Missão

Nossa missão é divulgar artigos de pesquisas científicas a respeito da arqueologia, antropologia, geografia, sociologia, cronologia, história, linguística, genética e outras ciências relacionadas à cultura de “O Livro de Mórmon - Outro Testamento de Jesus Cristo”.

O Livro de Mórmon conta a verdadeira história dos descendentes do povo de Leí, profeta da casa de Manassés que saiu de Jerusalém no ano 600 a.C. (pouco antes do Cativeiro Babilônico) e viajou durante 8 anos pelo deserto da Arábia às margens do Mar Vermelho, até chegar na América (após 2 anos de navegação).

O desembarque provavelmente aconteceu na Mesoamérica (região que inclui o sul do México, a Guatemala, Belize, El Salvador, Honduras, Nicarágua e parte de Costa Rica), mais precisamente na região vizinha à cidade de Izapa, no sul do México.

Esta é a região onde, presumem os estudiosos, tenha sido o local do assentamento da primeira povoação desses colonizadores hebreus.

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sábado, 13 de abril de 2019

LINGUÍSTICA - Estilo Literário de O Livro de Mórmon na Mesoamérica


“E Veio a Passar... (e aconteceu)” x Paralelismo

V. Garth Norman



Quando Bruce Warren (1987: 62-64) examinou os glifos indicadores de tempo feito pela principal estudiosa dos hieróglifos maias Linda Schele (1982) e David Stuart (1984). Ele ficou impressionado com uma notável correspondência existente entre esses glifos e O Livro de Mórmon.

J. Eric Thompson (1950: 162-64) descobriu que um glifo maia indicador de data posterior significa “contar adiante (ou para frente)” e um indicador de data anterior significa “contar regressivo a”. Até então não era conhecida em qualquer dialeto maia uma única frase equivalente.


Três décadas mais tarde de avanços na decifração dos hieróglifos maias, David Stuart (1984: 5) apresentou um Proto-Cholan maia em que se lê “I U ti(ver nota do editor 1) significando “para terminar, veio a passar (ou aconteceu)” ou Chontal ut com o mesmo significado. Linda Schele em 1982 (21-25) traduziu e ilustrou esta palavra frequentemente usada nos textos hieroglíficos maias em quatro tipos de indicadores direcionais como “então veio a passar (ou aconteceu)”, “até [que] veio a passar (ou acontecer)”, “desde [que] veio a passar (ou acontecer)”, etc..

Dr. Warren então ilustrou os vários e impressionantes tipos de correspondências que combinam com textos maias em Palenque, Chiapas, México do estudo de Schele (1982: 68-69); ver figuras abaixo: Seção de painéis de Inscrições de Templo, Palenque, com variantes do glifo para “veio a passar (aconteceu)”. (Allen 1989 Fig. 3-4)
(ver nota do editor #1 para explicação do glifo)


Data Posterior e/ou Indicador de Evento

E veio a passar (aconteceu) que assim passou o ano nonagésimo quinto ano também (3 Néfi 2:1)

E veio a passar (aconteceu) que o povo começou a [se] tornar forte em iniquidade (3 Néfi 2:11)

E veio a passar (aconteceu) no trigésimo ano [que] começaram a haver guerras (3 Néfi 2:4)

Data Anterior e/ou Indicador de Evento

E assim passou o nonagésimo sexto ano (3 Néfi 2:4)

E tinha vindo a passar (acontecido), sim, [que] todas as coisas, cada ponto, [de] acordo com as palavras dos profetas (3 Néfi 1:20)

E seiscentos e nove anos haviam passado desde [que] Leí deixou Jerusalém (3 Néfi 2:6) (Esta data combinada e indicador de evento ainda não haviam sido observados nos textos maias. (Ver Joseph Allen, 1989, p. 31-34)

Extensivo uso de “veio a passar (aconteceu)” e “vir a passar (acontecer)” ocorrem 1476 vezes n’O Livro de Mórmon, e está enraizado no Antigo Testamento hebreu, onde ocorre 526 vezes. É considerado algo único na escrita histórica hebraica. Em outras palavras, podemos dizer como com as estruturas quiásticas, que onde quer que seja encontrado como uma convenção literária há a marca da influência hebraica. (ver nota do editor 2)

Então, como esta convenção literária “hebraica” apareceu na escrita maia? Veio da influência nefita ou [foi] um paralelo acidental? Paralelos isolados ocorrem, mas eles são raros. A resposta aqui repousa sobre todo o estilo literário contido em O Livro de Mórmon ser comparado à escrita maia do Popol Vuh. Quando paralelos não naturais se multiplicam em qualquer estudo, a escala se inclina de acidental para o lado da conexão cultural.

Uma olhada nos estudos dos estilos poéticos em O Livro de Mórmon (Crowell 1992: 12-26) e no Popol Vuh (Christenson 2003: 42 ff.) mostra uma impressionante correspondência em, pelo menos, dez tipos de estruturas, o que inclina a escala significativamente no sentido do reconhecimento de O Livro de Mórmon como uma crônica mesoamericana com uma herança cultural de origem compartilhada com o Popol Vuh.

Angela M. Crowell (1992: 12) declara que “o conhecimento da estrutura poética de O Livro de Mórmon chama a atenção para a grande beleza de seus versos e ajuda nosso entendimento da sua mensagem”, “em adição ao reconhecimento de suas antigas origens hebraicas”.

A tradução do Popol Vuh  feita por Alan J. Christensen 
(2003: 52) reconhece que “Longe de ser reflexões aleatórias de um contador de histórias inculto, o Popol Vuh pode ser apreciado como a eloquente criação de um grande poeta com uma sofisticada herança literária.” 




A origem dessa estrutura poética é anterior aos textos hieroglíficos maias?


Eu participei de uma oficina de tradução com Schele na Universidade do Texas em 1986 e trabalhei no Palace Tablet  que data do Século VII A.D. Durante aquela semana fui capaz de decifrar uma estrutura de composição “quiástica” do texto que colocou o nome do primeiro ancestral, Pacal, da dinastia de Palenque no centro geométrico quiástico exato do painel de texto. Descobri em Palenque outros painéis igualmente planejados. Este é um assunto para outro artigo; apenas menciono aqui para ilustrar a antiguidade dos escritos maias em comparação com O Livro de Mórmon.


Um assunto para investigação é, a que grau a evoluída escrita hebraica nefita pode ser encontrada na escrita hieroglífica maia (Mórmon 9: 32-34).

Como sabemos, essa escrita não se qualifica como nefita por localizar a história de O Livro de Mórmon em território maia como alguns supõem. A origem do sistema de escrita maia é anterior aos tempos Olmecas/Jareditas; portanto, estamos considerando uma longa e complexa história de desenvolvimento de uma escrita em particular que se manifestou numa variedade de sistemas hieroglíficos regionais na Guatemala, Veracruz e em outros lugares durante a era Pré Clássica tardia antes que o sistema clássico maia se tornasse completamente formalizado no Século III A.D. Isto pode se ligar mais diretamente à cultura histórica lamanita, mas numa geração em que as culturas lamanita e nefita haviam se fundido.

Referências:

Allen, Joseph L. Exploring the Lands of the Book of Mormon. SA Publishers, Orem, Utah. 1989.
Christenson, Allen J. Popol Vuh; the Sacred Book of the Maya. O Books, New York, 2003.
Crowell, Angela M. “Hebrew Poetry in the Book of Mormon,” Part I & Part 2. In Recent Book of Mormon Developments, Vol 2, Zarahemla Research Foundation, Independence, Missouri, 1992, pp. 12-26).
Warren, Bruce W. And Thomas Stuart Ferguson. The Messiah in Ancient America. Book of Mormon Research Foundation. Provo, Utah.
Schele, Linda. Maya Glyphs: the Verbs. Austin: U of Texas Press. 1982.
Stewart, David. Epigraphic Evidence of Political Organization in the Usumacinta Drainage. (Unpublished Manuscript.) 1984.

Nota do Editor 1: Havia um equívoco na pesquisa original de Allen a respeito da grafia da tradução de David Stuart de "it came to pass".  Ronald Dye, membro há longo tempo da BMAF fez contato conosco com a valiosa correção: "O título para a figura do glifo maia para “it came to pass (veio a passar, aconteceu, sucedeu)” {U} T Ch I atribuída a Joseph Allen, está incorreto. Ele deve ser I U ti. Eu recomendaria a obra How to Read Mayan Hieroglyphs, de John Montgomery, Hippocreene Books, pp. 117-118 especificamente p. 118, figura 6-14 e o texto relacionado para The Posterior Date Indicator (PDI) (I ut). Eu discuti isso com Blake Allen.

(Nota do Editor 2: Já que o glifo para “veio a passar/aconteceu/sucedeu” lida com o tempo, eu esperaria encontrá-lo em vários glifos e em vários locais. Durante a viagem às terras de O Livro de Mórmon [promovida pela] BMAF em 2010 nós visitamos a ruínas de Cancuen do Rio Pasion, bem no meio das terras de O Livro de Mórmon, casualmente encontramos um excelente exemplo desse glifo. Veja as fotos daquela viagem e informações sobre Cancuen e ilustração do glifo.

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