Keith H. Meservy
, Ensign, Jan. 1988, 23
A Fuga dos Prisioneiros, 1896-1902, James Tissot
Tradutor: Elson Ferreira – Curitiba/Brasil – 2007 –
elsonferreira@gmail.com
Leí e sua família fugiram de uma cidade consignada
à destruição. Com o que
Jerusalém se parecia? Jeremias pintou o vívido panorama de uma
terra cheia de iniquidade.
Leí abandonou a condenada Jerusalém no
primeiro ano do reinado de Zedequias, que durou onze anos. Naquele único ano de
adversidade houve três reis que governaram a terra de Judá.
Primeiro foi Jeoiaquim, o qual morreu pouco depois de ter se revoltado contra
Nabucodonozor, rei de Babilônia. Depois foi seu filho Jehoiachin, o qual reinou
por três meses antes de Nabucodonozor chegar e acabar com a rebelião que
Jeoiaquim havia começado. A pronta submissão de Jehoiachim a Nabucodonozor
salvou a cidade, mas a tolice de seu pai causou a ele, bem como à sua rainha, filhos,
oficiais, artesão e milhares de cidadãos – inclusive Ezequiel e Daniel – serem
levados em cativeiro para Babilônia (ver Jeremias 29:2). O ultimo dos três reis foi
Zedequias, que assegurou seu trono com um juramento de aliança a Nabucodonozor.
Quando Nabucodonozor desapareceu, indo
para o norte e levando consigo milhares de judeus cativos, aqueles que
permaneceram estavam ansiosos por serem livrados desta tensão. Em vez disso, profetas
de Deus predisseram que Jerusalém, salva tão recentemente, estava prestes a ser
destruída sem que seus moradores se arrependessem. A recente deportação de
milhares de cidadãos não deu fim a essa ameaça, simplesmente forneceu uma
amostra do terror e tristeza que estavam por vir.
Enquanto profetas verdadeiros anunciavam
guerras e desolação, os cidadãos se recusavam a levar a sério, a eles e às suas
advertências. Pacificados por falsos profetas que, em côro, falavam em
paz, o povo se sentia tão seguro que nove anos depois pressionaram Zedequias
a quebrar seu juramento de aliança com Nabucodonozor. Com este ato a contagem
regressiva para a destruição da cidade começou.
Um pesado cerco de um ano e meio precedeu
a queda final de Jerusalém. Como
Jeremias havia predito, milhares de cidadãos morreram de fome, pelo fogo e pela
espada. Jerusalém e o magnífico templo de Salomão foram transformados em
escombros e cinzas. Zedequias, o orgulhoso monarca, viu seus filhos serem
mortos antes de ter seus olhos vazados. Ao contrário das promessas feitas pelos
falsos profetas, dezenas de milhares dos cidadãos de Jerusalém se tornaram
escravos de Babilônia. Os poucos sobreviventes finalmente fugiram para o Egito
em busca de segurança. (ver Jer. 39: 1–2, 6–9; 43: 5–7; 52: 6, 13) Se não notou, todas as
referências subseqüentes estão no Livro de Jeremias).
O que, exatamente, levou à destruição de
Jerusalém? Jeremias nos diz que seus habitantes haviam se tornado tão sensuais
e materialistas que haviam perdido todo o senso divino de valores: “Eles são
sábios para fazerem o mal, mas para fazer o bem eles não têm conhecimento”. ( Jer. 4: 22)
“Todos eles são adúlteros”, disse Jeremias
a respeito da maioria dos daquela geração. (Jer. 9: 2) Eles “se ajuntam em bandos nas casas das meretrizes”. Como
garanhões bem alimentados, “cada um relincha à esposa do seu vizinho”. (Jer.
5: 7–8)
Aquele que se deleita “na castidade das
mulheres”, para quem a libertinagem é uma abominação (Jacó 2: 28), viu como a iniquidade de maridos
adúlteros causou angústia às esposas cujo amor e confiança haviam sido despedaçados.
Ele viu “a dor e (ouviu) o lamento das filhas de (seu) povo na terra de
Jerusalém”. (Jacó
2: 31) Consequentemente, o Senhor tirou o grupo
de Leí “da terra de Jerusalém… a fim de suscitar… um ramo justo dos frutos
dos lombos de José”. (Jacó 2: 25)
A preocupação do povo com a sensualidade
era combinada com sua cobiça e desonestidade. Jeremias lamentou: “Porque desde
o menor deles até o maior, cada um deles é dado à cobiça; e desde o profeta até
o sacerdote, cada um usa de falsidade” .(Jer. 6: 13) Jeremias referia-se aos falsos
profetas simplesmente como profetas, conforme o contexto deixa claro. Ele desafiou
cada um que duvidava de suas palavras nas ruas e praças de Jerusalém para ver
“se há um homem que executa a justiça ou busque a verdade". ( Jer. 5: 1)
Em Jerusalém, possuir coisas se tornou o
mais importante e qualquer meio para possuí-los parecia justificado. A
desonestidade substituiu a integridade; a confiança desapareceu e os vizinhos
se tornaram traiçoeiros. Jeremias observou:
“Eles estendem sua línguas como se fosse
o seu arco para a mentira; fortalecem-se na terra, mas não para a verdade”.
Portanto ele aconselhou: “Guardai-vos
cada um do seu amigo, e não confieis em nenhum irmão, pois cada irmão não faz
mais do que pronunciar enganos, e todo amigo anda em calúnias”. (
Jer. 9: 2–4)
“Com a sua boca fala cada um de paz com
o seu companheiro, mas no seu interior arma-lhe uma cilada”. (Jer. 9: 8)
Como cobiçosos, desonestos e adúlteros
como era aquela geração, era cuidadosamente mantido seu auto respeito
racionalizando o bem em mal e o mal em bem. Cuidadosamente
eles chamavam e ungiam profetas que eram feitos aos seus próprios moldes. Por
causa da perversa influência destes adivinhos, Jeremias disse: “Meu coração está
quebrantado dentro de mim por causa dos profetas”. (Jer. 23:9)
Destes falsos e imorais testadores, o
Senhor disse: “Mas nos profetas de Jerusalém eu tenho visto uma coisa horrenda:
cometeram adultérios e andam com falsidades, esforçam as mãos dos malfeitores
para que não se convertam da sua maldade; eles têm se tornado para mim como
Sodoma e os moradores dela como Gomorra”. (Jer. 23: 14)
Quão cuidadosamente tais falsos profetas
asseguraram aos cidadãos que iniquidade era felicidade! Quão bem eles os
isolaram das dores da consciência! Quão profundamente convenceram-nos que vidas
sensuais e materialistas eram melhores que viver com a paz do Espírito!
Apesar de clamarem terem visões, suas visões
vinham de seus próprios corações. Eles prometeram àqueles que andavam Segundo
suas próprias imaginações que nenhum mal viria sobre eles. Àqueles que desprezavam
ao Senhor, eles brandamente prometiam: “O Senhor disse, Tereis paz”. (Jer. 23: 16–17) Eles convenceram àquela perversa
geração a não se arrependerem de contradizer e ridicularizar aos verdadeiros
profetas.
Ironicamente, eles poderiam ter sido uma
grande influência para o bem. O Senhor disse a Jeremias: “Se estivessem no meu
conselho, então fariam ouvir as minhas palavras ao meu povo, e os fariam voltar
do seu mau caminho e da maldade das suas ações”. ( Jer. 23: 22)
Além disso, para pagar os profetas que
diziam “sim” aos desejos dos seus próprios luxuriosos e cobiçosos corações, os
cidadãos de Jerusalém também zelosamente adoravam ídolos. Em seu zelo, o povo
servia a tantos deuses quantas eram suas cidades em Judá e erigiam tantos altares
a Baal quantas eram as ruas de Jerusalém. (ver Jer. 11: 13) Eles “edificaram altos lugares de
Tofete” nos vale de Hinom, onde queimavam “seus filhos e suas filhas no fogo” em
homenagem a Baal e Molech, coisa que Deus nunca havia requerido deles nem jamais
havia entrado em seu coração pedir. (Jer. 7: 31; 19: 5; 32: 35) Quando os cananitas, que eram os
predecessores de Israel, haviam poluído a terra com práticas similares, a terra
os havia vomitado. (Lev. 18: 21, 24–25.)
O pior de tudo era que o povo se
recusava a mudar, ou até mesmo reconhecer sua própria iniquidade. Não havia
introspecção nem remorso. “...ninguém há que se arrependa da sua maldade, dizendo: Que fiz eu?” (Jer. 8: 6)
“Porventura envergonham-se de cometer
abominação? De maneira nenhuma se envergonham, nem
tampouco sabem o que é envergonhar-se”. (Jer. 6: 15)
De fato, o povo mesmo se maravilhara, dizendo:
“Por que pronuncia o Senhor sobre nós todo este mal? E qual é a nossa iniquidade e qual é o nosso pecado, que
pecamos contra o Senhor nosso Deus?”(Jer. 16: 10) Lamã e Lemuel, como produtos daquela
sociedade, compartilharam destes sentimentos. “E sabemos” disseram eles, “que o
povo que estava na terra de Jerusalém era um povo justo...”, e convenceram a si
mesmo que seu pai Leí havia julgado mal seus amigos e vizinhos. (1 Ne. 17: 22) Profetas devem sempre aparecer para
julgar aqueles que perderam sua habilidade de discernir entre o bem e o mal.
Jeremias não desejava que ninguém
perecesse e foi inspirado a prometer aos cidadãos de Jerusalém que Deus os salvaria,
à sua cidade e seu templo da destruição – se eles se arrependerem. Mais
especificamente, se eles simplesmente guardassem o dia do Sábado, Deus os
pouparia. (ver Jer. 17: 19–27) As advertências
de Jeremias, entretanto, não foram consideradas e falharam em deter sua implacável
iniquidade.
Para um povo impenitente, profetas
divinos devem ter parecido ser arautos da morte, enquanto que os falsos
profetas devem ter parecido ser anjos de paz e misericórdia. Jeremias, por
exemplo, escreveu aos cativos de Babilônia dizendo-lhes para que construíssem
casas, plantassem jardins e casassem seus filhos para que eles aumentassem durante os
longos anos de cativeiro. O falso profeta Ananias, por outro lado, prometeu, no
nome do Senhor, que dentro de dois anos Deus os levaria de volta para suas casas
na Palestina. (Jer. 28: 1–4; 29: 1, 4–7) Quando Jeremias clamou Guerra,
espada, lança e fogo – falsos profetas pacificaram o povo pecador com “Paz,
paz!”. (Jer.
6: 13–14, 22–29.)
Quando os babilônios finalmente vieram e
cercaram a cidade, Jeremias novamente aconselhou os indivíduos para que
pudessem sobreviver rendendo-se aos babilônios. Tal advertência enfraqueceu as
mãos dos defensores e fizeram Jeremias parecer um traidor. ( Jer.
38: 2–4) Entretanto, somente Deus sabia o que
estava por vir e podia dizer-lhes como sobreviver.
Nos últimos dias do cerco, Zedequias
desesperadamente pediu conselheiros a Jeremias o qual lhe prometeu que ele
sobreviveria e a salvação da cidade se ele se entregasse aos babilônios, senão
a cidade seria destruída. Porém, Zedequias manteve secreto seu conselho por temor
do seu próprio povo e as profecias de Jeremias foram cumpridas. ( Jer.
38: 17–27)
A difundida hostilidade e a rejeição às
mensagens divinas fez dessa uma época difícil para um autêntico profeta. Mesmo
os sacerdotes de Anatote, a terra natal de Jeremias, repetidamente tentaram
tirar a vida de Jeremias dizendo: “Não profetizes em nome do Senhor para que
não morras pela nossa mão”. (Jer. 11: 21) Os conspiradores
envolveram até mesmo seus irmãos e a casa de seu pai. (Jer. 12: 6)
Jeremias ficou horrorizado com uma variedade
de traições feitas contra eles:
“Eu era como um cordeiro manso ou um ou um boi
que é levado para a matança; e eu não sabia que eles imaginavam projetos contra
mim, dizendo: Destruamos a árvore com o seu fruto e cortemo-lo da terra dos
viventes, e não haja mais memória do seu nome”. (Jer. 11: 19)
Em outra oportunidade, quando ele
prometeu que o templo e a cidade seriam destruídos, os sacerdotes e os profetas
trouxeram-no para julga-lo diante dos príncipes e acusaram-no de traição, demandando
por sua morte, mas como Abinadi, ele respondeu: “Quanto a mim, eis que estou
nas vossas mãos; fazei de mim conforme o que for bom e reto aos vossos olhos”. (Jer. 26: 14)
“Sabei, porém, com certeza que se me
matardes trareis sangue inocente sobre vós e sobre esta cidade e sobre os seus
habitantes, porque, na verdade, o Senhor me enviou a vós para dizer aos vossos
ouvidos todas estas palavras”.(Jer.
26: 8–15.)
Novamente o Senhor livrou Jeremias de
suas mãos, conforme havia prometido. (Jer. 1: 18–19; 26: 24) Um dos contemporâneos de Jeremias, entretanto,
não foi tão afortunado. Quando Urias “profetizou contra esta cidade e contra
esta terra”, o rei Jeoiaquim tentou matá-lo. Urias fugiu para o Egito para
salvar-se, mas o rei extraditou-o e “o matou à espada, e lançou seu cadáver nas
sepulturas dos filhos do povo”. ( Jer. 26: 20–23.)
A constante perseguição, zombaria e
ridicularização às vezes se tornou quase insuportável para Jeremias. Ele perguntou
a si mesmo: “Por que saí da madre para ver trabalhos e tristeza, e para que se
consumam os meus dias na confusão?” (Jer. 20: 18) Por outro lado, ele foi empático
para com os sofrimentos de seu povo, estavam prestes a experimentar: “Oxalá
minha cabeça se tornasse em águas e os meus olhos numa de lágrimas! Então
choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo”. (Jer. 9: 1)
Nesse ambiente de matança de profetas,
Leí corajosamente tomou seu lugar ao lafonte do dos profetas verdadeiros e profetizou
a respeito do que tinha visto e ouvido, ou seja, a destruição de Jerusalém, a iniquidade
e abominação do povo, a vinda do Messias e a redenção do mundo.
“Quando os judeus ouviram estas coisas,
ficaram irados com ele;… e procuraram também tirar-lhe a vida.” (1
Ne. 1: 18–20 .)
Se não tivéssemos o Antigo Testamento que
nos conta sua experiência, nossa reação à sua mensagem poderia parecer
melodramática, mas conhecendo o contexto podemos entender mais a respeito da
coragem e desejos retos do grande profeta Leí de permanecer ao lado de outros
profetas verdadeiros.
Leí e Néfi sabiam que as advertências
proféticas são bênçãos que um Deus compassivo oferece a seus filhos. Néfi
amplia a mensagem de Jeremias: “E eis, porém, que eu, Néfi, vos mostrarei que
as ternas misericórdias do Senhor estão sobre todos aqueles que ele escolheu
por causa da sua fé, para torná-los fortes com o poder de libertação”. (1
Ne. 1: 20; Jer. 7: 3–7) O testemunho de Leí e Néfi são os mesmos que os testemunhos de
todos os outros escritores proféticos: A salvação e o livramento vêm de Deus.
Enquanto Leí estava sendo levado em
direção à terra da promissão preparada para ele pelo Senhor, podemos perceber seu
entusiasmo em olhar adiante, para o lugar onde sua família poderia procurar ao
Senhor e servi-lo em
retidão. Assim, humildemente reconhecendo que era um homem
visionário, ele sabia que suas visões eram responsáveis pela salvação de sua
família:
“Sei que sou um visionário, pois se não
houvesse visto as coisas de Deus numa visão não teria conhecido a bondade de
Deus, mas teria permanecido em Jerusalém e perecido com meus irmãos. Eis que
obtive, porém, uma terra de promissão, pelo que me regozijo...” (1
Ne. 5: 4–5.)
As histórias de Jeremias e de Leí são
partes da história do amor de Deus. Elas mostram como o Senhor tentou continuamente
salvar todos os seus filhos, como ele advertiu os iníquos a respeito dos seus iminentes
julgamentos e como ele conduz a salvo aqueles que ouvem seus conselhos.
Em nossos dias, profetas estão novamente
advertindo o mundo que os julgamentos de Deus recairão sobre os iníquos. As
experiências de Jeremias e Leí nos encorajam a acreditar que se amamos a
verdade o suficiente para seguir os profetas e tomar o Espírito Santo como
nosso guia, receberemos as bênçãos prometidas. (D&C 45: 57)
[ilustrações] Acima: “A Fuga dos
Prisioneiros” de James J. Tissot. "Ele queimou a casa do Senhor, a a
casa do rei, e todas as casas de Jerusalém, e as casas dos homens grandes ele
queimou com fogo." ( 2 Reis. 25: 9.) Direita: “Jeremias”
de James J. Tissot. "Tu dirás a eles: Assim diz o Senhor dos Exércitos: Assim
eu destruiriei este povo e esta cidade, como alguém que quebra o vaso do
oleiro, que não pode ser feito inteiro novamente." ( Jer. 19: 11.)
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