Missão

Nossa missão é divulgar artigos de pesquisas científicas a respeito da arqueologia, antropologia, geografia, sociologia, cronologia, história, linguística, genética e outras ciências relacionadas à cultura de “O Livro de Mórmon - Outro Testamento de Jesus Cristo”.

O Livro de Mórmon conta a verdadeira história dos descendentes do povo de Leí, profeta da casa de Manassés que saiu de Jerusalém no ano 600 a.C. (pouco antes do Cativeiro Babilônico) e viajou durante 8 anos pelo deserto da Arábia às margens do Mar Vermelho, até chegar na América (após 2 anos de navegação).

O desembarque provavelmente aconteceu na Mesoamérica (região que inclui o sul do México, a Guatemala, Belize, El Salvador, Honduras, Nicarágua e parte de Costa Rica), mais precisamente na região vizinha à cidade de Izapa, no sul do México.

Esta é a região onde, presumem os estudiosos, tenha sido o local do assentamento da primeira povoação desses colonizadores hebreus.

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07 julho 2010

GEOGRAFIA - Izapa: Resposta a Uma Questão de Geografia

Alan C. Miner
8.Agosto.1999

Tradutor Elson Carlos Ferreira, Curitiba/Brasil - Janeiro/2004
O sítio arqueológico de Izapa está localizado na Mesoamérica, costa do Pacífico, entre a Guatemala e o México. Este é o lar de uma quantidade de monumentos de pedra esculpida (STELAE), produzidos num período compreendido entre aproximadamente 300 a 50 a.C.
Em 1953 o Sr. E. Wells Jakeman propôs que a cena apresentada em STELA 5 representa a visão de Lei sobre a árvore da vida, conforme registrada em 1 Nephi 8. a pedido da New World Archaeological Foundation-NWAF (Fundação Arqueológica Novo Mundo) e da Foundation for Ancient Research and Mormon Studies- FARMS (Fundação para Pesquisa Antiga e Estudos Mórmons), John Clark conduziu um projeto de dois anos a fim de produzir esboços e análises destes monumentos, melhores do que todos os que foram produzidos em tentativas anteriores.

Num recente artigo intitulado A New Artistic Rendering of Izapa Stela 5: A Step toward Improved Interpretation (Uma Nova Retribuição Artística de Izapa Stela 5: Um Passo Em Direção à Interpretação Aperfeiçoada), que foi publicado no FARMS Journal of Book of Mormon Studies, (Jornal - Estudos do Livro de Mórmon da FARMS), Clark discute os resultados se deu projeto e sugere suas implicações relativas à hipótese de Jakeman a respeito da árvore da vida. Com referência a estas implicações ele declara: "Alguns Santos dos Últimos Dias podem ainda sentir a necessidade de procurar um relacionamento entre a Stela 5 e a história do Livro de Mórmon. A conexão de Leí que Jakeman adotou não vai dar em lugar nenhum, na minha opinião".(p. 33)

Em apoio à sua opinião, Clarck tenta mostrar que Izapa não se enquadra com o panorama geográfico interno do Livro de Mórmon. Como prefácio de seu tratado geográfico de Izapa, ele diz o seguinte:

Como um serviço àqueles que sentem a necessidade de avaliar a teoria de Jakeman [que liga Izapa à geografia nefita do Livro de Mórmon], eu levanto o que me parece uma questão relevante a respeito de reconciliar sua visão com o novo esboço, o qual de acordo com Clarck, nega a teoria de Jakeman que liga Izapa à geografia nefita do Livro de Mórmon. (p. 29)

A abordagem de Clark é basicamente levantar as seguintes "questões relevantes". Durante os anos de desenvolvimento de Izapa, ou durante o período de 300 a 50 a.C, (1) Izapa era uma cidade do Livro de Mórmon? e (2) Os nefitas no tempo do desenvolvimento de Izapa conheciam o sonho de Leí? Ele então procede em declarar porque a resposta a ambas as perguntas deve ser "Não". Em resposta às declarações de Clark, meu propósito é não apenas mostrar ao leitor como suas "questões relevantes" podem ser respondidas afirmativamente, como também refutar ou contradizer seu método e seus argumentos.

Clark começa sua não-correlação de Izapa com a geografia do Livro de Mórmon declarando: "As evidências internas do Livro de Mórmon parece ser definitiva, de que os nefitas não tinham nada a ver com Izapa, e indubitavelmente os lamanitas também não".(p. 29)

Resposta: Fazer uma comunicação com a geografia do Livro de Mórmon usando apenas argumentação "interna" para fazer declarações "definitivas" é um processo carregado de dificuldades. Em meu artigo intitulado Evaluating Book of Mormon Geography (Avaliando a Geografia do Livro de Mórmon), eu discuti a fundo muitas das dificuldades nas quais John Clark tem tropeçado em suas tentativas de julgar "qualquer aspecto geográfico do Livro de Mórmon que possa ser proposto" usando seu "critério" de análise interna. O leitor está referenciado a estes dois artigos. Tendo dito isto, eu continuarei.

Áreas de Povoamento

Clark declara:

O registro nefita descreve Néfi1 e seus seguidores deixando as terras costeiras de sua primeira herança para "subir" para o interior da terra de Néfi. Devido á pouca quantidade de informações que são fornecidas a respeito do povoamento [da terra de Néfi] durante os primeiros séculos, pode parecer que eles permaneceram em região montanhosa bastante pequena. Eles se multiplicaram e cobriram todas as imediações da terra de Néfi... Não há pistas de nenhuma atividade costeira com respeito à sua geografia original, entretanto, Izapa está próxima da costa... Finalmente, não há nenhuma alusão no Livro de Mórmon, que possa ser considerada como evidência de uma população nefita habitando a planície costeira de Izapa no tempo em que Stela 5 foi produzida... Isto pode significar que os nefitas não ocuparam aquela área anteriormente. (pp. 29-30)

Resposta: Enquanto Carck declara que os nefitas "permaneceram em uma região montanhosa bastante pequena" ele falha em não citar quaisquer referências ou fornecer algum material que tenha usado. Além do mais, ele declara que "não há nem mesmo uma alusão no Livro de Mórmon que possa ser considerada como evidência de uma população nefita habitando a planície costeira de Izapa no tempo em que Stela 5 foi produzida", Vejamos as evidências. Em Jarom 1:5-13 nós encontramos o seguinte:

E então, eis que duzentos anos se haviam passado e o povo de Néfi tornara-se forte na terra. Esforçavam-se por guardar a lei de Moisés e santificar o sábado do Senhor. E não eram profanos nem blasfemavam. E as leis da terra eram extremamente severas. E estavam espalhados sobre grande parte da face da terra, assim como os lamanitas. Estes eram muito mais numerosos que os nefitas;... E aconteceu que eles vieram muitas vezes contra nós, os nefitas, para combater-nos. Nossos reis e nossos chefes, porém, eram homens poderosos na fé do Senhor;... portanto resistimos aos lamanitas e varremo-los de nossas terras; e começamos a fortificar nossas cidades ou quaisquer que fossem os lugares de nossa herança. E multiplicamo-nos consideravelmente, e espalhamo-nos sobre a face da terra... E aconteceu que se haviam passado duzentos e trinta e oito anos - com guerras e contendas e dissensões durante grande parte do tempo.[361 a.C - nota de rodapé]. (negritos adicionados)

O texto não apenas diz que os nefitas "estavam espalhados sobre grande parte da face da terra", "assim como os lamanitas". Enquanto Clark possa considerar estes versículos "ambíguos" (ver página 3 deste artigo), eles ainda fazem "alusão", se não demonstram a real possibilidade de que, ao contrário da declaração autoritária de Cark, as terras nefitas realmente se estendiam além de "uma pequena região montanhosa" até chegar à planície costeira. Entretanto, parece haver a possibilidade de que as "terras" nefitas e as "terras" lamanitas se sobrepõem durante o tempo do desenvolvimento de Izapa. Continuemos a dar uma olhada nas evidências internas.

No tempo das viagens missionárias dos filhos de Mosias entre os lamanitas ("desde aproximadamente 91 até 77 a.C."- nota de rodapé), Mórmon inclui um comentário (Alma 22:27-34) no texto concernente à extensão das terras então governadas pelo converso rei lamanita. Neste comentário Mórmon diz:

Ora, os mais indolentes dos lamanitas viviam no deserto e habitavam em tendas; e estavam espalhados pelo deserto a oeste, na terra de Néfi; sim, como também a oeste da terra de Zaraenla, beirando a costa; e a oeste, na terra de Néfi, no local da primeira herança de seus pais; e assim ao longo da costa. E também havia muitos lamanitas no leste, junto à costa, para onde os nefitas os haviam impelido. Desse modo os nefitas estavam quase rodeados pelos lamanitas;..." (Alma 22:28-29)

Deste comentário, pode-se fazer algumas suposições razoáveis:

(1) Apesar de suas terras estarem situadas na costa, Néfi e seus seguidores subiram continente adentro. O termo "terra de Néfi", como usado em Alma 22:28-29, parece compreender uma terra que se estendia além de uma área montanhosa local.

(2) De acordo com Alma 8:7, "era costume do povo de Néfi chamar suas terras e suas cidades e suas aldeias, sim, mesmo todas as suas pequenas aldeias, pelo nome do seu primeiro habitante..." Assim, o termo "terra de Néfi" como encontrado neste registro nefita tende a ser associado com uma área que aparentemente foi primeiramente habitada ou possuída (governada?) por Néfi1 (ou possivelmente pelos futuros reis nefitas que tomariam sobre si o nome de Néfi) Em Jacó 1:11 lemos: "Portanto o povo queria que a memória de seu nome fosse conservada e que todos os que governassem em seu lugar fossem chamados, pelo povo, de Néfi segundo, Néfi terceiro, e assim por diante, de acordo com os governos dos reis; e assim foram chamados pelo povo, fosse qual fosse seu nome".

(3) Se os nefitas expulsaram os lamanitas para a costa leste, então certamente as terras nefitas se estendiam quase tão distante quanto esta região. Não é mencionado quando os lamanitas foram expulsos, mas o que é importante aqui é a idéia de que os lamanitas foram expulsos e os nefitas aparentemente se apossaram das terras que desejaram. Em Jarom 1:7 (aproximadamente no mesmo período de tempo em questão em Izapa) parece que encontramos a mesma situação. Neste versículo diz o seguinte a respeito dos nefitas: "… resistimos aos lamanitas e varremo-los de nossas terras... ou quaisquer que fossem os lugares de nossa herança".

(4) Se os "indolentes lamanitas" residiram "a oeste na terra de Néfi..." "ao longo da costa", então a "terra de Néfi" aparentemente inclui a região "ao longo da costa".

(5) Se o lugar descrito como o "local da primeira herança de seus pais" estava "a oeste na terra de Néfi" e "ao longo da costa", então podemos razoavelmente presumir que "o local da primeira herança de seus pais" estava localizado na terra de Néfi e também "ao longo da costa".

O comentário de Mórmon a respeito da ocupação lamanita da "terra de Néfi" também inclui as seguintes questões:

(1)   É possível que depois da partida de Mosias, os lamanitas tomaram posse das terras que anteriormente eram governadas pelos reis nefitas?

(2)   Se os lamanitas tomaram posse das terras nefitas, poderíamos dizer que eles começaram a governar sobre "as terras de Néfi?".

(3) Já que "o local da primeira herança de seus pais" estava "na terra de Néfi", não começaram os lamanitas a governar sobre uma "terra de Néfi", na qual eles sempre estiveram vivendo?
Até onde me concerne, parte da resposta a estas questões pode residir em como definimos "lamanitas indolentes" Se a parte "indolente" pertencia a uma classe política ou de atividades militares, ou em outras palavras, se os "indolentes" fossem políticos e alguns militares "não-produtivos", então é possível que estes lamanitas sempre tivessem habitado a região que é chamada por mórmon de "a terra de Néfi" e  uma grande extensão de terras que haviam sido controladas pelos nefitas.

Em Jacó 7:24, diz que "muitos meios foram imaginados para regenerar os lamanitas e reconduzi-los ao conhecimento da verdade".  Em Ênos 1:20 nós lemos que "o povo de Néfi procurou diligentemente reconduzir os lamanitas à verdadeira fé em Deus". Para mim, estes versículos implicam não somente em continua interação entre nefitas e lamanitas, mas num senso de proximidade geográfica.

Em resumo, combinando as implicações geográficas de Jacó 7:24 e Ênos 1:20 com o que discutimos previamente a respeito de Jarom 1:5-13 e Alma 22:28-29, acredito ter mostrado que ao contrário do que Clark diz, há muito mais do que um "indício" de evidência de que durante o período do desenvolvimento de Izapa, não somente os nefitas (e lamanitas) habitavam a planície costeira, mas também tanto os nefitas quanto os lamanitas aparentemente viviam na região chamada por Mórmon de "a terra de Néfi".

Demografia

Como parte da tentativa de substanciar sua declaração "definitiva" de que "os nefitas não tinham nada a ver com Izapa", mas com poucas tentativas para referenciar alguns versículos do Livro de Mórmon, Clark escreve: "Há uma considerável ambigüidade na declaração de que os primeiros nefitas 'cobriram' a face da terra. Isto se parece com figura de retórica". (p. 29)

Resposta: O que é novo na arena da interpretação pessoal? O que pode parecer "literal" para uma pessoa, pode facilmente ser classificado como "figura de retórica" por outra. O problema com Clarck, entretanto, é o seu preconceito. Aparentemente ele sente que declaração que alguns versículos de conotação geográfica diretamente relacionados com a ocupação nefita em Izapa possui "considerável ambigüidade," ele pode desconsiderá-los e fazer uma declaração "definitiva" de que durante os anos 300 a 50 a.C. "os nefitas não têm nada a ver com Izapa" (p. 29).

Para o leitor que deixa de apreciar a magnitude daquilo que Clark tem feito, deixe-me abordar seu método por uma perspectiva diferente. Já que Clark não dá ao leitor nenhuma referência escriturística para apoiar sua citação, e apesar de a palavra "cobria" que Clark usou com aspas denotando uma citação, não é encontrada em nenhum versículo pertinente a este período de tempo, eu suponho que a referência de Clark vem de algum versículo que eu citei anteriormente (Jarom 1:5-13 - veja páginas anteriores). Se isto estiver correto, então aquilo a que ele se refere vem das placas menores. No período de tempo de Izapa, (300 a 50 a.C.), todo o registro histórico nas placas menores está em apenas 28 versículos (Ômni 1:3-30). Além do mais, estes 28 versículos mal representam 70% do tempo daquele período, o que significa que estes 28 versículos representam quase 170 do total de 250 anos nos quais somos desafiados a ligar os nefitas com Izapa. Há apenas três versículos com denotação geográfica nesta ou em seções próximas nas placas menores que têm direta relevância com Izapa durante este período de tempo. Estes versículos (Jarom 1:6-8) aparentemente são aqueles que, nos termos de Clark, são "figura de retórica" e não têm nenhum significado. Assim, Clark, por sua própria autoridade, primeiro invalida as evidências e depois declara que não há evidências.

Clark continua: "Quase 320 antes de Cristo, a maior parte dos nefitas iníquos parece ter sido destruída pelos lamanitas. Os nefitas sobreviventes aparentemente quase retornaram ao ponto de partida em termos de população total". (p. 29)

Resposta: Novamente Clark não dá referências escriturística nem fornece alguma citação. Em Omni 1:5 nós encontramos o versículo que Clark aparentemente estava se referendo: "E aconteceu que trezentos e vinte anos se haviam passado e a parte mais iníqua dos nefitas havia sido destruída" (ênfase do autor). Note que diferentemente das palavras que Clark usa, o texto de fato diz que "a parte mais iníqua dos nefitas havia sido destruída". Isto pode implicar em que enquanto havia muitos nefitas justos e alguns nefitas iníquos, somente "a parte mais iníqua" daqueles que eram iníquos, havia sido destruída. Isto pode deixar ainda uma substancial população, além de uma grande porção da população que, aproximadamente em 399 a.C. (nota de rodapé), como diz o texto: "multiplicamo-nos consideravelmente e espalhamo-nos sobre a face da terra". (Jarom 1:8). Tão longe quanto a interpretação de Ômni 1:5 permite, ninguém seria deixado em dúvida quanto a que porção da população total a frase "a parte mais iníqua" está se referindo.

Por outro lado, a maneira pela qual Clark se expressa faz o leitor pensar que todos os nefitas eram iníquos. Assim, seguindo a lógica de Clark, quando a "parte mais iníqua dos nefitas" foi destruída, os nefitas sobreviventes "quase retornaram ao ponto de partida em termos de população total". Não incluindo ou referenciando Ômni 1:5, Clark escolheu não dar ao leitor a simples oportunidade de fazer uma suposição diferente da sua própria interpretação, a qual ele fortaleceu com um teor parcial substituindo o exato fraseado do versículo. Não citando Omni 1:5, ou referindo-se ao texto "de longe" o suficiente para procurar as notas de rodapé no final da página, Clark não apenas falseou o significado, como também os dados. O texto diz, "trezentos e vinte anos se haviam passado".  Clark data assim: "Quase 320 a.C." (veja acima). A nota de rodapé no final da página para Ômni 1:5 diz "279 a.C."

Clark propõe um desafio geográfico: "Se uma pessoa apresenta a suposição de [que Izapa era uma cidade do Livro de Mórmon], ela precisa explicar como tal artefato do Livro de Mórmon chegou a estar lá". (p. 30)

Resposta: Neste ponto da discussão, mesmo apesar de todas as evidências não estarem presentes, eu ainda penso que apresentei uma quantidade suficiente de evidências para confirmar a ocupação nefita ao longo da costa durante o período de tempo em Izapa quando Stela 5 foi criada; agora defenderei os registros de Garth Norman, o principal perito em Izapa, tanto na Igreja quanto fora dela, para uma correlação externa. Ele diz:

Praticamente todos os estudiosos sérios atualmente favorecem um povoamento mesoamericano para os povos do Livro de Mórmon... Eu mostrei previamente que o principal critério para identificar a cultura nefita antes de Mosias anexar os mulequitas em Zaraenla [aproximadamente 200 a.C.] é que existem manifestações religiosas de um deus do céu antropomórfico em sua escultura artística. Os mulequitas haviam perdido este conhecimento, e os lamanitas o tinham rejeitado. De acordo com isto, eu acredito que os deuses alados e temas religiosos correlatos às esculturas de Izapa são mais do que um reflexo da cultura nefita.

A cultura de Izapa emerge durante o período quando a civilização nefita tomou forma (600-200 a.C.), mas não é inteiramente um desenvolvimento local que pode ser atribuído à terra de Néfi. Existem diferentes níveis de estilo na escultura na Costa do Golfo de Vera Cruz e Tabasco. Na minha opinião, isto indica uma significativa mistura cultural durante este mesmo período com os mulequitas dispersos que poderiam, por sua vez, ter se misturado com sobreviventes Olmecas-jareditas. Esta mistura em Izapa pode ter acontecido inicialmente com os nefitas durante sua expansão "sobre grande parte da face da terra" durante a primeira parte do terceiro século antes de Cristo, com cidades fortificadas governadas por reis (Jarom 1:6-7). Este é precisamente o tempo em que o maior período de construção do centro templário nefita estava em progresso.
Para mim, isto sugere que muitos centros templários da Guatemala, similares a Izapa, foram os centros focais de distritos rurais onde estavam as cidades. A despeito da possível mudança para uma sociedade lamanita em algumas áreas nesta época, grande número de lamanitas primitivos continuaram a viver em tendas no deserto durante o primeiro século antes de Cristo (Alma 22:28). Os nefitas haviam fortificado muitas cidades por causa dos lamanitas hostis que eram em número bem maior que os nefitas, que também se espalharam bastante sobre a face da terra (Jarom 1:6). Pesquisas recentes iniciadas por F.R. Hauck está investigando as primeiras fortificações entrincheiradas na Guatemala, algumas das quais são anteriores a este período, mas datas corretas para essas trincheiras ainda não estão disponíveis.

Neste cenário, eu posso imaginar como o centro templário da cidade de Izapa, bem como numerosos outros ao longo dos declives e planícies, podem ter sido construídos e controlados pelos nefitas, enquanto que uma grande área de deserto vizinha teria sido dominada pelos lamanitas. Eu posso também visualizar como estes centros templários poderiam ter se tornado em sinagogas para os lamanitas devido à influência de nefitas apóstatas depois do êxodo de Mosias das terras de Néfi quando "os mais indolentes dos lamanitas viviam no deserto e habitavam em tendas..." (Alma 22:28).

Clark escreve:

De qualquer forma, o período em que os monumentos de Izapa foram esculpidos, 300 a 50 a.C, é um tempo obscuro em termos de história nefita e geografia. Pouco é dito nos registros nefitas que pode ser conectado com Izapa, mesmo que seja por inferência. Na primeira parte do primeiro século antes de Cristo, o deserto oeste ao longo da costa (presumivelmente do Pacífico) foi ocupado pelos lamanitas que habitavam em tendas; isto pode implicar em que os nefitas não haviam ocupado aquela área anteriormente. Apenas uma única cidade é sempre mencionada neste setor oeste. Perto do ano 65 a.C. é feita menção de uma cidade às margens do mar a oeste (Alma 56:31), mas não há fatos que nos levem a pensar que esta cidade seja Izapa, somente explica quem a ocupava e o que estava acontecendo lá. (p. 30)

Resposta: Novamente Clark está enganando o leitor. Como notado anteriormente, Clark publicou um extenso artigo esboçando a construção de um modelo geográfico do Livro de Mórmon supostamente construído sob seus próprios critérios "pessoais" de análise. No fim do artigo, Clark faz a sua mais interessante declaração. Ele escreve: "Tudo o que isto significa, certamente é que eu aparentemente tenho interpretado as passagens do Livro de Mórmon de uma maneira similar a [John] Sorenson".

Com isto em mente, é interessante que no livro de Sorenson intitulado An Ancient American Setting for the Book of Mormon, (Uma Antiga Colonização Americana Para o Livro de Mórmon) o autor inclui Izapa no cenário lógico para os eventos de Alma 56. Sorenson escreve:

As montanhas de Sierra Madre formam uma quase intransponível barreira para viagens regulares entre a costa do Pacífico e a depressão interior de Chiapas, [a proposta de Sorenson para a maior terra de Zaraenla] toda a sua extremidade sul, com uma única exceção, que é digna de nota: uma passagem que liga as regiões tributárias acima do Rio Grijalva [o Rio Sidon de Sorenson] via cidade de Motozintla para o largo e rico contraforte costeiro (Pacífico) numa faixa de terra conhecida como Soconusco. Na direção oposta a Motozintla, um estreito vale de rio leva a outro caminho em direção a Grijalva, [e à depressão interior de Chiapas]... bem como à área de Chicomuselo, o suposto lugar para a cidade da Judéia... [assim a localização da cidade de] Antípara fica bem perto da localidade de Motozintla.

Nós vemos porque [Antípara se ajusta com este cenário] examinando a recaptura nefita de Antípara. Antipus e Helamã, os líderes nefitas na frente de batalha, usaram um estratagema para fazerem os lamanitas saírem de dentro das defesas da cidade. Eles enviaram uma pequena companhia, fazendo-a passar por aquele lugar, convidando os lamanitas a perseguirem-nos. O destino do grupo era óbvio a julgar pela rota que eles tomaram: "como se estivéssemos indo a uma cidade mais adiante, nas fornteiras junto à costa" (Alma 56:30-31). Assim, Antípara ficava numa passagem, ou perto dela, na rota que leva em direção à praia de Antípara de um lado e para Zaraenla via cidade Judéia por outro lado. Um bando de homens movendo-se junto ao mar dentro do campo de visão de um local de defesa no vale do rio perto de Motozintla obviamente estaria na cabeceira acima da passagem próxima e abaixo [para a costa de Pacífico] de Izapa ou alguma outra cidade na região de Soconusco.

Izapa pode ser qualificada tanto interna quanto externamente, como "a cidade mais adiante, nas fronteiras junto à costa" (Alma 56:31) porque, pelo menos no modelo de Sorenson, Izapa pode muito bem ter estado conectada de alguma maneira à estratégia militar de Moroni naquele ano de 72 a.C. na qual ele "isolou todas as fortificações dos lamanitas… no oeste, fortificando a linha divisória dos nefitas e lamanitas entre a terra de Zaraenla e a terra de Néfi, desde o mar do oeste, passando pela cabeceira do rio Sidon (Alma 50:11, ênfase do autor). A frase "desde o mar do oeste, passando pela cabeceira do rio Sidon" correlaciona-se muito bem com a declaração de Sorenson a respeito da possível e real importância militar da localização de Izapa. A esse respeito Sorenson disse acima: "uma  passagem que liga as regiões tributárias acima do Rio Grijalva [seu proposto rio Sidon] via a cidade de Motozintla para o largo e rico contraforte costeiro (Pacífico) numa faixa de terra conhecida como  Soconusco" [da qual Izapa era a principal cidade]". Assim, de acordo com a teoria geográfica de Sorenson, defender Izapa não era somente defender a rota costeira para o Istmo de Tehuantepec (a estreita faixa de terra) e Veracruz (a terra do norte), mas defender o acesso costeiro para as cabeceiras do rio Grijalva (Sidon), que por sua vez leva para a depressão de Chiapas (a terra de Zaraenla). Isto fazia de Izapa um ponto chave de fortificação na estratégia militar nefita para prevenir que os lamanitas "[marchassem] para a terra do norte" (Alma 52:2) para que “... não conquistassem aquele ponto e tivessem poder para atacá-los [os nefitas] de todos os lados". (Alma 52:9).

Retornando agora para a declaração de Clark de que "não há fatos que nos levem a pensar que [uma cidade às margens do mar a oeste'] seja Izapa, só para explicar quem a ocupava e o que estava acontecendo lá" nós descobrimos que Clark parece estar argüindo não somente contra a argumentação de Sorenson, mas também, por associação, contra sua própria argumentação.

Como comentário final desta seção, eu gostaria de dizer que por causa, pelo menos, de algumas das informações acima, teria sido familiar para Cark e seus argumentos enganosos, não dizer nada a respeito de sua falta de sinceridade para com o leitor concernente às referências escriturísticas e escritos de Sorenson, que, no mínimo, são lamentáveis. Está além da minha compreensão como é que ele pode dizer que "uma pessoa tem que forçar para fazer qualquer conexão entre os registros históricos dos nefitas e a presença de cidades nefitas e lamanitas localizadas em Izapa em qualquer período" (p. 30).
Os Nefitas Conheciam o Sonho de Leí?

Segundo a discussão de Clark a respeito de geografia e na sua aparente tentativa de desconectar qualquer ligação nefita com Izapa, Clark autoritariamente descarta qualquer conhecimento geral ou pregação a respeito da arvore da vida do sonho de Lei por parte dos nefitas. Ele declara:

Eu sempre tenho considerado a narrativa da árvore da vida do Livro de Mórmon como sendo algo magistral, ligando temas que subseqüentemente apareceram na pregação nefita a respeito de Cristo e da expiação. Eu não penso que esteja errado... Há alguma evidência de que qualquer dos últimos profetas que pregaram a respeito ou mesmo que tenham se referido ao sonho de Lei? Não... Não há pistas de que eles tenham pregado a respeito das grandes visões experimentadas pelos pais fundadores... Assim, parece bem possível que os nefitas de um modo geral... não sabiam o suficiente a respeito da visão de Leí para ter reagido a ele, mesmo se lhes tivesse sido representado numa pedra. (pp. 30-31)

Resposta: As escrituras são patriarcais por natureza. Elas são dadas por revelação e por mandamento, e são especificamente escritas para instrução das novas gerações para que eles possam saber "as grandes coisas que o Senhor fez por seus antepassados" (Página Título do Livro de Mórmon). De acordo com Rodney Turner, "o 'livro de recordações de Adão' - o padrão que foi dado 'pelo dedo de Deus' (Moisés 6:5, 46) - foi o protótipo para as escrituras subseqüentes. Este livro continha material genealógico, histórico e de inspiração".  Néfi diz o seguinte a respeito das placas menores (que contêm a visão de Lei da árvore da vida):

E depois de haver feito estas placas conforme me foi ordenado, eu, Néfi, recebi ordem de que nestas placas fossem escritas as partes mais claras e preciosas do ministério e das profecias; e de que as coisas que foram escritas fossem guardadas para instrução de meu povo que iria ocupar a terra e também para outros sábios propósitos conhecidos do Senhor. Portanto eu, Néfi, fiz nas outras placas um registro que relata, ou melhor, faz um relato maior das guerras e contendas e destruições de meu povo.  E fiz isso e ordenei a meu povo o que deveria fazer depois de minha morte; e que essas placas deveriam ser transmitidas de uma geração a outra ou de um profeta a outro, até novas ordens do Senhor. (1 Néfi 19:3-4, ênfase do autor)

E nestas [placas menores] escrevo as coisas de minha alma e muitas das escrituras que estão gravadas nas placas de latão. Porque minha alma se deleita nas escrituras e meu coração nelas medita e escreve-as para instrução e proveito de meus filhos. (2 Néfi 4:15; ênfase do autor)

Dizer que "não há pistas de que [os nefitas] tenham pregado a respeito de grandes visões experimentadas pelos pais fundadores" é ignorar o propósito básico que está por trás das placas menores como declarado por Néfi desde o começo.

Enquanto Clark declara que não há evidências de "que nenhum dos últimos profetas pregaram a respeito, ou mesmo se referiram ao sonho de Leí", numa simples pesquisa de palavra no sumário por parte de Clark teria facilmente fornecido ao leitor um número de exemplos de subseqüentes pregações concernentes a elementos contidos no sonho de Lei. O registro nefita apresenta os seguintes testemunhos para a continuada pregação do sonho de Lei:

(1) A Árvore da Vida / (2) A Fonte da Água Viva: (1 Néfi 8:10-12; 11:25; 15:21-22; 15:36)
"Sim, diz ele, vinde a mim e participareis do fruto da árvore da vida; sim, comereis e bebereis livremente do pão da água da vida;” (Alma 5:34)

"Falo por meio de mandamento a vós, que pertenceis à igreja; e àqueles que não pertencem à igreja falo por meio de convite, dizendo: Vinde e sede batizados para o arrependimento, a fim de que também partilheis do fruto da árvore da vida". (Alma 5:62)

(3) Barra / (4) Golfo / (5) Estreito e Apertado Caminho: (1 Néfi 8:18-19; 11:25; 12:18; 15:23-24)
"E assim, se não cultivardes a palavra [a barra de ferro], esperando com os olhos da fé o seu fruto, nunca podereis colher o fruto da árvore da vida". (Alma 32:40)

"Sim, vemos que quem o desejar poderá aderir à palavra de Deus, que é viva e eficaz, que romperá ao meio todas as artimanhas e as armadilhas e os artifícios do diabo; e guiará o homem a Cristo por um caminho estreito e apertado, através daquele abismo eterno de miséria que foi preparado para tragar os iníquos -" (Helamã 3:29)

"Oh! A minha alma quase se esvaece a este pensamento. Eis que ele não exerceu sua justiça sobre nós, mas em sua grande misericórdia fez-nos saltar esse sempiterno abismo da morte e miséria para a salvação de nossa alma". (Alma 26:20)

(6) Vapor de escuridão: (1 Nephi 8:23-24; 12:17)

"… Eis que estavam em meio à escuridão; não obstante, suas almas foram iluminadas pela luz da palavra eterna;..." (Alma 5:7)

"E aconteceu que os lamanitas lhe perguntaram; O que faremos para que esta nuvem de escuridão que nos cobre seja removida? E Aminadabe respondeu-lhes: Deveis arrepender-vos e clamar à voz até que tenhais fé em Cristo, sobre quem vos ensinaram Alma, Amuleque e Zeezrom; e quando fizerdes isso, a nuvem de escuridão que vos cobre será removida". Helamã 5:40-41)

Talvez atento a estas declarações, Clark aparentemente tente diminuir sua importância com as seguintes palavras: "Séculos mais tarde, os ensinamentos de Alma a respeito da árvore da vida segue por um caminho diferente; ele fala a respeito da árvore do Jardim do Éden e não da árvore vista por Lei. (Alma 12:22-23; 42:2-5) (p. 30)".

Resposta: O que Clark propõe é absurdo. O contexto do versículo que eu citei anteriormente fala por si mesmo com respeito ao seu paralelo com o sonho de Lei. Clark cita ensinamentos de um contexto diferente, assim eu devo perguntar: Por que a árvore da vida do jardim do Éden tem que ser simbolicamente diferente da árvore vista por Leí? Não representam elas a imortalidade e a vida eterna, os poderes que são controlados por e através da expiação de Jesus Cristo? A expiação representa o dom de Cristo ao homem, ou em outras palavras "o amor de Deus" (1 Néfi 11:25). Suficientes referências foram citadas. Eu deixarei os leitores ao seu próprio julgamento.

Em adição à declaração de que "Não há pistas de que eles pregaram a respeito das grandes visões experimentadas pelos pais fundadores", Clark diz: "Não há evidências de que cópias foram feitas, ou que tenham circulado, pelas quais o sonho de Lei pudesse ser estudado". (p. 31)

Resposta: Novamente, o fato é que Clark poderia muito facilmente ter informado ao leitor das seguintes evidências mínimas da continuada disponibilidade das informações presentes nas placas menores, das quais o sonho de Leí fazia parte:

"E aconteceu que a paz e o amor de Deus foram mais uma vez restaurados entre o povo; e eles examinaram as escrituras e não mais deram ouvidos às palavras desse homem iníquo". (Jacó 7:23)

"Ora, após ter dito estas palavras, Amon principiou pela criação do mundo e também a criação de Adão; e contou-lhe todas as coisas concernentes à queda do Homem, explicando e mostrando os registros e as sagradas escrituras do povo, as quais os profetas haviam declarado desde a época em que seu pai, Lei, deixara Jerusalém... e explicou-lhes todos os registros e escrituras, desde o tempo em que Lei deixara Jerusalém até aquela época." (Alma 18:36, 38; ênfase do autor)

"E milhares foram levados a conhecer o Senhor, sim, milhares foram levados a acreditar nas tradições dos nefitas; e foram-lhes ensinados os registros e as profecias que haviam sido transmitidos até o presente”. (Alma 23:5)

"Ora, eis que todas aquelas gravações que se achavam em poder de Helamã foram transcritas e transmitidas aos filhos dos homens por toda a terra, excetuando-se as partes que Alma havia ordenado que não fossem reveladas". (Alma 63:12; ênfase do autor)

"E então aconteceu que depois de haver explicado em uma todas as escrituras que haviam registrado, Jesus ordenou-lhes que ensinassem as coisas que havia explicado”. (3 Néfi 23:14)
Como comentário final nesta seção, eu apenas darei aos leitores uma declaração de Alma, depois de seu sermão a respeito da expiação de Cristo, que é o assunto do sonho de Leí da árvore da vida: "E ainda mais, digo-vos que assim me foi revelado, que as palavras que foram ditas por nossos pais são verdadeiras, em conformidade com o espírito de profecia que está em mim, o qual também existe pela manifestação do Espírito de Deus". (Alma 5:47)

O Livro de Mórmon é totalmente explícito com respeito a uma distinta tradição lamanita incorreta. (Alma 3:8,11; 8:11; 9:16-17, etc.). Esta tradição poderia ter sido aplicada a todas as ações de Leí com respeito aos seus filhos e ao direito de liderança. O sonho de Leí definitivamente falharia nesta categoria. A questão não é tanto se os lamanitas conheciam o sonho de Leí, a questão tem mais a ver com quais "tradições incorretas" lhes foram transmitidas.

Últimas Reflexões

Como pensamento final para seu artigo, Clark parece deixar o leitor com apenas uma chance de que Izapa possa se enquadrar no esquema geográfico do Livro de Mórmon. Ele diz:

Entretanto, pelo menos como um tiro de longe, uma ligação jaredita com Izapa não pode ser completamente descartada. Apesar de tudo, a arte de Izapa tem suas raízes na tradição Olmeca, e aquela linha cultural, em tempo foi comparada com a maior parte da história da linhagem jaredita, conforme reportado no livro de Éter… ela pode enquadrar-se dentro da tradição geral da arte e governo que terminou oficialmente com a morte de Coriântumr, mas que pode ter persistido entre os mulequitas até um pouco mais tarde na forma de mitos, elementos artísticos e outros padrões culturais, todos da mesma época do apogeu de Izapa e ainda além. (p. 33)

Resposta: Ao contrário do que Clark possa propor, o texto do Livro de Mórmon mais do que adequadamente apóia a idéia de que os mulequitas, e por extensão os jareditas, estiveram conectados a uma cidade costeira a oeste, tal como Izapa, na terra do sul. Esta idéia não é um "tiro de longe", nem exclui a presença nefita em Izapa no período entre os anos 300 a 50 a.C. As razões para esta minha posição são as seguintes:

(1)   Algum tempo antes do ano 200 a.C., nós temos uma evidência textual de que pelo menos alguns mulequitas haviam se mudado para as terras do sul porque os mantenedores dos registros nefitas anotaram sua união com alguns do povo de Néfi. Em Ômni 1:13-14, Amalequi reporta que os nefitas, guiados por Mosias, fugiram da terra de Néfi "até descerem à terra que é chamada Zaraenla. E eles descobriram um povo que era chamado povo de Zaraenla". Nós lemos em Mosias 25:2 que Zaraenla "era descendente de Muleque". O texto não é exatamente claro sobre quando aconteceu a migração mulequita para a terra do sul, apenas diz que "... o povo da cidade de Zaraenla saíra de Jerusalém na época em que Zedequias, rei de Judá, fora levado cativo para a Babilônia. E eles viajaram pelo deserto e foram guiados pela mão do Senhor, através das grandes águas, à terra onde Mosias os encontrou; e ali viveram desde aquele tempo".(Ômni 1:15-16). Alguém pode especular que se "… era costume do povo de Néfi chamar suas terras e suas cidades e suas aldeias, sim, mesmo todas as suas pequenas aldeias, pelo nome do seu primeiro habitante;..." (Alma 8:7), então Zaraenla pode ter levado seu povo para aquela área onde eles encontraram os nefitas poucos anos (durante o qual ele viveu), antes do ano 200 a.C. Entretanto, isto pode ser apenas uma suposição relacionada especificamente ao "povo de Zaraenla". Os mulequitas de um modo geral poderiam facilmente ter estado na terra do sul durante muito tempo.

(2)   O povo de Zaraenla aparentemente havia vivido entre os jareditas tempo suficiente para assimilar sua cultura. Há alguns indícios disso:

(a) Talvez uma das mais comentadas seja a abundância de nomes jareditas entre o povo da terra de Zaraenla, especialmente os causadores de problemas (Nehor, Noé, Koriôr, Moriântom, Coriântumr), os quais ou foram anti-Cristo ou promoveram governo monarquista. Isto implica numa prolongada conexão cultural. De acordo com Michael Hobby,
… o fato de que os mulequitas, o povo de Zaraenla, estava profundamente envolvido com a cultura jaredita é óbvio… o fato de que eles falavam o idioma dos jareditas é evidente por seus nomes pessoais e os nomes de suas cidades... Além do mais, entre 30 e 40 por cento de todos os nomes nefitas e jareditas podem ter sido jareditas ou conter um ou mais dos elementos jareditas. Dificilmente isto poderia ter resultado da simples leitura dos registros de um povo decaído.

(b) Alguns dos pesos e medidas usados pelos nefitas têm nomes terminado com "M". uma qualidade lingüística característica dos jareditas (senum, ezrom, e shiblum (Alma 11:11,12, 16).

(c) De acordo com John Sorenson,

…por volta do ano 130 a.C. "milho" (isto é, Maize) - uma planta nativa da América - havia se tornado o principal cereal colhido na terra de Néfi. Mosias 7:22 e 9:9 alistam este cereal em primeiro lugar no suprimento alimentar do povo de Zenife, e os vizinhos lamanitas aparentemente procuraram pelo milho em suas invasões contra este povo (Mosias 9:14). O milho é um cereal cuja plantação é tão completamente dependente do homem que ela não cresce de maneira silvestre. Ele foi inicialmente cultivado por milhares de anos antes de os nefitas terem chegado, foi cuidado pelas mãos humanas e passou de geração para geração. Nós não temos uma pista de quem ensinou os descendentes de Leí a cultivar o milho, nem de quem lhes forneceu as sementes. Certamente, o povo de Zeniff - os cultivadores de milho de Mosias 9 - tinha vindo da terra de Zaraenla, mas onde eles a teriam conseguido? A fonte óbvia em termos de Livro de Mórmon seria os sobreviventes jareditas e mulequitas.

(d) No registro da expedição de Limi, aproximadamente em 120 a.C., nós lemos que quando eles tropeçaram sobre as ruínas da batalha final dos jareditas, encontraram espadas "cujas lâminas estavam corroídas de ferrugem" (Mosias 8:7-11). Alguém poderia perguntar por quanto tempo estas lâminas enferrujadas haviam durado no clima úmido da costa sul de Veracruz, a suposta área para a batalha final dos jareditas? Uma suposição entre 100 e 200 anos parece mais apropriada do que a 460 anos.

(e) Com relação à história dos ancestrais do povo de Zaraenla, Amalequi registra que eles "haviam tido muitas guerras e sérias contendas e, de tempos em tempos, haviam caído pela espada". (Ômni 1:17). Esta informação faz alusão à passagem de muitos anos.

(f) Bem antes de o rei Mosias ter entregado os registros a Alma2 ele traduziu as vinte e quatro placas de ouro que haviam sido encontradas pelo povo de Limi (o registro jaredita). Ele fez isso "por causa da grande ansiedade de seu povo; porque tinham grande desejo de saber acerca daquele povo que havia sido destruído". (Mosias 28:12). Alguém poderia perguntar por que o povo de Zaraenla "[tinha] grande desejo de saber acerca daquele povo, [os jareditas]. De acordo com Michael Hobby,

…o interesse febril dos mulequitas a respeito dos assuntos relativos aos jareditas originou-se da presença da sua história entre eles! Não era simplesmente um interesse na história por causa da história... A pedra encontrada durante o reinado de Mosias I (Ômni 1:20), (duas gerações antes de Mosias II ter traduzido as placas de ouro de Éter) aparentemente forneceu somente informações básicas a respeito do rei jaredita, Coriântumr. Muito provavelmente, os mulequitas [povo de Zaraenla] antes de sua fuga da terra do norte, haviam considerado Coriântumr como seu rei; e eles ainda consideravam os jareditas como seus irmãos (Alma 46:22)... Devemos manter em mente enquanto estudamos as culturas pré-colombianas, que não havia jornal da tarde, nem rádio, nem cobertura de televisão via satélite das grandes guerras. Para aqueles que haviam fugido com Zaraenla, grandes incertezas permaneceram, que eles podiam pôr para descansar somente depois que o relato completo da grande luta fosse conhecido.

            (3) Quando a cultura dos mulequitas foi confrontada com a cultura dos nefitas levada por Mosias, os nefitas tomaram o controle e governaram, mesmo apesar de que os mulequitas eram mais numerosos. Isto é, apesar de que Mosias ter sido conclamado rei (Ômni 1:19), "não havia tantos dos filhos de Néfi, ou seja, tantos dos descendentes de Néfi quantos havia do povo de Zaraenla, que era descendente de Muleque, e dos que com ele haviam ido para o deserto". (Mosias 25:2).

Desse modo, em vista das evidências "internas", não se requer um salto gigantesco de fé, ou nos termos de Clark, um "tiro de longe", para argumentar que se Izapa estava na terra do sul, e se pelo ano "399 a.C." os nefitas "… estavam espalhados sobre grande parte da face da terra…" (Jarom 1:6), e se o povo de Zaraenla (mulequitas) havia “... viajado pelo deserto e foram guiados pela mão do Senhor, através das grandes águas, à terra [do sul] onde Mosias os encontrou..." (Ômni 1:16) pouco antes do ano 200 a.C.; então de maneira bastante similar ao que aconteceu com Mosias na terra de Zaraenla, alguém poderia propor uma cidade do Livro de Mórmon em Izapa, com uma população dominante de mulequitas e jareditas sendo governados por um rei nefita.

Como uma nota final para a proposta de "tiro longo" de Clark, eu levantarei uma questão que me parece desconsertar a Clark através de sua discussão da geográfica interna de Izapa: Por que o povo de Izapa não descreveu mais completamente no registro nefita naquele tempo? A resposta é que talvez eles o tenham feito. Infelizmente, com respeito a este período de tempo da história nefita, as 116 páginas manuscritas relacionadas com a parte mais secular das placas maiores foram perdidas. O único registro que nós temos são das placas menores, que se referem mais ao "ministério e profecias" (1 Néfi 19:4). Mas até mesmo o registro destas placas faz alusão à "expansão" tanto dos nefitas quanto dos lamanitas. Entretanto, concernente ao resumo das placas maiores que nós temos, enquanto por um lado as evidências internas do Livro de Mórmon apóiam a idéia de que as terras nefitas se estendiam até a costa a oeste, por outro lado nós descobrimos que (1) os mantenedores dos registros nefitas estavam primariamente preocupados em registrar somente a história nefita; e (2) Mórmon e Moroni aparentemente apenas se preocuparam em incluir em seus resumo aquela parte da história que se relacionasse com os propósitos do Senhor.

Clark declara:

O ultimo dos reis jareditas, Coriântumr, cuidadosamente preparou um registro em pedra de seu status e descendência real (Ômni 1:20-22), o que é claramente um hábito tipicamente mesoamericano, para que ele a tenha feito. Enquanto Stela 5 não pode ser seu registro (a geografia e a época governante não era a mesma), ela pode enquadrar-se dentro da tradição geral da arte e governo que terminou oficialmente com a morte de Coriântumr, mas que pode ter persistido entre os mulequitas até um pouco mais tarde na forma de mitos, elementos artísticos e outros padrões culturais  todos da mesma época do apogeu de Izapa e ainda além. (p. 33)

Resposta: Clark dá ao leitor uma referência textual, entretanto não há citação para que o leitor acesse a interpretação de Clark. Portanto, eu citarei estes versículos para que o leitor possa não somente acessar essa interpretação, mas também a minha explicação a respeito delas.

E aconteceu que, durante os dias de Mosias, levaram-lhe uma grande pedra com gravações; e ele interpretou as gravações pelo dom e poder de Deus. E relatavam a história de certo Coriântumr e a matança de seu povo. E Coriântumr fora descoberto pelo povo de Zaraenla; e habitara com eles pelo espaço de nove luas. Continham também algumas palavras a respeito de seus pais. E seus primeiros pais tinham vindo da torre, na ocasião em que o Senhor confundira a língua do povo; e a severidade do Senhor caíra sobre eles, de acordo com seus juízos, que são justos; e seus ossos estão espalhados na terra do norte. (Ômni 1:20-22)

Até onde estes versículos se referem, em vez de focalizar-se na "descendência real", como Clark o teria feito, eu procuro focalizar na idéia de que um rei nefita e homem de Deus foi capaz de dar uma interpretação "pelo dom e poder de Deus" ao monumento jaredita; e que este monumento esculpido presumivelmente não foi entendido pelo povo de Zaraenla, pois, como nós vimos, os mulequitas  foram pesadamente influenciados pelo idioma e pela cultura jaredita. Por que o povo de Zaraenla não foi capaz de entender o monumento jaredita a respeito de si mesmos? Uma possível resposta é aludida em alguns comentários de Garth Norman:

Em um senso mais rígido, a escultura de Izapa não é arte, mas linguagem, porque ela foi criada para ser lida. Nós tendemos a pensar que para realmente entender uma linguagem escrita nós temos que ter um manuscrito das palavras para poder traduzir, assim poderíamos ficar sabendo as palavras atuais dos textos, então saberíamos o que elas estariam dizendo... O que não é o caso de Izapa.

Assim, a pedra de Coriântumr pode ter sido um dos seus símbolos, não palavras. Além disso, a verdadeira mensagem destes símbolos pode ter sido um "mistério" que só pode ser entendido "pelo dom e poder de Deus". A respeito de que este monumento testifica? Ele testifica que "… a severidade do Senhor caíra sobre eles, de acordo com seus juízos, que são justos; e seus ossos estão espalhados na terra do norte..." (Ômni 1:22) Esta é a linguagem do convênio e implica em que os jareditas, e mais especialmente Coriântumr e sua família, haviam rejeitado a Jesus Cristo e seu plano de salvação (Éter12:1 - 22; 15:1-4). Agora eu pergunto ao leitor se os monumentos de Izapa, especialmente Stela 5, podem ser estudados de maneira similar. Em outras palavras, Stela 5 contém uma mensagem simbólica "oculta" a respeito de Jesus Cristo e do plano de salvação? Apesar de que a resposta completa a esta questão possa não ser encontrada no escopo deste documento, eu posso dizer aqui que um conceito como este não poderia existir sem que estivesse apoiado no texto do Livro de Mórmon.

Conclusão

Em resumo, eu acredito que foi mostrado aqui que o texto do Livro de Mórmon pode razoavelmente ser interpretado como um apoio à idéia de que Izapa, uma cidade costeira na Mesoamérica, pode não apenas ter sido uma cidade do Livro de Mórmon entre os anos de 300 a 50 a.C., mas também uma cidade que esteve sob influência nefita, bem como a influência mulequita-jaredita e lamanita. Eu também mostrei que o texto apóia a idéia de que os nefitas (e até certo ponto os lamanitas) na época do desenvolvimento de Izapa poderiam ter conhecimento do sonho de Lei. Aos argumentos de Cark de que uma "definitiva" não-correlação entre Izapa e a geografia netita não vai a lugar nenhum, e eu diria que estou desapontado com sua apresentação. Eu espero que possa ter mostrado ao leitor que a despeito do suposto serviço de Clark, ele consistentemente exagera seu caso e não apresenta documentos de suas fontes relativas à geografia, de tal modo a deixar o leitor (que não desconfia de nada) com uma visão muito parcial, se não incorreta. Assim, o que Clark chama de "serviço" realmente não pode ser considerado um serviço ao leitor. "Questões relevantes" requerem lógica relevante, e Clark falhou em todas as simples instâncias em prover tal lógica. O triste resultado é que Clark não comunicou uma bela e razoável apresentação da geografia do Livro de Mórmon relativa a Izapa, e seu método defeituoso, lógica parcial e aparente falta de conhecimento relativo às possibilidades geográficas e cronológicas "internas" do texto do Livro de Mórmon, são inteiramente culposos. Nas palavras de John Locke, "Aquele cujo consentimento vai além das próprias evidências, deve este excesso ao seu apego à intenção de prejudicar e, com efeito, o possui... declarando assim que não é a nenhuma evidência que ele busca, mas o prazer da opinião da qual ele está apaixonado". (John Locke (1632-1704) 

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