A visão de Leí sobre a Árvore da Vida n’O Livro de Mórmon fala do inferno como um profundo abismo, um abismo intransponível do qual emergem névoas de escuridão para apanhar em armadilha a humanidade.
17 E as névoas de escuridão são as tentações do diabo que cegam os olhos e endurecem o coração dos filhos dos homens, conduzindo-os a caminhos espaçosos para que pereçam e se percam.
18 E o grande e espaçoso edifício que teu pai viu são as fantasias vãs e o orgulho dos filhos dos homens. E um grande e terrível abismo separa-os; sim, a palavra da justiça do Deus Eterno e do Messias, que é o Cordeiro de Deus, de quem o Espírito Santo testifica desde o princípio do mundo até agora e de agora para sempre. (1 Ne 12:17,18).
28 E disse-lhes que era um horrível abismo que separava os iníquos da árvore da vida e também dos santos de Deus.
29 E disse-lhes que era uma representação daquele horrível inferno que o anjo me dissera estar preparado para os iníquos.
30 E disse-lhes que nosso pai também viu que a justiça de Deus separava os iníquos dos justos; e que ;seu resplendor era como uma chama de fogo que sobe eternamente para Deus e não tem fim. (1 Néfi 15:28-30)
Chamas ardentes de justiça e julgamento também emanam desse abismo, e um rio de águas sujas flui através desse abismo para engolir os iníquos que são lançados nele. Este golfo separa a Árvore da Vida do largo e espaçoso edifício (construído numa elevação além do abismo). É totalmente possível que Jerusalém, a qual possui um abismo nas suas imediações, tenha sido o modelo do sonho de Leí e que este modelo geográfico tenha sido trazido para o Novo Mundo pela colônia de Leí.
Na Palestina, um estreito vale nas fronteiras dos territórios de Benjamin e Judá (Josué 15:8; 18:6), chamado de O Vale dos Filhos de Hinnom, também conhecido como Ge-Hinnom, repousa ao sul e sudoeste de Jerusalém e é uma continuação do Vale de Kidron. Esta localização fronteiriça também fica nas divisas dos Reinos de Israel (ao norte) e Judá (ao sul). De acordo com o Novo Testamento e a literatura rabínica, Gehenna era o local onde os mortos devem ser julgados e é a habitação dos iníquos. Era um local de culto onde crianças eram queimadas como oferenda ao deus Moloch.
10 E ele contaminou Topheth, que fica no vale dos filhos de Hinnom, que nenhum homem pode fazer seu filho ou sua filha passar pelo fogo a Molech. (2 Reis 23:10).
O profeta Jeremias, condenando essas práticas idólatras, predisse que esse vale seria conhecido como o “vale da Matança”.
31 E eles construíram os altos lugares de Tophet, que fica no vale dos filhos de Hinnom, para queimar seus filhos e suas filhas no fogo; o que Eu não os os ordenei, nem veio (isto) ao meu coração.
5 Eles têm construído também os altos lugares de Baal, para queimar seus filhos com fogo pois queimam oferendas a Baal, o que eu não ordenei, nem me veio à mente:
6 Portanto, eis que, dias vêm, diz o SENHOR, que este lugar não mais será chamado Tophet, nem O Vale dos filhos de Hinnom, mas O Vale da matança. (Jer 7:31; 19:5-6).
O Vale de Kidron é um profundo desfiladeiro que se abre entre o Monte do Templo em Jerusalém e o Monte das Oliveiras, e se estende através do deserto da Judéia até o Mar Morto. Os cemitérios do Monte das Oliveiras podem se relacionar a este vale divisor do Monte do Templo como um lugar de julgamento. Aqui, perto do ribeiro de Kidron, Asa, rei de Judá, destruiu o ídolo feito por Maachah; e Hilkiah, o sumo sacerdote, queimou os vasos feitos a Baal. Ele foi cruzado por Jesus a caminho do Gethsemane.
13 E também Maachah sua mãe, mesmo ela ele removeu de ser rainha, porque ela havia feito um ídolo em um bosque; e Asa destruiu o ídolo dela, e queimou-o perto do ribeiro de Kidron. (I Reis 15:13)
4 E o rei ordenou a Hilkiah o sumo sacerdote, e os sacerdotes da segunda ordem, e os vigias da porta, tirar do tempo do SENHOR todos os vasos que foram feitos para Baal, e para o bosque, e para todas as hostes do céu: e ele queimou-os fora de Jerusalém nos campos de Kidron, e levou as cinzas deles para Beth-el. (2 Reis 23:4)
1 Quando Jesus falou essas palavras, ele saiu com seus discípulos pelo ribeiro de Cedron, onde havia um jardim, no qual ele entrou, e seus discípulos. (João 18:1)
(Illustrated Dictionary and Concordance of the Bible, IDCB).
As características paralelas com o sonho de Leí são as seguintes:
Jerusalém: Monte das Oliveiras
Visão da Árvore da Vida: A oliveira é a tradicional árvore da vida.
Jerusalém: O Monte do Templo é o ponto mais alto e a maior construção; havia sido profanado; foi destruído pela Babilônia.
Visão da Árvore da Vida: O grande e espaçoso edifício, alto; corrompido pelo orgulho e pelas riquezas; caiu pela destruição.
Jerusalém: Profundo abismo onde águas poluídas fluem durante a estação das chuvas; sacrifícios de sangue ao deus Moloch; representado o submundo de Gehenna, o julgamento e a morte dos iníquos.
Visão da Árvore da Vida: O abismo intransponível de águas sujas; contendo o fogo do inferno e o julgamento. No Novo Testamento, Gehenna (inferno na KJV) é visto como o lugar do fogo inextinguível.
22 Mas Eu vos digo, que todo aquele que está irado com seu irmão sem um motivo estará em perigo de julgamento: e todo o que disser a seu irmão, Raca, estará em perigo de concelho: mas todo o que disser, Tolo, estará em perigo do fogo do inferno. (Mat 5:22)
43 E se tua mão te ofende, corta-a: é melhor para ti entrar na vida maneta, do que tendo as duas mãos ir para o inferno, para o fogo que nunca será apagado:
44 Onde seu verme não morre, e o fogo não é extinto.
45 E se teu pé te escandaliza, corta-o fora: é melhor para ti entrar manco para a vida, do que, tendo os dois pés, ser lançado no inferno, no fogo que nunca será apagado:
46 Onde seu verme não morre, e o fogo não é extinto.
47 E se teu olho te escandaliza, arranca-o fora: é melhor para ti entrar no reino de Deus com um olho do que, tendo dois olhos, ser lançado no inferno:
48 onde seu verme não morre, e o fogo não é apagado. (Mar 9:43-48).
Deus tem autoridade para lançar os iníquos neste inferno em cujo fogo ele pode destruir a alma e o corpo.
28 E não temais os que matam o corpo, mas não são capazes de matar a alma: mas antes temei aquele que é capaz de destruir tanto a alma e o corpo no inferno. (Mat 10:28)
5 Mas Eu vos previno de quem deveis temer: Temei aquele, que depois de matar tem poder para lançar no inferno; sim, Eu vos digo, temei-o. (Luc 12:5)
Jesus ensinou que é melhor perder membros vitais ou órgãos do que perder todo o corpo sendo arremessado no inferno.
29 E se teu olho direito te escandaliza, arranca-o, e lança-o de ti: pois é melhor para ti que um dos teus membros pereça, e não que todo teu corpo seja lançado no inferno. (Mat 5:29)
43 E se tua mão te escandaliza. corta-a: é melhor para ti entrar na vida maneta, do que, tendo as duas mãos, ir para o inferno, no fogo que nunca será apagado:
44 Onde seu verme não morre, e o fogo não é apagado. (Mar 9:43-44)
De acordo com (o evangelista) Marcos, Gehenna é um lugar onde o verme devorador nunca morre e o fogo não é apagado.
47 E se teu olho te escandaliza, arranca-o: é melhor para ti entrar no reino de Deus com um olho, do que, tendo dois olhos, ser lançado no fogo do inferno:48 Onde seu verme não morre, e o fogo não é apagado. (Mar 9:47-48).
Apenas o iníquo será lançado na fornalha ardente, o lugar de choro e ranger de dentes.
50 E os lançará na fornalha de fogo: lá haverá choro e ranger de dentes. (Mat 13:50)
Apesar de ser cheia de fogo, não há luz em Gehenna, mas apenas escuridão.
12 Mas os filhos do reino serão lançado nas trevas exteriores: lá haverá choro e ranger de dentes. (Mat 8:12). (IDCB)
Gehenna ou Ge-Hinnorn no vale de Kidron é comparado com o submundo de Xibalba, ou o inferno dos Quiché Maya. Todos os mortos deverão passar por este inferno inferior antes de chegar no seu destino final. A perigosa jornada inclui a superação de elementos destritivos, incluindo atravessar águas que ameaçam afogar o viajante. Um senhor do submundo, Cabracan é identificado com terremotos e vulcões ardentes que despejam fogo e enxofre das profundezas do inferno sobre os iníquos.
Os Quiché Maya localizam Xibalba em Alta Verapaz onde Cuzivan, significando uma estreita e fechada ravina, leva para Xibalba, o submundo do inferno.
Carchah, estrada para Xibalba no Popol Vuh, ainda permanece como o nome de uma vila a poucos quilômetros de Coban, a capital de Alta Verapaz.
Deixando Carchah, a estrada leva até ravinas onde um rapido rio desce das montanhas no interior da Guatemala até as planícies de Peten, território de Itza. O Popol Vuh identifica o povo de Xibalba como os Ah-Tza, ou "aqueles de Itza [Peten]" (Recinos 1950:114n).
Este rio rápido e ravina íngreme não podem ser outros que não o Rio Chixoy Gorge que corta as montanhas Cuchumatanes em Alta Verapaz, o único rio neste território que se encaixa nessa descrição. Esta é a região fronteiriça entre o Planalto da Guatemala e a região norte das planícies de Peten.
Na correlação entre Usumacinta e Sidon, Alta Verapaz havia a terra de Manti, localizada a sudeste de Zarahemla à margem da“estreita faixa de deserto”. Esta era a fronteira da terra do norte (Zarahemla) e da terra do sul (Leí-Néfi), comparada com a fronteira de Ge-Hinnorn, entre o reino do norte de Israel e o reino do sul de Judá. Uma montanha chamada Manti era um lugar de julgamento e execução.
15 E aconteceu que o levaram—e seu nome era Neor—e conduziram-no até o alto da colina de Mânti e lá ele foi obrigado a reconhecer, ou melhor, reconheceu entre os céus e a Terra que o que ensinara ao povo era contra a palavra de Deus; e ali sofreu uma ignominiosa morte. (Alma 1: 15).
Se a montanha de Manti estiver localizada na terra de Manti em Alta Verapaz, então ela pode ser o pico de Pambon na margem que dá vista a Chixoy Gorge para Xibalba. Outro monte Manti perto de Zarahemla pode ter sido nomeado segundo a terra e o monte de Manti como um possível local nefita para julgamento e execução antes da migração de Mosiah para Zarahemla.
Se a tradição Maya tem laços antigos com O Livro de Mórmon em conexão com as origens hebraicas do Velho Mundo, então é possível que Xibalba tenha tanto laços conceituais quanto geográficos com Gehenna. O fato de que Gehenna fica na borda divisora entre o Reino do Norte e o Reino do Sul de Judá tem um claro paralelo para a localização de Xibalba na fronteira entre a terra de Néfi no sul e a terra de Zarahemla ao norte. Os predecessores nefitas dos antigos Maya identificaram a terra de Chixoy Gorge com o inferno por causa de sua terra geográfica mãe e do paralelo conceitual?
Há evidências linguísticas que sustentam este prospecto: Quando Jesus expulsou maus espíritos, ele foi acusado de expulsar demônios pelo poder de Beelzebub, o príncipe do diabo. A ortografia do Antigo Testamento é Baalzebub, que era o deus de Ekron, a maior cidade filisteia do norte.
2 E Ahaziah caiu através de uma grade em seu quarto superior que ficava em Samaria, e ficou doente: e ele enviou mensageiros, e disse-lhes: Ide, inquirí de Baal-zebub o deus de Ekron se eu (me) recuperarei desse mal. (2 Reis 1:2)
A etimologia do nome é desconhecida exceto por Baal, que significa “senhor”, que era o nome da principal divindade dos cananitas.
A cidade cananita de Ekron, localizada ao sul do Rio Sorek, na margem oeste da planície costeira foi conquistada por Nabucodonozor em 603 a.C. (IDCB)
Esta data indica que Israel adotou o nome de Baalzebub para o príncipe das trevas antes dos dias de Leí. Se conjecturarmos uma transposição da sílaba intermediária “ze”para a frente da evolução desse nome entre os descendentes de Leí, o resultado é Zebaalbub, a transliteração notavelmente próxima de Xibalba no idioma Maya. Além de ser o nome para inferno, Xibalba significa diabo no dialeto Yucatec Maya (Recinos 1950:109n, do Dicionário Motul).
Xibalba é o equivalente de Tlalocan no idioma Nahuatl. Tlaloc, o deus do submundo era comumente representado como um jaguar e era o deus das chuvas e tormentas, assim como era Baal. O jaguar no idioma Maya é Balam, um nome honorífico para governantes e estreita combinação, significando “senhor”. Uma moeda da Babilônia, supostamente representando Baal, tem um leão no seu lado reverso (IDCB p. 143). Alguns dos títulos de Baal foram emprestados como epípetos paralelos do Deus de Israel na poesia bíblica – e.g. aquele que “cavalga os céus” e “cavalga nas nuvens”, ambas expressões que são ilustradas em Izapa Stela 21, onde Balam, como Baal-Zebub como o destruidor, é representado por um jaguar em presumido julgamento, cavalgando em nuvens sobre a liteira de um nobre decapitado.
26 Não há como o Deus de Jeshurun, que cavalga sobre o céu em teu socorro, e em sua excelência no céu. (Deut 33:26)
4 Canta a Deus, canta louvores em seu nome: enaltece-o para que cavalgue sobre os céus por seu nome JAH, e regozije diante dele. (Sal 68:4) (IDCB ibid)
Há mais do que uma simples correspondência entre o Popol Vuh e a escultura Izapa Stela 5, onde um caminho leva por um rio até uma árvore, com um braço humano, o que também corresponde com a visão de Leí da árvore da vida.
(Ver artigo do autor intitulado Could the parallels in Popol Vuh to the "tree of life" and the "forbidden tree" have originated from the Book of Mormon? Em http://www.bmaf.org/node/154)
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