“E
Veio a Passar... (e aconteceu)” x Paralelismo
V. Garth
Norman
Quando Bruce Warren (1987: 62-64) examinou os
glifos indicadores de tempo feito pela principal estudiosa dos hieróglifos
maias Linda Schele (1982) e David
Stuart (1984). Ele ficou
impressionado com uma notável correspondência existente entre esses glifos e O
Livro de Mórmon.
J. Eric Thompson (1950: 162-64) descobriu
que um glifo maia indicador de data posterior significa “contar adiante (ou
para frente)” e um indicador de data anterior significa “contar regressivo a”. Até
então não era conhecida em qualquer dialeto maia uma única frase equivalente.
Três décadas mais tarde de avanços na
decifração dos hieróglifos maias, David Stuart (1984: 5) apresentou um Proto-Cholan maia em que se lê “I U ti”
(ver nota
do editor 1) significando “para terminar, veio a
passar (ou aconteceu)” ou Chontal ut com o mesmo
significado. Linda Schele em 1982 (21-25) traduziu e ilustrou esta palavra
frequentemente usada nos textos hieroglíficos maias em quatro tipos de
indicadores direcionais como “então veio a passar (ou aconteceu)”, “até [que]
veio a passar (ou acontecer)”, “desde [que] veio a passar (ou acontecer)”, etc..
Dr. Warren então ilustrou os vários e
impressionantes tipos de correspondências que combinam com textos maias em Palenque,
Chiapas, México do estudo de Schele (1982: 68-69);
ver figuras abaixo: Seção de painéis de Inscrições de Templo,
Palenque, com variantes do glifo para “veio a passar (aconteceu)”. (Allen 1989 Fig. 3-4)
(ver
nota do editor #1 para explicação do glifo)
Data Posterior e/ou Indicador de Evento
E veio a passar (aconteceu) que assim
passou o ano nonagésimo quinto ano também (3 Néfi 2:1)
E veio a passar (aconteceu) que o povo
começou a [se] tornar forte em iniquidade (3 Néfi 2:11)
E veio a passar (aconteceu) no trigésimo
ano [que] começaram a haver guerras (3 Néfi 2:4)
Data Anterior e/ou Indicador de Evento
E assim passou o nonagésimo sexto ano (3 Néfi 2:4)
E tinha vindo a passar (acontecido),
sim, [que] todas as coisas, cada ponto, [de] acordo com as palavras dos
profetas (3 Néfi
1:20)
E seiscentos e nove anos haviam passado
desde [que] Leí deixou Jerusalém (3 Néfi 2:6) (Esta data combinada e indicador de
evento ainda não haviam sido observados nos textos maias. (Ver Joseph Allen, 1989, p. 31-34)
Extensivo uso de “veio a passar
(aconteceu)” e “vir a passar (acontecer)” ocorrem 1476 vezes n’O
Livro de Mórmon, e está enraizado no Antigo Testamento hebreu, onde ocorre 526 vezes.
É considerado algo único na escrita histórica hebraica. Em outras palavras,
podemos dizer como com as estruturas quiásticas, que onde quer que seja
encontrado como uma convenção literária há a marca da influência hebraica. (ver
nota do editor 2)
Então, como esta convenção literária
“hebraica” apareceu na escrita maia? Veio da influência nefita ou [foi] um
paralelo acidental? Paralelos isolados ocorrem, mas eles são raros. A resposta
aqui repousa sobre todo o estilo literário contido em O Livro de Mórmon ser
comparado à escrita maia do Popol Vuh. Quando paralelos não naturais se
multiplicam em qualquer estudo, a escala se inclina de acidental para o lado da
conexão cultural.
Uma olhada nos estudos dos estilos
poéticos em O Livro de Mórmon (Crowell 1992: 12-26) e no Popol
Vuh (Christenson 2003: 42 ff.) mostra uma
impressionante correspondência em, pelo menos, dez tipos de estruturas, o que
inclina a escala significativamente no sentido do reconhecimento de O Livro de
Mórmon como uma crônica mesoamericana com uma herança cultural de origem
compartilhada com o Popol Vuh.
Angela M. Crowell (1992: 12) declara que “o conhecimento da estrutura poética de O Livro de Mórmon
chama a atenção para a grande beleza de seus versos e ajuda nosso entendimento
da sua mensagem”, “em adição ao reconhecimento de suas antigas origens
hebraicas”.
A tradução do Popol Vuh feita por Alan J. Christensen (2003: 52) reconhece que “Longe de ser reflexões aleatórias de um contador de
histórias inculto, o Popol Vuh pode ser apreciado como a eloquente
criação de um grande poeta com uma sofisticada herança literária.”
A origem dessa
estrutura poética é anterior aos textos hieroglíficos maias?
Eu participei de uma
oficina de tradução com Schele na Universidade do Texas em 1986 e trabalhei no Palace Tablet que data do Século VII A.D. Durante aquela
semana fui capaz de decifrar uma estrutura de composição “quiástica” do texto
que colocou o nome do primeiro ancestral, Pacal, da dinastia de Palenque no
centro geométrico quiástico exato do painel de texto. Descobri em Palenque
outros painéis igualmente planejados. Este é um assunto para outro artigo;
apenas menciono aqui para ilustrar a antiguidade dos escritos maias em
comparação com O Livro de Mórmon.
Um assunto para
investigação é, a que grau a evoluída escrita hebraica nefita pode ser
encontrada na escrita hieroglífica maia (Mórmon 9: 32-34).
Como sabemos, essa
escrita não se qualifica como nefita por localizar a história de O Livro de
Mórmon em território maia como alguns supõem. A origem do sistema de escrita
maia é anterior aos tempos Olmecas/Jareditas; portanto, estamos considerando
uma longa e complexa história de desenvolvimento de uma escrita em particular
que se manifestou numa variedade de sistemas hieroglíficos regionais na
Guatemala, Veracruz e em outros lugares durante a era Pré Clássica tardia antes
que o sistema clássico maia se tornasse completamente formalizado no Século III
A.D. Isto pode se ligar mais diretamente à cultura histórica lamanita, mas numa
geração em que as culturas lamanita e nefita haviam se fundido.
Referências:
Allen, Joseph L. Exploring the Lands of the Book of Mormon.
SA Publishers, Orem, Utah. 1989.
Christenson, Allen J. Popol Vuh; the Sacred Book of the Maya. O
Books, New York, 2003.
Crowell, Angela M. “Hebrew Poetry in the Book of Mormon,” Part I &
Part 2. In Recent Book of Mormon Developments, Vol 2, Zarahemla
Research Foundation, Independence, Missouri, 1992, pp. 12-26).
Warren, Bruce W. And Thomas Stuart Ferguson. The Messiah in
Ancient America. Book of Mormon Research Foundation. Provo, Utah.
Schele, Linda. Maya Glyphs: the Verbs. Austin: U of Texas
Press. 1982.
Stewart, David. Epigraphic Evidence of Political Organization in the
Usumacinta Drainage. (Unpublished Manuscript.) 1984.
Nota do Editor 1: Havia um equívoco na pesquisa original de Allen a
respeito da grafia da tradução de David Stuart de "it came to pass".
Ronald Dye, membro há longo tempo da BMAF fez contato conosco com a valiosa
correção: "O título para a figura do glifo maia para “it came to pass
(veio a passar, aconteceu, sucedeu)” {U} T Ch I atribuída a Joseph Allen, está
incorreto. Ele deve ser I U ti. Eu recomendaria a obra How to Read Mayan
Hieroglyphs, de John Montgomery, Hippocreene Books, pp. 117-118 especificamente
p. 118, figura 6-14 e o texto relacionado para The Posterior Date Indicator (PDI) (I ut). Eu discuti isso com Blake
Allen.
(Nota do Editor 2: Já que o glifo para “veio a
passar/aconteceu/sucedeu” lida com o tempo, eu esperaria encontrá-lo em vários
glifos e em vários locais. Durante a viagem às terras de O Livro de Mórmon
[promovida pela] BMAF em 2010 nós visitamos a ruínas de Cancuen do Rio Pasion,
bem no meio das terras de O Livro de Mórmon, casualmente encontramos um
excelente exemplo desse glifo. Veja as fotos daquela viagem e informações sobre
Cancuen e ilustração do glifo.
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