S. Kent Brown
Titular do Departamento de Estudos Antigos, BYU
www.nephiproject.com
Tradutor Elson Carlos Ferreira, Curitiba/Brasil - Dez/2003
dejerusalemasamericas@gmail.com
Néfi escreveu que seu sogro, Ismael, foi enterrado em "Nahom". Autores S.U.D. tem sugerido que "Nahom" podeter sido um lugar no Yemen chamado Nehem (ou NHM). Críticos atacaram este argumento e o Professor Brown respondeu a este ataque com o estudo abaixo. Agradecemos a Kent Brown por nos permitir publicar seu estudo.
A existência do nome NHM (tribal ou outro qualquer) tem sido atestada no Oriente desde que Carsten Niebuhr publicou seus dois estudos (a)Reisebeschreibung nach Arabien und den umliegenden Ländern que foi publicado num único volume em 1772, e (b) Beschreibung von Arabien, um trabalho em três volumes a respeito de sua expedição à Arábia (estes três volumes foram publicados sucessivamente em 1774, 1778 e 1837). Em 1792 Robert Heron publicou uma tradução em dois volumes do primeiro trabalho de Niebuhr entitulado Niebuhr’s Travels through Arabia and Other Countries in the East (Viagens de Niebuhy Através da Arábia e Outros Paízes do Oriente). Esta tradução foi publicada novamente em 1799.
O mundo de língua árabe, certamente poderia apelar a geógrafos tais como Al-Hamdn, para uma descrição da península Arábica, cujo trabalho leva o título (em árabe)Sifat Jaz§rat al-‘Arab (Al-Hamdn nasceu entre a.D. 893/AH. 280). As partes dos escritos geográficos de Al-Hamdn que sobrevivem nos tempos modernos tornaram-se disponíveis no ocidente através dos esforços de D. H. Müller no final de 1880. Al-Hamd despendeu um período de tempo no território da tribo NHM e assim conheceu-os bem, escrevendo a respeito deles freqüentemente. Mas se Joseph Smith conhecia a região destra tribo, é algo muito difícil de se afirmar (veja abaixo).
Uma equipe de arqueólogos alemães descobriu em anos recentes pelo menos dois altares de incenso finamente esculpidos com caracteres do antigo Marib, que foram doados ao templo de Bar’n por membros da tribo NHM. Cada um dos altares contém uma inscrição dedicatória do doador. Os escavadores dataram um destes altares como sendo pertencente aos séculos VII ou VI antes de Cristo, a época em que a narrativa de 1 Néfi diz que a família passou pela Arábia. Eu publiquei um pequeno trabalho sobre um desses dois altares no “Journal of Book of Mormon Studies” (Jornal de Estudos do Livro de Mórmon) (8/1 [1999]: 66-68).
NHM como nome de um “lugar” no sul da Arábia (como em 1 Ne. 16:34)
Um importante assunto a resolver é se o antigo nome da tribo NHM foi copiado de um lugar geográfico de mesmo nome. O Livro de Mórmon toca nesse assunto quando cita “o lugar chamado Nahom” (1 Ne. 16:34). Naturalmente, alguém poderia razoavelmente concordar que, se a maior das tribos NHM habitou numa certa área, eles teriam um “lugar” que recebesse o seu nome tribal, e os que não fizessem parte da tribo teriam tido conhecimento disso. Mas se o povo NHM fosse uma tribo nômade que estivesse sempre se mudando, mesmo que de forma sazonal e regular entre suas costumeiras áreas de pastagens, então se poderia esperar que os nomes conferidos por eles aos lugares pudessem não ter sido conhecidos pelas pessoas de fora da tribo.(ver Charles Doughty, Travels in Arabia Deserta, dois volumes em um, [New York, 1936], 1:88, para múltiplos nomes de lugares, um conferido por pessoas locais e outro por viajantes).
Mas os trabalhos de Christian Robin, ambos sobre antigos nomes tribais que são notados em inscrições, e no relacionamento destes nomes a locais geográficos, indicam que o nome tribal NHM (e outros) tem se referido basicamente aos mesmos lugares desde que apareceram inicialmente em inscrições no primeiro milênio antes de Cristo. (Les Hautes-Terres du Nord-Yemen avant l’Islam I: Recherches sur la geographie tribale et religieuse de awl~n Qu~‘a et du pays de Hamd~n [Istanbul: Nederlands historisch-archaeologisch Instituut, 1982], 27, 72-74).
Sob a luz deste entendimento, podemos razoavelmente certificar-nos por antigas fontes, de que o lugar chamado NHM existiu no sul da Arábia, muito possivelmente perto do ano 600 a.C. Além do mais, com base nos dois altares da idade do ferro encontrados em Marib confirmando a existência do nome tribal de NHM, que depois foi conhecido apenas muito mais tarde nas fontes árabes, meu ponto de vista é de que podemos confiar nos escritores árabes (Al-Hamd~n) quando dizem que o povo NHM e seu território (isto é, seu lugar) eram muito antigos e bem estabelecidos.
• O significado de NHM em Hebreu
Já que Nahom é um dos poucos nomes de lugares que aparecem na narrativa da viagem de Néfi, e desde que outros nomes de lugar na narrativa de Néfi tem significados que Leí e/ou outro membros da comitiva lhes conferiram (por exemplo, o Vale de Lemuel, o Rio Laman, Abundância, Irreantum), parece que uma pessoa estaria justificada em explorar o significado no nome Nahom no idioma de Néfi, o Hebreu, neste contexto, mesmo apesar de o nome (em qualquer forma que ele possa ter existido no dialeto local) ser anterior à chegada da comitiva de Leí. A voz passiva “era chamado” em 1 Néfi 16:34 indica seu caráter pré-existente. A única exceção, ao que parece, é o nome de Shazer, cujo significado aos membros da comitiva de Lei não é determinado ou declarado (1 Ne. 16:13).
• Proposta ligação entre NHM no sul da Arábia e Nahom da narrativa de Néfi
Para os que acreditam que a narrativa de Néfi é autenticamente antiga, a possibilidade de uma conexão entre a área da tribo NHM no sul da Arábia e Nahom da narrativa de Néfi, é algo em que se pode acreditar. Para aqueles que não acreditam que a narrativa de 1 Néfi seja autêntica, voltemos a um registro escrito no início do século VI a.C.
Ao meu ver, este é um assunto de aceitação inicial. Já que eu acredito que os registros de 1 Néfi são autênticos e oferecem um "instantâneo" da vida na Arábia antiga, eu aceito igualmente uma semelhança entre a área da tribo NHM e Nahom citado por Néfi. Minhas razões são apresentadas num breve artigo no “Journal of Book of Mormon Studies” (8/1 [1999]). Eu apresento abaixo o que escrevi naquela ocasião.
• Facilidade de acesso aos livros e mapas da Arábia que menciona NHM
Vários aspectos deverão ser encarados por um pesquisador que procura saber da disponibilidade de livros e mapas ao jovem Joseph Smith que possam possivelmente ter influenciado sua visão com respeito à antiga Arábia.
(A) Esta é a questão da influência de tais fontes sobre famílias que viviam em áreas fronteiriças ao norte dos Estados Unidos no início do século IXI. Parece-me que este tipo de assunto é extremamente difícil de se medir sem que o pesquisador tenha acesso ao grande número de diários pessoais e similares que anotem tanto o interesse pessoal em lugares remotos como a Arábia, como o tipo de livros que essas pessoas consultavam.
(B) A mais difícil questão a se descobrir é que obras podem ter influenciado o jovem Joseph Smith. Porque dentro das fontes preservadas que tratam de sua juventude, há este pequeno mas precioso indicativo de quais obras além da Bíblia, influenciaram seu pensamento; o pesquisador pode encarar um dever desafiador:
Este último desafio consiste em pelo menos duas questões.
(1) Joseph Smith era inclinado aos livros? Isto é, era ele uma pessoa que lia quando tinha chances de ler? Em seu próprio registro, ele diz que ele não era “familiarizado com homens e coisas” e que era “forçado pela necessidade de obter escasso sustento pelo trabalho diário” (Joseph Smith–History 1:8, 23). Em outro lugar Joseph escreveu que seu pai “requeria os esforços de todos os que fossem capazes de oferecer qualquer assistência para o sustento da família, portanto nós nos privamos do benefício de uma educação suficiente para dizer que eu fui meramente instruído na leitura e escrita e noções básicas da aritmética que constituía todo a minha aquisição de conhecimento literária” (D.C. Jessee, Editor, Papers of Joseph Smith [1989], vol. 1, p. 5). Um segundo registro vem de sua mãe, que escreveu que seu filho Joseph Smith era “muito menos inclinado ao uso dos livros do que todo o restante dos nossos filhos”. Eu entendo sua declaração como significando que Joseph não era uma pessoa que lia muito. (History of Joseph Smith by His Mother Lucy Mack Smith, Edited by P. Nibley [1958], p. 82). Tais anotações de Joseph Smith e de sua mãe, que o conhecia bem em sua juventude, aponta para o fato de que o jovem Joseph era uma pessoa com uma intensa curiosidade, que ele satisfazia apelando para os livros.
2) Uma outra questão concernente à facilidade de acesso a fontes escritas, digo à livraria local. Um assistente e eu pesquisamos sobre todas as obras conhecidas que podiam ter estado na coleção da Biblioteca Pública de Manchester antes do ano de 1830, um recurso que poderia ter estado disponível a Joseph Smith em sua adolescência e pouco mais tarde. Nenhuma das obras que se afirma tratar do antigo Oriente poderia ter dado a ele boa informação sobre a Arábia antiga. Em nossa revisão não encontramos nada que contenha alguma ligação com a narrativa de 1 Néfi. O único recurso onde o jovem Joseph poderia possivelmente obter ajuda era o Colégio Dartmouth. Como a maioria de nós sabe, a família Smith viveu em Lebanon, New Hampshire, desde 1811 até o fim de 1813, antes de mudar-se de volta para Vermont. A casa onde a família Smith vivia em Lebanon era bem abaixo da estrada que vinha do Colégio Dartmouth. Aqui há dois problemas que o pesquisador deve superar ao determinar se nesses anos Joseph Smith possa ter colocado suas mãos em obras tais como a tradução em inglês da descrição da Arábia feita por Carsten Niebuhr ou o mapa de Jean-Baptiste D’Anville entitulado Orbis Veteribus Notus, ou mesmo a tradução em inglês da Historia Natural de Pliny, ou a História do Declínio e Queda do Império Romano de Gibbon, todos eles tratando da antiga Arábia de uma maneira ou outra.
(1) A primeira preocupação é quanto à data de aquisição destas obras pela biblioteca de Dartmouth, ou por outra biblioteca maior nos Estados Unidos. No caso da tradução em dois volumes por Robert Heronase da obra de Niebuhr, que foi publicado em 1792, a data de aquisição da livraria de Dartmouth é 1937, mais de 140 anos depois da sua publicação. Um exemplo de uma segunda livraria leva ao mesmo ponto. A Biblioteca do Congresso somente adquiriu o conjunto de dois volumes em 1951. Desse modo, fica claro que no caso do Colégio Dartmouth, esta obra não estava disponível em sua livraria quando a família Smith viveu na cidade de Lebanon, New Hampshire. Assim, penso eu, ninguém pode chegar à conclusão positiva de que possa ter havido alguma influência de tais obras sobre Joseph Smith. (Nós também temos em mente que Joseph Smith tinha apenas cinco anos de idade quando sua família mudou-se para Lebanon, New Hampshire, e não tinha chegado ao seu oitavo aniversário quando sua família mudou-se para Vermont).
(2) Mesmo se — hipoteticamente — tais recursos estivessem disponíveis na biblioteca de Dartmouth antes de 1810, o pesquisador teria que determinar quando o jovem Joseph Smith poderia possivelmente ter despendido tempo suficiente lá para ganhar informações que bastassem a respeito da antiga Arábia. Devemos lembrar que Joseph Smith ficou seriamente doente em Lebanon no início do ano de 1813, logo depois de completar sete anos de idade, e ficou incapaz de andar normalmente por vários meses, depois do que seguiu-se uma cirurgia de remoção de um osso de sua perna. À luz do que expomos acima, o pesquisador teria que considerar Joseph Smith um leitor alfabetizado quando estava na idade de alguém que estaria cursando a primeira ou segunda série, sem falar no fato de que este era o período quando, se ele estivesse bem de saúde o suficiente, seu pai precisaria dele para o trabalho na fazenda que a família havia arrendado em Lebanon.Sob esta luz, parece impossível sustentar a hipótese de que qualquer fonte literária que trata da Arábia, e particularmente de NHM, influenciasse o bem jovem Joseph Smith, ou fosse consultada por ele. É possível que obras que tratam da Arábia de uma maneira ou outra, poderiam ter estado disponíveis em livrarias nos Estados Unidos. Mas, demonstrando que Joseph Smith nunca visitou tais instituições ou mesmo conheceu as livrarias proprietárias dessas obras, ficamos aguardando o que mais o moderno pesquisador pode nos mostrar.
De maneira similar, a hipótese de que Joseph Smith teve acesso a uma biblioteca particular que continha obras a respeito da Arábia antiga, é impossível que seja comprovada.
3) Outro assunto relacionado ao tratado acima se refere ao método adotado ao se lidar com as similaridades que aparecem em materiais escritos, se há alguma conexão aparente ou não. No caso que está diante de nós, se o pesquisador deseja argüir se Joseph Smith teve acesso a materiais escritos a respeito da Arábia tal como a página inicial do capítulo 50 da obra de Edward Gibbon sobre a queda do Império Romano, o pesquisador deve estar desejoso de ir adiante das questões meramente aparentes, ou similaridades superciciais. No caso de Gibbon, ele depende de fontes clássicas para sua descrição da Arábia. Tanto Gibbon quanto sua fonte (isto é, Strabo, Diodorus Siculus, Pliny o Velho) estão interessados em certas questões que se referem a suas situações históricas e culturais. Por exemplo, Diodorus focalizou as plantas aromáticas que os árabes cultivavam (II. 49; III.46). O interesse de Pliny era tais plantas. (Natural History XII.24, 29-41). Seguindo essas fontes, Gibbon também escreveu sobre esse tema. Mas a narrativa de 1 Néfi não faz conexão com esse aspecto da Arábia que é a característica proeminente das fontes de Gibbon. Ao meu ver, se uma pessoa deseja mostrar conexões, ela também deve explicar as áreas de desconexão a fim de fazer o caso tomar sentido. Ao meu ver, as discrepâncias substancialmente tem muito mais peso que as similaridades quando alguém começa a comparar 1 Néfi com as fontes clássicas que têm sido apresentadas pelos estudos da era moderna.
• Ligação de NHM com o Oriente
Há um outro aspecto que alguém poderia adicionar ao assunto NHM. Ele concerne à informação de Néfi de que “viajamos sempre para o leste", seguindo os eventos ocorridos em Nahom (1 Ne. 17:1). Esta informação geográfica é uma das poucas na narrativa de Néfi e convida-nos ao exame. Pode-se observar que ao norte de Marib, a antiga capital de Sabaean, no sul do reino da Arábia, quase toda estrada vai para leste, na direção norte-sul da trilha do incenso. Além do mais, o desvio ocidental que existe, em geral é área não foi habitada pela tribo NHM, (acrescento que concordo que a comitiva de Leí estivesse seguindo a trilha do incenso porque os poços de água estavam localizados mais ou menos em intervalos regulares ao longo dessa rota). Este ponto de vista poderia encaixar-se mais naturalmente com a observação no Livro de Mórmon de que a comitiva de Leí viajava geralmente na direção sul-sudeste, uma observação que confere com a trilha do incenso [1 Ne. 16:13-14, 33].)
Uma questão importante é se Joseph Smith poderia ter aprendido a respeito deste desvio oriental na mencionada trilha do incenso. Tão longe quanto fui capaz de descobrir, nenhuma fonte escrita, clássica ou contemporânea, menciona isto. Em meu ponto de vista, portanto, somente uma pessoa que tenha viajado perto ou ao longo dessa trilha, poderia saber que ela virava ao leste nesta área. Para confirmar, a maior “perna” da trilha do incenso corre basicamente a norte-sul ao longo do planalto (oeste), ao lado das montanhas de Al-Sar~t da Arábia Oriental (do norte, a trilha vai na direção sul-sudeste, como Néfi diz). Mas depois de passar por Najran (moderna Ukhdãd, Arábia Saudita), tanto a trilha quanto os vários atalhos ao leste levam a Shabwah, então o centro principal das caravanas que vão para o sul da Arábia. Uma ponta da trilha continuava, ao sul de Aden, mas o tráfico ao longo desta parte era muito menor que aquele que vinha e ia para Shabwah. As outras trilhas e atalhos correm a leste, encaixando-se com a descrição de Néfi, porque os poços ficavam lá, e porque Shabwah controlava o mais fino incenso da Arábia que vinha de Oman, a oeste. Esta área geral é o único lugar ao longo da trilha do incenso onde o tráfico corre de leste a oeste. Desse modo, até que outras evidências apareçam, eu concluo que nem Joseph Smith nem ninguém em sua sociedade sabia a respeito desta particularidade na trilha do incenso que a narrativa de 1 Néfi apresenta.
Para ver os mapas que apresentam os atalhos da trilha que leva a Shabwah, consulte Pierre Robert Baduel [ed.], L’Arabie antique de Karib’îl à Mahomet: Nouvelles données sur l’histoire des Arabes grâce aux inscriptions. La Revue du Monde Musulman et de la Méditerranée, no. 61 [1991-3], map 1; and Nigel Groom, Frankincense and Myrrh [London: Longman Group Ltd., 1981], 167, 192.) — S. Kent Brown - February 23, 2001.
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