresta. Só o céu existe. A face da terra ainda não
tem aparência. Só há a expansão do mar, junto com o ventre de todo o céu. Ainda
não há nada reunido. Nada se mexe. Tudo está lânguido, em descanso no
céu. Ainda não há nada que esteja ereto. Apenas a expansão da água, apenas
o tranquilo mar repousa só. Ainda não há nada que possa existir. Tudo
repousa plácido e silente na escuridão, na noite. (Elson C. Ferreira/2012,
à partir de Christenson, 68–69)
Como outro exemplo, na seção “The Maiden Lady Blood and the Tree of
One Hunahpu” (O Sangue da Moça e a Árvore de One Hunahpu), lemos o seguinte:
“Quando ela ouviu o relato do fruto da árvore conforme dito por seu
pai, ela ficou impressionada com a história:
"Posso eu não vir a conhecê-lo, vendo a árvore de que se tem
falado? Eu ouço que seu fruto é verdadeiramente delicioso", ela disse.
Assim ela foi sozinha em baixo da árvore que estava plantada:
“Ah! Que é o fruto dessa
árvore? Não é o fruto nascido dessa árvore de delícias? Eu não morreria, Eu não
me perderia. Seria ouvido se eu colhesse um? perguntou a moça.
Então falou a caveira do meio da árvore:
“O que é que desejas disso? É meramente uma caveira,
uma coisa redonda colocada nos ramos das árvores”, disse a cabeça de Hunahpu
quando falou à moça. "Tu não o desejas", foi dito a ela.
"Mas eu o desejo", disse a moça.
"Muito bem então, ergue tua mão direita para que eu a possa
ver", disse a caveira.
"Muito bem", disse a moça.
E então ela ergueu sua mão direita diante da face da caveira.”
Não estamos profetizando nada mais do que acreditamos que os escritores
originais do Popol Vuh devem ter algum conhecimento, pelo menos em certa
medida, a respeito da história da criação conforme lemos no Antigo Testamento
da Bíblia. Além do mais, os Nefitas tinham essa informação a partir das Placas
de Latão de Labão. Muito provavelmente eles disseminaram essa informação por
diversas vezes aos seus “irmãos” lamanitas.
· Por outro lado, alguns estudiosos da cultura Maia presentes na
conferência deram a entender que o Popol Vuh, como o conhecemos hoje em
dia, muito provavelmente teria recebido conteúdo adicional que pode ser
correlacionado com a Bíblia, pois os autores originais da tradução Quiche não
estavam preocupados com as terríveis consequências associadas com seu
envolvimento com tal conteúdo, se as autoridades espanholas descobrissem a
tradução Quiche. Ou seja, os estudiosos do Popol Vuh vêm uma lacuna no
conteúdo do Popol Vuh atual, e essa lacuna talvez tenha sido preenchida
com conteúdo adicional que pode estar relacionado à Bíblia.
·
Alguns estudiosos da cultura Maia parecem estar
convencidos de que evidências do Popol Vuh são encontradas difusamente
na maior parte da “literatura, iconografia, epigrafia, etno história e
arqueologia” dos Maias, começando em algum ponto do Período Pré Clássico e se
estendendo pelo Período Clássico.
·
Além do próprio O Livro de Mórmon, o Popol Vuh
é provavelmente a mais válida evidência de que os Maias (os quais, da nossa
perspectiva), viveram quase exclusivamente no território da terra do sul de O
Livro de Mórmon, e possuíam um sistema de escrita de alto nível, item que é um
requerimento crítico na tentativa de alguns em identificar o Novo Mundo como o
local das terras de O Livro de Mórmon. Nesse respeito, Bartolome de las Casas, uma
das primeiras autoridades espanholas na Guatemala, escreveu que os livros
hieroglíficos dos Maias continham a história das origens dos povos e crenças
religiosas e estavam escritos através de “figuras e caracteres pelos quais eles
podiam fazer significar tudo o que desejavam; e que esses grandes livros são de
tal astúcia e sutileza técnica que nós poderíamos dizer que os nossos registros
não oferecem muito como vantagem.” Ou, como disse Allen Christenson, “Devido à
sua natureza fonética, os glifos Maias podem ser colocados juntos para formar
qualquer palavra que se possa pensar ou falar.” (Christenson, 33) Além disso, o
único lugar no Novo Mundo onde um sistema de linguagem escrita foi utilizado
durante o período Nefita de O Livro de Mórmon, ficava no país Maia onde o Popol
Vuh foi escrito—território hoje conhecido como Mesoamérica e referido pelos
Nefitas em O Livro de Mórmon como terra do sul.
·
Conforme Allen Christenson observa, “Os autores do Popol
Vuh deixaram claro que eles basearam seus escritos num texto trazido do
litoral Maia.” Este fato por si só sugere que não devemos tirar o litoral Maia
de qualquer proposta para a geografia de O Livro de Mórmon. Aprendemos em O
Livro de Mórmon que os “Nefitas Maias” ensinaram os “Lamanitas Maias” a
escrever, em alguma época no segundo século antes de Cristo (ver Mosias 24:6)—uma
época em que, aparentemente, se correlaciona estreitamente com a origem do Popol
Vuh.
Obviamente, os
estudiosos da cultura Maia têm muito mais a aprender a respeito e com o Popol
Vuh. De modo similar, os estudiosos de O Livro de Mórmon têm uma tarefa
ainda maior de correlacionar as descobertas associadas com o Popol Vuh e
com a mensagem e origem de O Livro de Mórmon.
Blake J. Allen,
Joseph L. Allen
, Ted Dee Stoddard.
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